Pouco se discute democracia no Brasil, pelo menos conceitualmente. Infelizmente, são poucas as pessoas que entendem democracia para além do conhecido modelo de governo que preza pelo voto universal e pela atenção à escolha da maioria. Mas é interessante lembrar que, nascida na Grécia Antiga, a ideia de governo do "demos" (o povo) não era nem de longe o que se pensa e experimenta hoje em dia, pois naquela época a democracia era assim chamada, mas não aceitava o direito de todos votarem, já que poucos eram considerados cidadãos, título dado àqueles que tinham direito ao voto, algo que só proprietários de terras e de escravos experimentavam.
A democracia, então, é uma ideia que sempre esteve em processo de desenvolvimento ou, como querem alguns, aperfeiçoamento. Deste modo, o conceito está cada vez mais distante da simplificada ideia de sufrágio universal e da escolha da maioria, já que o mesmo cada vez mais ganha novas facetas, incluindo ideias como a participação de todos - incluindo as mulheres, que nem sempre votaram - bem como a ideia de alternância no poder, o direito ao arrependimento pela escolha feita, os direitos das minorias e os chamados direitos difusos, que são aqueles que ultrapassam a esfera individual e que, por isso mesmo, são mais difíceis de ser mensurados, já que abarcam temas como o direito de respirar ar puro, o direito a um meio ambiente equilibrado etc.
No intuito de aperfeiçoar a democracia, uma das ideias é a já citada alternância no poder. É saudável para o aperfeiçoamento deste que é chamado de "o modelo de governo menos pior" a troca de governantes, já que a perpetuação de um partido ou líder no poder pode levar - e isso constantemente aconteceu na história - a uma ditadura, eivada de autoritarismos, totalitarismos etc. A alternância no poder, então, é benéfica, pois ficam os partidos da oposição no papel de fiscalizar o que está no poder, prestando um relevante serviço à população, o "demos votante", que sempre precisará de quem o defenda de possíveis tiranias.
No caso do Brasil redemocratizado, todavia, o papel da oposição sempre foi permeado pela influência daquele que é chamado de "o quarto poder", a saber, a mídia. Posicionando-se num espaço conservador, já que quem detém o poder sempre desejará conversá-lo, não permitindo que outros possam também chegar a possuir, a mídia brasileira - pelo menos os grandes e mais conhecidos meios de comunicação - transformou-se em uma espécie de partido político, pautando o que deve e o que não deve acontecer, bem como lançando os vieses que mais lhes interessam, "trabalhando as informações" que devem chegar à população.
Portanto, a preciosa ideia de alternância no poder, uma das bases para o aperfeiçoamento da democracia, perde força, já que a mídia, comportando-se não como um canal isento de informações, mas como um partido conservador, transforma tal ideia em algo extremamente obsoleto. Exemplo clássico disso é a atual omissão de notícias positivas sobre a situação da candidata Dilma Rousseff, a quem só é dado espaço midiático quando a notícia lhe é desfavorável, acontecendo justamente o contrário com o candidato preferido pela mídia e pelo mercado financeiro, Aécio Neves (para mais informações, sugiro o acesso ao "Manchetômetro", do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, um importante instrumento para a evitação de tal manipulação midiática).
No intuito, pois, de buscar a fiscalização e o acompanhamento das atividades do governo, a fim de que suas posturas sejam de perto monitoradas, se torna mais lógica e democrática uma continuidade da gestão Dilma Rousseff, já que dela a grande mídia se tornou uma atenta fiscal (o que é bom, pois sem isso não se prende os corruptos e nem se fomenta a luta por melhorias, algo que os partidos de oposição não têm conseguido fazer). A fim de se buscar confirmação para tal tese, é muitíssimo interessante perceber a grande mídia se postando como adversária ferrenha de Dilma, o que poderá ser referendado pelas excelentes e democráticas contribuições do "Manchetômetro". Por tudo isso, então, se a mídia é de direita e conservadora, o partido a governar tem de ser de esquerda e progressista - valendo o mesmo para a relação mídia de esquerda/governo de direita - o que contribuirá muito mais para o aperfeiçoamento daquele que ainda é o melhor sistema de governo, a saber, a democracia. Eu voto 13.
liberdade, beleza e Graça...
7 comentários:
Acho justo a questão da "alternância de poder", porém sem a manipulação errada da mídia. O certo, e é o que sempre digo nas redes sociais, é o estudo dos candidatos e partidos a ponto de aproximarem do que cada pessoa acredita ser o melhor para a nação. O grande problema é a falta de interesse em fazer isso e a grande "facilidade" em ler os números das pesquisas e ir pela "maioria". Obrigada pela reflexão. Beijo Cleinton!
Gosto da sua paixão, mesmo educada e contida, neste texto. Vou de 13 também... não compartilho do mesmo sentimento, mas acho mais conveniente pro povo em geral. Aécio never!! Gde abraço.
A esquerda que sempre reclamou da censura no governo militar quer de alguma forma engessar a mídia, aliás, já tem dado mostras de que quer mesmo enquadra-la, Rachel Sheherazade que o diga. Por isso este tipo de discurso me assusta.
Para a mídia conservadora, já há bastante mídia esquerdista também. Eu mesmo leio lá e cá e aprendi a tirar minhas conclusões.
A grande mídia é conservadora, Auli. Respeito sua posição, mas discordo sobre censura da parte do governo. A censura aconteceu e acontece de forma ditatorial em Minas, com vários jornalistas, e ninguém fala nada na grande mídia. Você, que lê de tudo, também não fala disso. Basta ver a capa da (não) "Veja" essa semana e a da "Isto (não) É". É propaganda descarada para o Aécio, como sempre fizeram esses meios desonestos. Uma mídia que esconde as falcatruas de um grupo e só mostra as do outro não pode ser levada a sério, Auli. Um juiz proibiu de se citar os nomes do líderes do PSDB envolvidos no escândalo da Petrobrás. Só liberam o nome de um morto. A corrupção surgiu no Brasil na era Lula. Não existia antes, com certeza. A ideia de que se pode fazer "jornalismo" como tem feio o Alexandre Garcia, que hoje no rádio afirmou "domingo vamos dar uma resposta na urna", não pode ser chamada de algo que mereça respeito. Lutar contra a censura numa ditadura é uma coisa; ter toda a liberdade e usar isso para espalhar notícias falsas é outra. A pesquisa da Isto É/Sensus já foi comprovada como mentirosa. Já foi mostrado que foi feita pegando um número muito superior de eleitores nas cidades onde o Aécio venceu com grande vantagem, deixando um contingente bem pequeno de cidades onde a Dilma venceu. Resultado: Aécio apareceu 17 pontos na frente, sendo que a realidade é de empate técnico. Não vou levar a sério o que esses "meios de comunicação" dizem e vou comemorar muito a vitória da Dilma no domingo, ainda que o Aécio tenha dito que "já está eleito". Um abraço e obrigado por ler e comentar.
Obrigado professor Cleinton, tuas palavras provocam reflexão e impulsiona minha vontade de aprender. Abraço!
Pensei em votar na Dilma por ser a menos pior, mas vendo agora o ódio despejado contra ela por conta do tal "assistencialismo" aos pobres, chamados por muitos de vagabundos e aproveitadores, é que penso a boa escolha que fizemos, votando nela.
Pois é, Liana; a gente só conhece as pessoas nas grandes vitórias e, sobretudo, nas grandes derrotas delas!
Um abraço fraterno.
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