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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

domingo, 10 de junho de 2007

"Parem o mundo, eu quero descer!"

Os benefícios dos avanços técnico-científicos são inegáveis. Poder falar em tempo real com alguém do outro lado do planeta realmente comove a muitos, senão a todos. Alguns louvam a tecnologia e a responsabilizam por ganhos até mesmo na esfera afetiva - com seus namoros, casamentos e afins. Todavia, a linha bastante tênue que separa o virtual do real clama por alguma atenção e, percebe-se agora, alguns preços teriam mesmo de ser cobrados por tão grandes inovações.
A pergunta que não quer calar é aquela que pretende saber se a pessoa real é aquela com a qual se convive e que se conhece desde sempre ou a apresentada pelo perfil dos orkuts da vida. Resposta sem titubeio; a do perfil é, disparada, a mais real.
Quando se começa a desvendar as “máscaras sociais”, percebe-se que o que se vê no ao vivo está muito mais distante daquilo que a pessoa realmente é do que o que se acessa virtualmente. Nos perfis virtuais a pessoa se permite ser ela mesma; fala dos sonhos, comete todos os pecados que os códigos da realidade proíbem e constrói um mundo que de fantasioso não tem quase nada.
Já afirmam muitos que as empresas têm usado os perfis virtuais para a contratação de seus funcionários. Afinal, esses poderiam - “mascarados no ao vivo” - ser mais bem analisados pelas comunidades de que participam e pelas preferências e gostos nas diferentes áreas do que em qualquer entrevista ou dinâmica de grupo.
A parte mais adoecedora do processo é a que apresenta o “novo deprimido”; um indivíduo que, quando dos momentos de abandono e carência, acessa seus scraps só para ter alguém que diga “você é lindo”; “não há ninguém assim no planeta”; “sem ti o mundo pára”. Lendo essas poucas palavras, o deprimido se vê acarinhado; visitado; cuidado; e não tão sozinho assim.
Acontece que os computadores são sempre desligados. Mas a vida continua. E a depressão, idem. A linguagem virtual “facilitou” tudo. Por que não trocar um “O que você deseja?” por um “C ké u q?”. Como conseqüência, o desempenho nas universidades. Matéria que mais reprova: Língua Portuguesa. Piadas para o Programa do Jô. Não poderia ser diferente.
E ainda tem o celular, onde as pessoas te acham em qualquer lugar. E o melhor; sem precisarem te encontrar!
Mas o mais triste mesmo é o número de “amigos” que a neomodernidade nos permite ter; alguns têm mais de 500. Outros já alcançaram o “um milhão de amigos”, do Roberto Carlos!
Triste constatação: na hora da angústia não aparece um. São virtuais demais para serem reais.
A metodologia de Jesus, que não fica ao longe analisando a lepra, mas toca o lazarento; não diz o que fazer ao cego, mas dá-lhe a visão; não indica um mega-tratamento ao surdo, mas canta-lhe uma canção que se faz ouvir; é coisa mesmo um tanto ultrapassada.
Moderno mesmo é viver uma época onde tudo tem de ser super; ultra; mega; plus. Consome-se de tudo, e da última moda. Assim, talvez se consiga viver um dia super, uma noite super, uma vida super-ficial.

liberdade, beleza e Graça...

3 comentários:

Anônimo disse...

tambem penso assim, e o escrevi, quando na adolescencia participei de um workshop de literaura em que eu era a mais pirralha da turma de pseudo intelectuais, cada figura... Esse tema me incomodava bastante e ate virou jibi ou gibi, sei lá...
guess who!!!!

Unknown disse...

Texto interessantíssimo, Cleinton! Não posso mesmo discordar do que você disse. É uma pena!

Suzana disse...

"Parem o mundo, eu quero descer!"
rs,título base!^^

Só fiquei pensando...realmente devo ter um perfil no orkut?!rss

Minha brincadeira a parte, muito bom o texto :)