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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 16 de maio de 2009

“A crise e a gripe midiaticamente inventadas”

Há pouco mais de seis meses estourou a bolha de uma crise econômica comparada à que apavorou o mundo a partir do final dos anos 1920. A quebra da principal bolsa de valores dos Estados Unidos da América do Norte, em 1929, foi relembrada e uma nova onda de pavor tomou conta dos cidadãos de muitas nações do planeta.
Poucos meses depois dessa péssima notícia, uma gripe, surgida no México, começa também a apavorar as nações, de forma a fazer com que quase nos esqueçamos da tal crise econômica semelhante àquela que tragicamente marcou os anos 1930.
A intenção não é transformar o presente texto numa “teoria da conspiração”, mas ajudar na reflexão de alguns acontecimentos que têm ganhado foco nos meios de comunicação de massa, em detrimento de outros que, pelo que podemos entender, não estão mais tão “na moda” assim.
A tese aqui defendida não diz respeito à negação da existência de uma grave crise no sistema econômico mundial, nem tampouco à ignorância da presença de uma gripe que tem de fato uma força que deve preocupar aos órgãos gestores ligados à saúde. Todavia, é importante focar outros elementos e pensar acerca das motivações primeiras de várias das informações que nos visitam dia após dia, sem aquilo que quero chamar de “filtro crítico”.
A crise no sistema financeiro, sabido é, colocou muitos grandes investidores num patamar antes não pensado, gerando “novos pobres”. Fábricas fecharam, bancos quebraram - juntamente com agências que tinham a incumbência de prever os riscos de uma crise! - e uma onda de demissões em massa tomou conta das empresas estadunidenses e de outras, em várias partes desse planeta interconectado. No campo das bolsas de valores, as ações de vários segmentos foram praticamente à bancarrota, incluam-se aí as dos grandes laboratórios farmacêuticos.
Quando a crise chegou ao Brasil, várias empresas começaram a acreditar em sua força e demitiram aos borbotões. Grandes fábricas de automóveis fecharam imediatamente postos de trabalho, demitindo efetivos e temporários, sem análise crítica prévia, e justificando tais atos como “ordens da matriz, pois a crise é sem precedentes”. Porém, dois meses depois faltou carro no mercado e foi necessário recontratar pessoal! A crise era crise, mas não era crise. Parecia até que poderia ser mesmo chamada de uma “marolinha”. A ideia da crise, ao fim e ao cabo, não havia colado em terras tupiniquins. Pelo menos não como queriam os meios de comunicação.
A gripe suína, por seu turno, não é algo de responsabilidade mexicana, mas de grandes companhias alimentícias estadunidenses que, seguindo a praxe do capitalismo tardio, transferiu a parte suja do movimento para a periferia do capital, recebendo apenas os lucros da empreitada. A doença e os riscos todos ficam mesmo com o México, fortalecendo a lógica capitalista selvagem da precarização das condições de trabalho na periferia do processo, para favorecer a manutenção dos ganhos, que são direcionados para o financiamento dos custos sociais apenas nos países centrais dessa lógica maquiavélica de mercado. Só que as pessoas viajam, é claro. E os mexicanos viajaram. E quem esteve pelo México também teria de voltar para casa.
Parece coincidência, mas ao mesmo tempo em que os noticiários fazem grande alarde sobre os oito casos (já tratados!) da tal gripe no Brasil, os grandes laboratórios têm suas ações nas bolsas catapultadas às nuvens. A crise, para alguns, começa, pois, a se resolver. Bastou inventar e convencer com aquilo que quero chamar de uma “boa doença”. Grande e sinistra ideia.
O grande problema é que, ao mesmo tempo, 40 casos de morte por dengue, somente no estado da Bahia, não conseguiram chamar a atenção, como foi possível com os oito casos já medicados e solucionados da tal “gripe do porco”.
No final das contas, só posso dizer: a crise econômica chegou aqui, sim, mas, por causa do descaso das nossas autoridades, morreu logo na chegada, ainda na Bahia. E, é claro, de dengue.

liberdade, beleza e Graça...

Um comentário:

BRUNA disse...

Como sempre, você merece ser parabenizado por mais este texto que você escreve!!! É real que a mídia e os meios de comunicação têm, desde sempre,feito alarde com determinadas notícias, que na maior parte das vezes não chega de fato as proporções imaginárias lançadas sobre o povo, em detrimento da valorização de assuntos importantes que acontecem todos os dias e que as pessoas nem ficam sabendo.
Eu nem sou a melhor pessoa pra ficar falando da população que não acompanha de perto a realidde do mundo...eu na minha vidinha quase nada corrida nunca tenho nem tempo e nem animo pra chegar em casa e ainda fazer reflexões sobre as tendencias politicas e economicas...assumo que estou errada!!! Mas mesmo na minha alienação ainda tenho o privilégio do acesso a uma educação que está um pouco acima da realidade da nossa população brasileira...Fico imaginando se um dia teremos uma educação melhor no nosso país, educação que dê autonomia para as pessoas pensarem por elas mesmas e julgarem as coisas que assistem na televisão e que veêm nos jornais.
Quem tem poder sempre vai querer dominar, quem tiver chance sempre tentará manipular o povo, "injetar" uma verdade na cabeça das pessoas e fazer com que elas vivam isso. A solução não é dizer que essas pessoas são do "mal", mas sim batalhar para que as pessoas, a população tenha condições de julgarem aquilo que veêm!!!
Abraço e sucesso cada vez maior em cada texto que escreve =)