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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

“O caso Uniban e a imbecilidade de uma nação”

Ela apareceu em importantes programas de televisão, é capa de várias publicações país afora, deu entrevistas para emissoras de rádio, é tema de muitos artigos em jornais e revistas e dizem até que existe já uma sondagem das revistas masculinas Playboy e Sexy, a fim de que ela possa posar nua já no próximo número (tem de ser jogo rápido, pois a “notícia” sempre esfria).
A estudante Geisy Arruda, 20, expulsa e readmitida – por pressão de várias partes – na Uniban, alcançou os tão sonhados “15 minutos de fama” (já passaram de 15, claro, mas o construto é esse).
As informações são desencontradas. Aliás, como sempre por terras tupiniquins. Todavia, é interessante pensar nesse fato pelo que de realmente bom ele pode oferecer. Sim, existe algo bom nisso tudo. O acontecimento mostra, antes de tudo, como somos imbecis.
É claro que não foi o uso de uma simples minissaia que fez com que a jovem fosse hostilizada pelos colegas e expulsa depois do tumulto. Afinal, é possível ver o uso do mesmo tipo de vestido em outras jovens da mesma universidade. Não foi o que dizem ter sido. Na verdade, num país em que a maioria acredita piamente nas informações de seus meios de comunicação e manipulação de massas, da verdade e do fato quase sempre resta pouca coisa. Às vezes, não resta.
Tentando fazer um cálculo “por baixo”, é possível somar uma boa quantidade de dinheiro arrolado na “jogada”; para cada programa de televisão, o cachê de uma “notícia bombástica do momento” não sai por menos de 5 mil reais. Somada às entrevistas a rádios, jornais e revistas, essa grana pode se tornar bem interessante. Se uma das duas, a Playboy ou a Sexy, efetivar o convite, parece que pode rolar a bagatela de 300 mil reais, sem contar o 1 realzinho por cada revista vendida, que é um plus.
O advogado também fica feliz, pois está ganhando a notoriedade e a visibilidade nunca dantes experimentadas. No final das contas, todo mundo sai feliz (a Luciana Gimenez que o diga).
Mas pode ser que seja melhor do que falar do Iraque e do Afeganistão invadidos, não é mesmo? Melhor do que ser franco e verdadeiro, noticiando o roubo governamental de aposentados e pensionistas pelo fator previdenciário, certo? Melhor do que falar de uma tal de Maria Paraguaçu e da luta quilombola contra um racismo humilhante, correto? Melhor do que falar do que o José Serra faz com a mordaça nos funcionários públicos paulistas, não? Melhor do que continuar a falar naquela tal de reforma agrária, correto? Melhor do que insistir que o problema do país continua a ser educacional, certo? ERRADO! Está, sim, tudo errado.
Só que, apesar de tudo, e assim como a Elisa Lucinda, eu vou falar é dessas coisas outras. Mais e mais. E não vou falar de Geisy Arruda, pois dela não se precisa falar mais, visto que isso não acrescentará em nada. Vou falar é do resto e, se me perdoam o uso de uma sentença forte (mas apenas para homenagear a grande poeta Elisa Lucinda) falarei de tudo o mais, “só de sacanagem”.

Ps: Não, eu não estou falando palavrão. Vale a pena ler o poema Só de sacanagem. Acredite, é muito melhor do que qualquer “notícia bomba” que rola por aí nessas mídias manipuladas e manipuladoras.

liberdade, beleza e Graça...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

“Afinal, para quê serve Deus na terra?"

