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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Da popularidade inabalável do presidente Lula"

A classe intelectual brasileira, sobretudo a de oposição ao governo, não entendeu nada. Depois de toda a situação de corrupção na política nacional, da falta de crescimento econômico e da grave crise aérea, que culminou no pior desastre aéreo da história do Brasil, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue inabalável, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, do jornal Folha de S. Paulo.
Não adiantaram propagandas contrárias, arroubos oratórios do Arnaldo Jabor e discursos de cunho ético e de toda sorte, pois o presidente, apesar de tudo, segue intacto. E parece que ninguém sabe; ninguém viu; ninguém consegue explicar os porquês. É bem verdade que uma resposta, por mais bem embasada que seja, será sempre insuficiente para a explicação de tal fenômeno. Todavia, é imprescindível que ao menos se tente buscar algumas razões. A Sociologia talvez consiga dar um caminho para o início de uma boa reflexão a respeito.
O problema do Brasil é a falta de conflito. Por mais radical que esta sentença pareça, à primeira vista, o pensamento marxista, ratificado pelo sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, tem grande relevância para explicar aquilo que o Jabor e a sua turma não entendem. O país não entra em conflito por nada. Disfarça seu racismo, seu clientelismo, seu coronelismo, seu elitismo e sua extremada desigualdade atrás de um discurso falso de “nação solidária e de iguais”. A elite grita de um lado e o povo de outro. Mas tudo a uma distância que impede o conflito, que seria o que, de fato, traria a tão sonhada mudança social – por incrível que pareça –, necessária a todas as classes.
O conflito aqui defendido nada tem a ver com uma apologia à guerra ou à violência. Trata-se, porém, de uma oportunidade de se falar a verdade. A mudança de dentro para fora da estrutura, apregoada por Marx e Florestan, não seria mais do que admitir que essa "solidariedade" com “aceitação total” do status quo nada tem de real, e que se vive, em verdade, um racismo, um individualismo e uma série de outros ismos extremamente violentos em um dos países mais desiguais do mundo.
Ao contrário do que se pensa, o conflito dessas classes – a elite brasileira e a população mais pobre – não faria mais do que expor duas visões de mundo completamente diferentes, mas carentes, ambas, de uma dialética que proporcionaria uma síntese que pudesse ser um meio termo do que as duas classes têm como solicitação. Mas o conflito é recusado. E a popularidade do presidente não se abala. E a classe "superior" continua a não entender nada.
Acontece que o que vigora em uma nação é a vontade de uma sociedade inteira. Uma sociedade composta de vontades variadas, mas com algumas similaridades. É lógico que o que é similar no rico e no pobre é algo que os dois têm, e nisso, todos são iguais.
Por mais que existam alguns cérebros destacados em uma nação, o que vigora, segundo o pensamento do sociólogo alemão Georg Simmel, é aquilo que todos têm em comum. Portanto, o que caracteriza uma nação e uma vontade popular – no caso, a escolha e a popularidade de um presidente – é algo que está em um nível que todos alcançam. Seria o chamado “nivelamento por baixo”.
Partindo-se do pressuposto de que a elite não se (in)dignaria a “baixar o nível”, o conflito é evitado e fica tudo como está; sem conflito e sem mudanças, uma vez que essas só viriam com o confronto de idéias e com a renúncia de parte a parte. Mas, no nível em que isso poderia ocorrer só uma parte deseja estar.
Lula está onde está e como está por conta de uma vontade que transcende o pensamento intelectual de uma minoria. Para que de lá saia ou caia é preciso que um grito consensual aconteça. Mas o consenso, seguindo-se a tese dessa reflexão, está em um nível freqüentado apenas por uma parte. A maior parte, claro, mas, ainda assim, apenas uma parte.
Sem que a elite “baixe o nível” e faça uníssono com a classe “inferior”, abrindo espaço para o conflito benéfico e gerador de novas idéias, não haverá a tão esperada mudança da cosmovisão nacional e o barbudo do Planalto, feliz ou infelizmente, continuará inabalável e imbatível. E pouco adiantará a elite dizer "cansei". Coisas do Brasil.

liberdade, beleza e Graça...

5 comentários:

Buda Verde disse...

As teorias estão bem encaixadas para explicar o dilema.
Ilustre, um abraço!

Anônimo disse...

gostei muito da forma que foi tratada esta questão, mas em um ponto terei que comentar.
A união tem que ser geral, mas DEU A IMPRESSÂO no texto que a elite está unida entre si e desunida com o "povão", e que estes estão unidos esperando a vontade de particição da elite, mas na verdade a desunião é geral, infelizmente estamos na fase no 'cada um por si', que tem que acabar!
grande abraço!

Edemir Antunes disse...

Irmão Cleinton,
graça, paz e bem!

Parabéns pela fusão Sociologia-Teologia.

Felicidades!

Felipe Fanuel disse...

Caro Clei,

Como sempre, bastante convincente, coerente e incisivo. Só acho que o presidente, com seu governo, representa um homem mais híbrido do que partidário de uma ideologia supostamente anti-elite.

Ótimo texto, amigo!

Anônimo disse...

Cleinton,finalmente,consegui entrar
em seu blog que,por sua vez está muito bom.Nesse sentido,gostaria de lhe dar meus parebéns por esse arte,que lhe é inerente:escrever bem.
Por fim, você,com certeza,é o orgulho do Instituto de Humanidades!
Abraços!