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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

"Da greve nas universidades federais"

O presente texto bem poderia chamar-se "Porque não precisamos mais de certos jornalistas". Poderia também trazer o título "Opinião publicada não é opinião pública". A ideia era ter mesmo mais de uma possibilidade de título, assim como fazia Shakespeare com algumas de suas peças. No entanto, ficou a provocação para o corpo do texto, uma vez que o tamanho do título poderia assustar e polemizar demais a questão - já bastante polêmica - que dá razão a este escrito.

Como é sabido, as universidades e institutos federais estão em greve, num processo que já dura mais de 60 dias. Neste tempo, foram várias as tentativas de negociação, sendo que, como sempre acontece nas greves do pessoal da educação, o governo vai protelando o acordo até que a opinião pública e a opinião publicada não possam mais ficar caladas. Foi o que aconteceu; ano eleitoral, semestre de aulas praticamente perdido, mídia veiculando a torto e a direita e, enfim, proposta do governo. Embora tal processo ofereça possibilidades muitas para a crítica, o foco do presente texto está na apreensão jornalística de tal movimento grevista e de seu possível desfecho. 

Como era de se esperar de uma classe para a qual nem se precisa mais de diploma universitário, os jornalistas acorreram de forma demasiado afoita para aquela que chegou a ser chamada de "proposta definitiva" do governo. Sem material intelectual para uma contestação crítica do que recebiam, tais profissionais chegaram a veicular nos conhecidos jornalões e nas matérias das grandes redes de comunicação televisiva a "irrecusável proposta de 48% de aumento nos salários dos professores". O governo, com o apoio completamente acrítico da classe jornalística da grande mídia, passa agora a posar de mocinho, num acordo que só não seria aceito por bandidos, já que a "definitiva proposta" pareceu, à maioria absoluta, irrecusável em todos os seus aspectos.

Acontece, porém, que, se bem feitos, os cálculos da "proposta irrecusável" trazem retrocesso e perdas salariais, ao invés do tal ganho de quase 50%. Sim, se atentar-se para a realidade da proposta, ver-se-á que o fato de se ignorar a inflação do período até 2015 - dando um aumento sobre o salário bruto dos professores - faz com que não se tenha ganhos, mas perdas, num processo que poderá fazer a classe docente universitária ganhar em três anos até 11% menos do que ganha hoje! Sem atentar para simples cálculos matemáticos, os jornalistas acríticos correram para noticiar uma proposta que "só não seria aceita por quem quer tumultuar", esquecendo-se de fazer as simples contas que os fariam perceber que o maquiavelismo do governo brasileiro faz inveja a muitos dos ridículos tiranos, ditadores na antiga América católica.

O governo federal diz que "a proposta é um marco na negociação com a classe docente universitária", mas qualquer indivíduo atento pode ver que se trata de mais uma falácia de um ministério que afirma categoricamente não poder comprometer 4 bilhões de reais com a educação pública, mas que gasta - em subsídios e renúncia fiscal - comprometedores 15 bilhões com universidades privadas! 

Portanto, se a grande mídia continuar no processo de perpetuação do crime de transformar opinião publicada em opinião pública, não demorará muito para que as casas dos bandidos professores - "que só tumultuam e não aceitam o que todo mundo teria a obrigação de aceitar" - sejam queimadas por uma população "muito bem informada", inconformada com "um bando de vagabundos que não quer trabalhar!".

liberdade, beleza e Graça...

2 comentários:

Will disse...

Concordo sobre as inúmeras tentativas de jornalistas de impor a própria opinião ao invés de informar. Já vi em noticiário esportivo, político, de tudo quanto é tipo. Em alguns casos, quando o tem, eles rasgam o diploma quando, ao invés de noticiar, manipulam a noticia tentando levar o entrevistado para o que quer ouvir. Tem que se filtrar, mas nem todos conseguiram fazer isso.

Sempre digo que gosto muito do Twitter, é uma ferramenta incrível. Exatamente por me permitir ter acesso ao assunto da noticia sem intermediários. Sem manipulação ou filtro ou editor ou edição.

Sobre tudo o que vc disse, é muito verdade e também antigo, né? Só que a gente nunca vai ver isso na TV. A ditadura não tinha acabado?

Uma coisa mais recente que me incomoda enormemente. As olimpíadas vão começar e a Globo não fala uma palavra só porque não tem direitos de transmissão. Negócios vem antes da informação! Para a Globo, que o esporte brasileiro se exploda. Se ela nao tiver direitos nao interessa.

Gosto de estar BEM informado com o que me interessa... Deixa eu voltar pro meu Twitter... :)

Liana disse...

Dá pra desconfiar mesmo da ênfase que certos jornais dão a certas noticias. Informações superficiais que deixam a população contra aqueles que deveríamos apoiar, como você diz no texto. Esse jogo de manipulação é covarde demais. Quando conseguiremos ter realmente opinião?! Estou tentando e aprendendo que primeiro passo pra isso é desconfiar das informações, das opiniões e até das soluções! rs.