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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

"Toda Teologia é uma Antropologia"

Se existe uma formação que sempre terá problemas para se estabelecer academicamente, essa é a formação em Teologia. São vários os problemas que perpassam essa cadeira acadêmica, a começar pela etimologia da palavra. Sim, para começo de conversa, temos de iniciar esta provocação com uma construção lógica: quem busca a logia (reflexão, conhecimento) do socius, estuda Sociologia. Quem busca a logia do antropós, estuda Antropologia, quem busca a logia da psiquê, estuda Psicologia, quem busca a logia das palavras, estuda a Filologia, e assim por diante. Seguindo-se esse lógica, chegamos ao primeiro problema provocado por este texto: quem estuda Teologia, busca a logia do Theós, o conhecimento de Deus?

Embora a Teologia queira se estabelecer como disciplina científica, ainda está longe de o ser. Isso porque uma ciência precisa ter objeto de análise, bem como métodos e teorias. Por conta disso, a Teologia sempre foi relegada a uma posição acadêmica menor, sendo chamada de "disciplina confessional" e não de "ciência humana". Se a busca da Teologia for pela logia do Theós, o Ministério da Educação estará com a razão, pois o estudo de Deus simplesmente não pode existir, senão numa vertente confessional religiosa.

Para que se torne ciência academicamente reconhecida, a Teologia precisa se admitir como inexistente. Sim, Teologia não existe, bem como teólogos não existem! Explico, questionando: o que tem de científico no estudo teológico? Ao "fuçar" uma grade curricular de tal curso, encontraremos as razões que justificam o presente escrito. Sendo muito honesto, todas as disciplinas de um curso de Teologia são confissões de fé dogmatizadas, ou Antropologia pura e simples, com uma pitadinha de História aqui e ali. Teologia Sistemática, por exemplo: dogma puro e total razão à veemente negação do MEC (importante lembrar que quem acaba de escrever isso é um professor de Teologia Sistemática). Hermenêutica, nada além do que uma boa Análise do Discurso (Linguística) não consiga fazer. Isso se for para buscar uma construção para além do dogma, claro, pois hermenêutica em estudos teológicos mais parece uma nova Sistemática e, consequentemente, confissão de fé.

Eliminando História (de Israel, da formação das escrituras entendidas como sagradas, ou das religiões e denominações religiosas que aparecem nos cursos), que é História mesmo, e as humanidades, como Psicologia, Sociologia e Antropologia, o que sobra que se possa chamar de teológico? Nada. Alguns poderão arguir que sobra a exegese. Bem, sejamos honestos, exegese não é Teologia, levando-se em consideração a logia do Theós; é uma metodologia de pesquisa que lança mão da Arqueologia, da História, da Sociologia, da Antropologia e dos muitos estudos da Linguística para tentar chegar o mais perto possível da intenção que um autor ou texto teve para uma específica época.

Assim, já que a Antropologia Social é uma disciplina comparativa, de base sociológica, com conceitos nucleares como estrutura social, normas, estatutos e interação social, sendo por Franz Boas dividida em quatro campos de estudos, dificilmente se poderia encontrar a Teologia fora de tal alcance acadêmico. Para Boas, a Antropologia deve ser entendida com uma "abordagem de quatro campos" que a dividem em Linguística, Antropologia Física, Arqueologia e Antropologia Cultural. Como a Teologia não consegue fugir desses quatro campos para se justificar como ciência, não resta muito a dizer, senão que toda Teologia é uma Antropologia.

Agora, se admitirmos que o que buscamos analisar não é a logia do Theós, mas os discursos e práticas de grupos sociais em relação às suas divindades (tudo sendo muito bem analisado pelas quatro abordagens da Antropologia), aí sim, estaremos num caminho que se poderá chamar de científico. E, após isso, se nos perguntarem se falar em Teologia não seria um erro semântico, diremos, na boa: "Isso é só um nick; é só um fake, afinal, estamos na era do facebook!".

liberdade, beleza e Graça... 


3 comentários:

Liana disse...

Talvez seja por isso que eu tenha gostado tanto de Antropologia.
Muito bom mesmo seu texto.

DESERTOS DA RAZÃO disse...

Bom texto. Simples, esclarecedor e divertido que tenta definir o status científico ou não da Teologia a partir dos parâmetros definidores colocados pelo Boas.
Boa amigo, abração

Isabelle Padrão disse...

Gosto d+ da Antropologia, e agora, ver uma relação com a "Teologia" é melhor ainda!