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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

"Porque voto na Dilma, do PT, e não na Luciana, do meu PSOL"

Justificar o voto em um partido que não é o principal em sua preferência é uma das mais difíceis tarefas a se executar. Por conta disso, é preciso trabalhar seriamente o arcabouço teórico-empírico de que se dispõe, bem como se ancorar em dados que ajudem a fugir do lugar comum oferecido pela opinião publicada dos grandes meios de comunicação, sempre ávidos por transformar suas ideias particulares em opinião pública.

O partido que mais fala ao meu coração e ideologia política é o PSOL, mas, apesar disso, não é o partido que recebe meus votos em se tratando de eleições majoritárias. A justificativa é simples: ao contrário do que pretende o arcabouço da teoria marxiana, o PSOL não consegue dialogar com as grandes massas, público do qual se pretende inveterado defensor, mas apenas com uma elite intelectual de esquerda, que, sejamos francos, não decide eleição alguma. Infelizmente, quase nada do discurso do meu partido consegue entrar na cabeça do eleitor médio, sobretudo o mais pobre, que é quem, ao fim e ao cabo, decide uma eleição.

Prova disso é que pesquisa recente do Instituto Datafolha mostra que apenas 4% da população brasileira se consideram de esquerda, ficando os que se consideram de direita com 11% e o grande grupo, aquele que de fato decide uma eleição, com 85% de eleitores, os quais se encontram num espectro que contempla as chamadas centro-direita e centro-esquerda, lugar de um discurso que, para o PSOL, já é "totalmente cooptado pelo grande capital". Assim, sem conseguir falar às massas, o PSOL tem, como fundamental papel, a oposição responsável que uma democracia em aperfeiçoamento precisa ter. Afinal, ter como oposição partidos como o DEM e o PSDB é como ouvir palavras contrárias da parte do próprio inventor do discurso agora confrontado.

Em termos empíricos, por outro lado, é importante focar a postura dos grandes bancos e da grande mídia em relação ao PT, o que, por si só, já justifica a situação de tal partido como progressista e mais atrelada às questões dos menos favorecidos, dado que é justamente contra isso que o capital financeiro e os mais fortes meios de comunicação se têm colocado. Para além disso, também é importante lançar luz sobre o alcance de políticas públicas que, embora ainda careçam de aperfeiçoamento na gestão, têm conseguido tirar um imenso contingente de brasileiros da pobreza extrema, com contrapartida na escolarização e manutenção em dia da vacinação das crianças brasileiras (Bolsa-Família), bem como conseguido dar resposta à carência em relação aos cuidados médicos mais básicos (Mais Médicos), ajudando ainda na realização do sonho da casa própria (Minha Casa Minha Vida) e fomentando a conquista do ensino superior, tão importante para a inserção no mercado de trabalho e na tão comentada e desejada cidadania plena (Prouni).

Considerando, então, que o PSOL não fala às massas e será sempre mais importante como detentor de cadeiras na Câmara e no Senado, apresentando-se como o mais relevante partido de oposição do país, e considerando também que a candidatura de Marina Silva representa (ainda que como abortivo, já que o plano de Eduardo Campos lhe foi "oferecido" como um "presente de grego") a vontade dos bancos, do agronegócio (contra tudo o que ela sempre pregou, enquanto ambientalista) e de uma visão extremamente conservadora da vida (temendo a retórica reacionária da ameaça dos Silas Malafaias da vida), estar ao lado dos menos favorecidos e dos que mais precisam de políticas públicas é sinônimo de referendar a candidatura de Dilma Rousseff, para quem meu voto vai se direcionar nos dois turnos que virão. E, se meus irmãos evangélicos me perguntarem sobre minha postura de ignorar as candidaturas do Pastor Everaldo e da irmã Marina, só terei uma resposta: não sou crente o suficiente para votar em "Deus".


liberdade, beleza e Graça...

7 comentários:

Julio Neto disse...

Bom texto!

Quézia disse...

Texto bem relevante! Mas, acho que não precisa achar que, os que votam nos candidatos cristãos, estão "votando em Deus"... É apenas uma tentativa de colocar na liderança pessoas com princípios bíblicos. Repito, apenas uma tentativa. E que Deus os oriente!

Cleinton disse...

"Votar em Deus", Quézia, é uma metáfora apenas. Mas, analisando o que fazem e pensam os que se dizem "com princípios bíblicos" na Câmara e no Senado, é melhor não tentarmos o que você propõe. Eu continuo a afirmar, pelo que vejo e leio; Deus nos livre de uma liderança evangélica! Os evangélicos que temos no Congresso e na Câmara, infelizmente, me fazem pensar assim. Um abraço fraterno.

Quézia disse...

Sim, confesso que está complicado de todas as formas, mas prefiro orar para que Deus mova o coração daqueles que já "pertencem" a Ele por acreditar que isso seja mais "fácil" do que continuar numa política que prometeu tanto e, como as outras e provavelmente continuará assim, fez pouco. Abraço!

Cleinton disse...

Fez pouco, não, Quézia. É porque você não é pobre. Para quem mais precisa, fez muito! E mesmo com uma mídia contrária! Tenho os dados e vivo as experiências. Podemos conversar mais depois. Um abraço.

Unknown disse...

Votei em Marina no primeiro turno não pelo fator de ser Cristão, mas por que achava que se ela ganhasse excerceria uma boa presidência tenho salvo em meu tablet os seis eixos de como seria sua forma de governo caso tivesse sido eleita mas não aconteceu, agora confesso que estou em dúvida entre o Aécio e Dilma mas olhando para o lado de atender a população acho que a Dilma está muito a frente do seu adversários. Bom espero acabar com essa dúvida logo e que aquele que ganhar governe o nosso Brasil com Honra, Transparência e Vigor.

Gleydson de Melo Piedade disse...

Maravilhoso! Adorei o texto Professor. Meus parabéns! Forte abraço!