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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

“A crise econômica e um neokeynesianismo possível”

A crise econômica que atualmente abala todo o mundo, após ter surgido nos Estados Unidos, está sendo comparada à grande crise surgida em 1929. Guardadas as devidas proporções, elas realmente se identificam. Porém, é preciso diferenciá-las onde isso é evidente e buscar saídas como as que funcionaram na década de 1930.
A grande diferenciação diz respeito à natureza das duas crises. Em 1929, a crise foi por excesso de oferta. A atual crise, começada em 2008, é uma crise de confiança na capacidade de pagamentos, restringindo posteriormente o crédito.
O economista John Maynard Keynes foi o grande pensador da crise naquele contexto depressivo nos anos 1930. Keynes contrariou a Lei de Say (“a oferta gera a sua própria demanda”), estabelecendo a demanda como geradora de oferta.
Para corroborar sua tese, Keynes apresentou um fator não levado em consideração até então; a expectativa dos atores econômicos. Por tal pensar, foi possível verificar que as “profecias”, em se tratando de expectativas econômicas, sempre se auto-cumprirão. Desse modo, ao se pensar que a situação será pior no futuro, e se externar tal crença e expectativa, a situação realmente piora, tendo em vista o fato de os demandantes não consumirem o suficiente, gerando com isso um ciclo recessivo, com demissões e menor produção.
A tendência à recessão tomou a todos, mas não atingiu a URSS daqueles anos. Observando isso, Keynes propôs uma intervenção estatal – negando a lógica smithiana e clássica de mercado onipotente e livre para tudo –, e defendendo que se o Estado interviesse, controlando o mercado e passando a gastar mais, os empresários produziriam para dar conta de tal demanda, admitiriam mais funcionários, voltando esses trabalhadores a consumir, ratificando o que foi chamado de “multiplicador keynesiano".
É sabido por muitos que o Estado interveio, universalizando (estatizando!) muitos serviços e, de fato, tirando os Estados Unidos daquela terrível crise, instituindo posteriormente os que vieram a ser chamados de "anos de ouro".
Porém, tal postura intervencionista - contrária ao liberalismo vigente na época -, com o tempo, mostrou-se também esgotada, pois o Estado ficou "inchado" e "pesado", oferecendo serviços de qualidade cada vez pior, e admitindo também grande margem para a corrupção. Mesmo assim, conseguiu responder positivamente em um momento de grave crise, além de ter possibilitado ganhos para os trabalhadores, através de um corpo de leis trabalhistas bastante relevante e uma política muito importante na área do bem-estar social, conhecida como welfare state.
No atual sistema econômico, depois de as instituições terem feito e acontecido numa política neoliberal tipo laissez-faire ("o mercado pode tudo"), que acabou por gerar verdadeiros cassinos irresponsáveis na economia mundial, parece ser a hora de uma nova intervenção estatal séria; um possível neokeynesianismo. A palavra estatização, tida como proibida por muito tempo, pois remetia ao "fantasma comunista", parece que voltará à moda com força e apoio. E, é certo, ninguém vai reclamar, pois todo mundo está querendo uma "doaçãozinha" dos governos. Quem diria...

liberdade, beleza e Graça...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

“Weber e a militarização da sociedade civil”

Uma das maiores contribuições de Max Weber à Sociologia diz respeito à análise da militarização da sociedade civil, feita por ele quando da unificação da Alemanha, no final do século XIX. Percebendo a eficiência do exército prussiano – que fora considerado superior aos exércitos francês e britânico em termos de coesão – Weber percebe uma lógica mais rigorosa nas obrigações de cada patente na cadeia de comando.
Esse modelo eficiente de gestão passa a permear a lógica das empresas e instituições da sociedade civil alemã, gerando – em nome da paz, segundo Bismarck – uma sociedade pronta para viver sem grandes conflitos e prevenindo-se da revolução.
A tal lógica militar tinha tudo para ser considerada “dura demais”, porém, Weber notou que ao perceberem que ocupavam uma posição clara e bem estabelecida na sociedade, dificilmente os trabalhadores se propunham a se revoltar contra o sistema e contra os donos do poder. Como num campo de batalha, esses “soldados” têm de obedecer mesmo sabendo que vão morrer. O pacto social, tal como no exército, tem de ser absoluto. Às vezes, o superior não tem razão, mas tem de ser obedecido. É a lógica.
O sociólogo Joseph Schumpeter defendeu que esse modelo militarizado dava mesmo lucro, pois cedeu lugar para que os investidores passassem a trabalhar com resultados mais previsíveis em longo prazo, já que não contariam com nenhuma grande insurreição da parte dos trabalhadores. O lucro não ficou para segundo plano, mas cedeu lugar a um cálculo prospectivo, muito mais lógico em um momento de investimentos em infraestrutura como a construção de ferrovias e de sistemas de transporte urbano.
É claro que podemos pensar “mas onde entra o trabalhador corroborando essa lógica?”. Não é tão difícil aceitar isso, visto que a busca de sindicatos e associações de trabalhadores era a estabilidade dos empregos, garantindo a posição dos trabalhadores.
Segundo a análise do sociólogo Richard Sennett, acerca da percepção de Weber; “O trabalhador passa a perceber sua vida como uma narrativa. Tornou-se possível definir como deveriam ser as etapas de uma carreira, relacionando um longo percurso de prestação de serviços numa empresa a passos específicos de acumulação de riquezas”. Enfim, muitos trabalhadores braçais eram então capazes de planejar a construção de suas casas, por exemplo. Em uma análise em economia política, então, Weber sustentava que o exército constitui um modelo mais lógico da modernidade que o próprio mercado!
A busca desenfreada de um emprego público – que fez surgir uma bolha de cursinhos preparatórios extremamente lucrativos em todo o país –, intentando estabilidade e manutenção de uma posição é um sintoma dessa lógica militar. A seguir-se esse modelo, continuaremos a ter uma sociedade militarizada e com indivíduos mais preocupados em manter seu posto e as ordens recebidas, sem nenhuma contestação ao estado de coisas imposto. Instituiremos o primado da voz sem vez. Seremos a “sociedade militarizada da paz”. Só que da paz sem voz. Mas paz sem voz não é paz, é medo.

liberdade, beleza e Graça...