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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

domingo, 10 de junho de 2007

"O baixio das nossas coisas mais bestas"

“A Bíblia tem razão; o ser humano está apodrecendo”. Foi com essa frase na cabeça que saí do cinema após ver um dos filmes mais fortes da minha vida; “Baixio das bestas”, do cineasta pernambucano Cláudio Assis. Lembrei-me da Bíblia por conta da situação degradante do ser humano; da situação (ainda) muito humilhante da mulher; e lembrei-me também por causa das palavras e gestos de Jesus em direção à humanidade e, em especial, à mulher, oprimida desde sempre.
Contrapor o filme de Cláudio Assis à postura de Jesus foi a única saída encontrada para que o entendimento de antagonismos tão radicais se desse. No filme, Assis mostra o quanto o ser humano pode ser mau em relação ao seu igual. Na Bíblia, os gestos e as palavras de Jesus apresentam a possibilidade - creio que a mais viável - de os homens serem extremamente bons para com os seus semelhantes.
O filme é forte. Pesado. Ácido, eu diria. Mas é real. Tristemente real. Um trabalho da melhor qualidade feito por Assis, e com uma atuação magistral de Caio Blat, que conseguiu atingir a maturidade artística, em seu melhor trabalho até aqui. Por essas e por muitas outras, a película não merecia sofrer a violência de ser preterida na maioria das salas pelo tão distante de nós “Homem Aranha 3”, apesar do choque e da potência que suas cenas apresentam.
Trata-se de um filme-denúncia. É preciso entender isso. Uma película que se passa na zona da mata pernambucana e que mostra a realidade dos trabalhadores da cana-de-açúcar e dos cantadores e dançadores do maracatu.
A realidade degradante do ser humano é mostrada em relações de incesto, estupro, abuso de menores, prostituição e violência extremada contra a mulher.
A luta de classes aparece na relação dos latifundiários da cana e os outros “donos do poder” em contraposição aos oprimidos que fazem, com o melhor e o pior de si, a manutenção desse nosso triste estado de coisas.
Pensar a realidade como anacrônica, entendendo que a opressão dos indivíduos do sexo mais dócil é coisa do passado, é sair da sala afirmando que se trata apenas de mais um “filme apelativo”. O que não é uma verdade.
Aquela é a realidade de muitos cantos desse triste país que, não se importando com o sofrimento alheio, diz quase sempre: “Isso é só cinema”. Mas não é cinema. É o pior de nós. É o fim do homem. A morte dele.
As palavras de Jesus, em contrapartida, mostram a redenção da mulher, execrada no filme. Essas mesmas palavras também redimem o homem, opressor e oprimido na película. As palavras de Jesus libertam. Libertam o homem do mal. Libertam o homem do mundo. Libertam o homem de si mesmo - que é a libertação mais forte que se pode experimentar.
Para Jesus a mulher é gente. E, por incrível que possa parecer, o homem opressor, apresentado no filme de Assis, também o é. Ambos carentes de um gesto daquele que muda tudo; o Infinito Particular, o Verbo encarnado.
Esse texto não pretende muita coisa além de incentivar a visita à película de Cláudio Assis. Lembrando, é claro, que para isso três condições serão fundamentais: ter 18 anos, ter um olhar crítico sobre mais essa realidade nacional e ter estômago. Muito estômago.

liberdade, beleza e Graça...

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