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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

"Instalações poéticas"

Bonitinha on the rocks

A atitude de ir ao cinema é contratempo, quase sempre um problema
Adolescente enche o saco e rouba o tempo que você não tem
Mas à tarde, até que vale a pena, sobretudo se do lado tem pequena
Olho pra tela, olho pra ela, e é amável esse vai-vem

E é assim que aparece o motivo da prece
Trocam telefone, melhor se conhecem
Essa mulher já leu de tudo e isso eu nunca vi
É fonte de inspiração, toque no coração
Nova promessa, vida em comunhão
Sem elogios, pra vaidade da cabeça dela não subir

Ficando dias sem ligar; inventou “fui viajar”, um recadinho só pra consolar
Mas de otário, eu lhe garanto, a bonitinha não me vai fazer
Não disputo em relação, também não brigo, não
Mas impropérios lançarei em sua direção
Não quero amor, agora é ódio; saca só, aqui vai seu cachê

A verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José *
E vendo Kubrick** aprendi como fugir dessa situação

Você pensa que sabe tudo, então
Eu vou provar que tudo isso é ilusão
Já leu o Poe, os Beatnicks, Ettore Scola no cinema vê
Mas isso tudo não emociona a mim
Verborragia de intelecto sem fim
Não valorizo e quase sempre eu escarro
Só pra me entreter

E é assim é que eu sigo; que eu paro, que eu brigo
Mesmo desprovido, não temo o perigo
Me moldo pra um dia eu ter um real valor
“Mas se isso não te interessa, pra quê tanta pressa?
Não enxergue em mim uma nova promessa
Namore com outra, ou com outro, seja o que for”

No Brasil tudo é assim; não sobrou nada pra mim
É ditadura do PU***, televisão do início ao fim
Nas bibliotecas já tem teia de aranha para o Guinness Book
Não há canção que dê mais jeito; não surtem mais efeito
Autoridade indiferente, gente chula, novo pleito
Até o dia em que deixar de ser Brasil esse país do truque

E a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação

Você pega o carro do papai
Não interessa, você não diz pra onde vai
“Vidro fumê, não uso cinto e a 200 ninguém vai pegar
E, se pega, não dá complicação
Tenho direito de andar na contramão
Papai juiz, manda chofer, três empregados só pra me livrar

E é assim que tem de ser, não sei se vou crescer
Não enche o saco, não se mete; essa vida não é pra você
Fica na sua e desse jeito eu sei que o bicho não lhe vai pegar
Quando o cara é vacilão, não anda comigo, não
Fica pra trás e eu sigo logo, mudando de direção
Ouvindo Zeppelin, com um beck bem daqueles, só pra relaxar”

Mas a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação


* São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, cidade de minha infância e adolescência.
** Stanley Kubrick, genial cineasta estadunidense.
*** Pensamento único.


(Instalação poética composta em homenagem a Flávia Paes Barreto, uma amiga muito inteligente, produtora cultural, que sumiu e nunca mais deu as caras. Essa é a história, poetizada, de como nos conhecemos).

liberdade, beleza e Graça...

2 comentários:

Felipe Fanuel disse...

Caríssimo amigo,

Acabei de sair de uma aula de literatura inglesa. Vejo que a poesia não acabou com W. B. Yeats, T. S. Eliot e Dylan Thomas, apesar de que depois de vultos como esses, temos a impressão de que não é mais possível escrever em versos. Eles e muitos outros já escreveram o suficiente para a eternidade. Mas obrigado pela coragem de encarar o verso como uma forma autêntica de expressão. Isso é sagrado, acontece, irrompe. Não tem como controlar. O máximo que podemos fazer é se deixar levar pela violência artística que nos toma de tal maneira que somos obrigados a servi-la.

Um grande abraço.

Fabiana Graziola disse...

Homenagem docemente amarga, mas enfim ... uma homenagem.