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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

"Eu não consigo respirar"

Existe uma diferença muito grande entre a resposta que é dada ao racismo vivenciado no Brasil e aquela que é oferecida pelos estadunidenses. As duas sociedades são extremamente racistas, mas cada uma se relaciona com o tema ao seu modo, o que até já fez pensar que racismo é coisa dos Estados Unidos da América do Norte, mas não da República Federativa do Brasil, sendo essa uma das mais aberrantes falácias desta república de bruzundangas.

Para se perceber o racismo brasileiro é preciso, em primeiro lugar, ser negro - de preferência preto, já que os pardos também fazem parte deste grupo. Tendo essa característica, já é possível perceber a estrutura racial brasileira sem dificuldades, uma vez que a experiência cotidiana já justifica a diferenciação no trato, nas oportunidades oferecidas e no usufruto de benesses como o acesso aos postos de liderança, à educação de qualidade e à saúde eficiente; tudo confirmado nos números oferecidos pelo Censo e analisados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas - IPEA.

Também é possível perceber o racismo brasileiro sendo uma pessoa branca, já que tal oportunidade foi oferecida a um adolescente em conflito com a lei, numa situação bastante elucidativa: justificando uma marginalidade não vivida pelos brancos, mesmo os brancos pobres, já que não se poderia mensurar a renda no episódio, uma juíza de direito brasileira, tendo diante de si um adolescente branco e de olhos claros para julgar, disse: "mas o que um rapaz branco, loiro e de olhos claros como você faz aqui?!". A pergunta da juíza se mostra, infelizmente, como simples retórica. Na cabeça dela, e na da maioria de nossa racista população, aquele lugar era para um negro; jamais para um branco. Só é "normal" um negro estar ali!

Nos Estados Unidos a coisa é mais clara. Lá, tal como cá, existe lugar e coisa de branco, bem como lugar e coisa de negro; a diferença é que o branco e o negro se assumem como diferentes na "terra da liberdade e da oportunidade". Entendem-se como diferentes, pois vivem isso, já que as abordagens policiais e as prisões contemplam muito mais os negros, assim como acontece no Brasil, só que lá eles mensuram e denunciam isso. A pobreza e a falta de oportunidades atingem mais aos negros lá, assim como acontece cá, mas na América de lá eles calculam e fazem saber disso tudo a todos.

Quando Eric Garner, um negro asmático, vendedor de cigarros, foi abordado e assassinado covardemente por um policial branco há poucos dias, um traço da sociedade estadunidense estava posto, chamando a atenção do mundo para um país que teima em querer ser exemplo de liberdade e igualdade entre os seus cidadãos. É importante notar que não se vê a situação oposta por lá; um policial negro abordando um homem branco. Isso porque lá, como cá, os postos de chefia, de melhores salários e de autoridade estão nas mãos dos brancos, ficando aos negros a tentativa de respirar em meio a um lugar que, definitivamente, parece não ter sido feito para eles. Matar asfixiado um negro desarmado, de mãos para cima, e confessando não conseguir respirar não rendeu nem o indiciamento do policial branco!

Ao presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, que, "branqueado" por uma mentira defensora de que todos são iguais perante a lei e as oportunidades naquele país, ficará sempre a condição de ver, impotente, um seu igual - em todos os sentidos - ser morto sem defesas diante das câmeras, experimentando aquele presidente a resignação de alguém que nada pode fazer, já que sua cor não consegue fazer o que conseguiu a do pastor batista Martin Luther King Júnior, que, mesmo negro em uma terra aonde os fracos não têm vez, conseguiu viver e morrer para que os negros pudessem respirar.

liberdade, beleza e Graça...