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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 18 de julho de 2009

“A morte do diploma, o Twitter e o fim dos jornalistas sem crítica”

No último dia 30 de abril foi revogada a Lei de Imprensa, nº 5.250, de 1967. Já no mês passado, o Superior Tribunal Federal extinguiu a obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da função de jornalista no Brasil. Várias empresas de comunicação vibraram, entendendo nisso tudo a “vitória da liberdade de expressão”. Mas será mesmo?
Embora pareçam ser muito positivas, as duas decisões da justiça brasileira precisam ser problematizadas e olhadas por um viés mais crítico. Isso porque, ao derrubarem a Lei 5.250, não só os cidadãos ficaram totalmente vulneráveis aos desmandos dos meios de comunicação, como esses mesmos meios ficaram sujeitos a intervenções jurídicas de toda natureza. Prova disso é que a justiça do Rio de Janeiro acaba de proibir o jornalista José Simão, do jornal Folha de S. Paulo, de citar o nome da modelo e atriz Juliana Paes. Se o jornalista desobedecer, terá de pagar 10 mil reais por cada citação do nome da atriz. Ao brincar que a atriz “não é nada casta”, comparando-a à sua personagem indiana na novela, o jornalista foi enquadrado por um juiz carioca. José Simão se sentiu, segundo suas próprias palavras, “vítima de vergonhosa censura”. A atriz e o jornalista se dizem extremamente ofendidos. A razão, com quem estaria?
Embora fosse fruto de um período ditatorial, a Lei de Imprensa tinha uma função e poderia nos dar agora uma resposta. Não poderá mais. Os fãs da atriz ficam com ela, os leitores do jornalista ficam com ele, e ninguém fica satisfeito, pois não há mesmo como ficar. E a justiça, já chamada de morosa por muitos, acaba por ter de solucionar querelas como essa.
A ausência de uma lei que regulamente a imprensa e defenda cidadão e jornalismo, provavelmente vai fazer falta. Não sei, porém, se o mesmo se dará com o diploma de jornalista, embora me preocupem algumas ações já tomadas desde que a obrigatoriedade caiu. Já existem, por exemplo, instituições oferecendo cursos rápidos de jornalismo pela bagatela de 40 reais (um curso completo, não a mensalidade!).
Por outro lado, agora temos o Twitter, uma nova maneira de comunicação que está “acabando de matar os jornalistas”. Vários assuntos já estão vindo ao nosso conhecimento sem terem a imprensa como intermediária. Parlamentares britânicos já se utilizam do novo sistema de comunicação para dar uma satisfação aos seus eleitores, e até para oferecer números de certas votações (tudo sem passar pela imprensa). Ficamos sabendo da demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo pela própria “mão dele”. Ficamos sabendo que o Palmeiras não acertou com o técnico Muricy Ramalho também pelo Twitter do presidente do clube, e “sem imprensa no meio”. Positivo ou negativo? É de se pensar bem.
No caso do diploma, tendo a relativizar a questão, pois conheço jornalistas antigos, sem qualquer formação na área, que dão um baile em boa parte dos jovens jornalistas diplomados, que são praticamente analfabetos funcionais, e não sabem nem escrever em língua portuguesa (os revisores sabem do que falo). Não vou, pois, “exigir” diploma dos velhinhos.
Com o tal Twitter, e com todo mundo podendo ser jornalista e escrever sobre tudo e todos, e sem qualquer lei para regulamentar, o jornalismo será uma nova profissão. Continuaremos a ter muitos analfabetos diplomados a invadir nossas vidas com asneiras e sensacionalismos, é claro, mas confesso que me agradará mais, visto que agora será preciso crítica mesmo, pois não se tratará mais de uma simples busca pela informação – uma vez que já a teremos antes mesmo do oferecimento dos analfabetos funcionais da imprensa –, mas da busca por uma informação depurada e criticada. Pelo menos eu espero assim, como sociólogo que sou.

liberdade, beleza e Graça...

6 comentários:

Juliana disse...

é, meu amigo. se o jornalismo será uma nova profissão, podemos dizer entao, que a busca por uma informação autêntica e suscinta, será bem desafiadora, não é mesmo? acho que posso dizer com todas as letras "será coisa pra Ninja"(rsrsrsrs).porém, lamentável para uma grande maioria de brasileiros que infelizmente possuem a informação somente através desses meios de comunicação. Mas, o que ainda é de "pirar", é que chamam isso de "vitória da liberdade de expressão". imagine só, se com diplomas, já tínhamos aos "borbotôes" os chamados "analfabetos diplomados", o que é que teremos e, ou do que chamaremos essa nova geração jornalística??
eu, hein...

Unknown disse...

O Brasil é o país que mais tem leis no mundo e agora nao tem nenhuma para o jornalismo! Sem dúvida uma Lei formada durante a ditadura tem as suas imperfeições, contudo, ficarmos sem uma Lei para tal atividade, de suma importância é negligencia de mais. Espero que este vazio jurídico seja em breve preenchido pelo nosso Congresso.

Felipe Fanuel disse...

Eu ainda não havia lido este seu artigo.

Confesso que sou a favor de não se exigir diploma para jornalista, porque abre oportunidade para pessoas com formação em outras áreas que queiram exercer o ofício. Além disso, a gente sabe que faculdade não forma um profissional por completo.

Outra coisa. Entrei no Twitter no início do ano, a convite de uma amiga blogueira. E gostei. Considero-o uma ferramenta bastante útil para conhecer outras pessoas e se fazer conhecido. Se adicionar boas fontes, é possível se informar sobre assuntos de última hora, descobrir curiosidades, e ter acesso a outras fontes de conhecimento. Toda semana sai pelo menos alguma novidade no jornal sobre esse microblog. Vale a pena conferir! (Se já estiver lá, me adicione)

Cleinton disse...

grande fanuel.
confesso que ter um email, um celular e um blog já me toma muito do tempo que eu queria usar noutras coisas. assim, não vou entrar nessa de twitter, não, amigo. rsrsrsrsrsrsrsr
abraço, cara.

liberdade, beleza e Graça...

Aline Daniele disse...

Tb não havia lido esse texto ainda, mas vou ponderar em alguns pontos..

Com certeza absoluta não é o diploma que faz o jornalista, nem o jornalismo de qualidade. Até porque temos profissionais formados que se esqueceram, há muitos anos, que sua maior função é gerar informação com qualidade e fidelidade. Sinceramente não acredito que o diploma fará a diferença, pois já não faz. No entanto é necessário haver devidas regulamentações e ética sempre!

Cursos rápidos, sequenciais, de pouco conteúdo já existem, independente da revogação. Creio que isto pode acelerar o aumento desses cursos, mas não foi o que os gerou. Essa problemática possui uma esfera muito maior, que merece atenção.

Acho que não devemos apedrejar o Twitter da forma como foi feita. Não é ele que está “acabando de matar os jornalistas”. A globalização, a internet e a facilidade de acesso à informação gerou benefícios e malefícios. Esses sim são os fatores culpados das notícias virem sem qualquer conteúdo e muitas vezes sem veracidade. Hoje temos a notícia em tempo real e achamos isso fantástico. Mas sinceramente, que jornalista é capaz de tecer uma boa opinião, de juntar informações e compor uma boa notícia em tempo real??? Não culpemos programas, sites, páginas..enfim! Há um culpado maior: nós consumidores, leitores, cidadãos que optamos por esse tipo de notícia e informação ao invés da boa qualidade jornalística. O twitter possibilita profissionais se fazerem conhecidos, divulga arte, cria espaços virtuais de troca, mas também pode agregar valores ruins. Cabe a nós termos dicernimento. A wikipédia poderia ser um invento melhor se as pessoas que ali colocassem informações tivessem compromisso com seu conteúdo. Poderíamos ter criado uma biblioteca completa e bem democrática por ser de graça, mas não é isso que acontece. A wikipédia é a vilã da história?Creio que não!

é importante ter cuidado Clei, pois vc tb exerce aqui uma certa veia jornalística, mesmo sem possuir formação, através de uma ferramenta que funciona de forma semelhante ao site que está criticando. Os blog's tb podem ser utilizados de forma equivocada, o que sei que não é o seu caso.

Abraços

Aline

Cleinton disse...

o "acabando de matar os jornalistas" foi colocado entre aspas, xu! isso tem um sentido.
Não foi feita qualquer crítica ao Twitter, pelo contrário, repare bem.
outra coisa, não há crítica a qualquer tipo de síte aqui!
sim, talvez eu use a "veia jornalística" neste espaço. todavia, é importante notar que a busca pela crítica não falta nesses textos. não é informação sem buscar reflexão!
eu nunca escrevo sem uma boa pesquisa antes, amiga.
eu falo e elogio os jornalistas sérios, repare isso. minha crítica ferrenha vai noutra direção.
mas, de toda sorte, muito obrigado pelas palavras. beijo carinhoso.

liberdade, beleza e Graça...