Três frases bastante fortes são atribuídas ao grande escritor russo Fiodor Dostoievski; à primeira delas - que também é atribuída a Blaise Pascal e a outros pensadores - poderíamos chamar de uma frase crédula: “Todo ser humano tem dentro de si um vazio que é do tamanho de Deus” (a ideia de preenchimento do indivíduo estaria aqui proclamada).
As duas outras sentenças, no entanto, parecem poder receber o rótulo de incrédulas: “Se Deus não existe, tudo é permitido” e “Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus; o homem inventou Deus para poder viver sem se matar”.
Baseados nestas sentenças, podemos admitir uma possibilidade de sempre ser positiva a presença de Deus na terra. Ele estaria aqui como um ethos sagrado a mostrar um parâmetro de conduta. Sendo crido, como algo íntimo e pessoal, ou mesmo sendo entendido como “invenção”, Deus seria uma peça fundamental para a refutação da tese hobbesiana de “guerra de todos contra todos”. Deus, ou a ideia dele, seria, portanto, a referência a não deixar que nos matemos uns aos outros; serviria como uma regra de conduta mínima, buscando um caráter respeitador entre os humanos.
Deus existe na terra, então, para benefício do próprio ser humano. Os que creem nele como verdade sentida, vivenciada, e como respondedor de orações, nada perdem e usufruem, segundo seus próprios depoimentos, de uma paz que só conhece quem o entende existente. Os que creem apenas numa ideia dele, como parâmetro de respeitabilidade entre os homens e mulheres, nada perdem também, pois conseguem viver num mundo onde ainda se faz possível a evitação do “ninguém é de ninguém”. Neste pensar, ninguém perde com Deus.
O único a perder com a ideia de Deus seria, então, aquele que zomba dela. Só o indivíduo que refuta tal ideia, mesmo sem refletir nos ganhos dela oriundos, sai perdendo. Só aqueles que buscam a refutação simples, no intuito nada nobre de fomentação de atitudes hostis entre iguais, perdem com isso.
A grande questão, portanto, não seria Para quê serve Deus na terra?, mas POR QUE NÃO DEUS NA TERRA? Qual seria o malefício causado pela presença crida ou pela ideia de Deus, baseado nos argumentos acima expostos?
É sabido que ideias errôneas na questão hermenêutica foram trazidas à tona por muitos homens e mulheres de pensamentos belicistas. Todavia, é também inspirador saber que a ideia de um Emanuel (Deus conosco), representada na figuração da encarnação do Verbo da vida, um jovem chamado Jesus, traria uma interpretação outra, refutando a lógica belicista de antes e incutindo amor e perdão em cada gesto humano. A partir da hermenêutica do Cristo, Deus seria a nossa referência. Deus serve na terra para referenciar.

liberdade, beleza e Graça...

(Texto escrito para ser resposta a um ateu, que fez a pergunta Afinal, para quê serve Deus na terra?, no fórum da Sepal. Foi-me feita a encomenda de uma resposta. Outros autores também estão enviando suas contribuições, e elas poderão ser vistas num único espaço, no blog de um meu grande amigo. http://www.nelsonlellis.blogspot.com/).

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Opinião pública, tiro certeiro e aplausos”

O debate acerca da existência ou não de uma opinião pública se faz bastante relevante a cada novo episódio traumático que nos chega. Não é raro lermos e ouvirmos que “a opinião pública está farta disso”; “a opinião pública não aceita mais aquilo”, e assim por diante.
Segundo o pensamento de Patrick Champagne, no entanto, o que se chama de opinião pública nada mais é do que uma opinião que foi tornada pública; uma opinião publicada. Algo que Champagne chamou – na sua excelente obra Formar opinião – de “opinião de uma elite social que frequenta as academias e os salões literários (...) uma máquina de guerra ideológica improvisada (...) uma ideologia profissional. É a opinião manifestada a respeito da política por grupos sociais restritos, cuja profissão é produzir opiniões, e que procuram entrar no jogo político, modificando-o e transfigurando suas opiniões de elites letradas em opinião universal, intemporal e anônima com valor na política”.
A partir dessa ideia de Champagne, intentamos pensar o episódio mais comentado em vários dos debates nos círculos acadêmicos brasileiros nos últimos dias: os aplausos para o policial militar que acertou na semana próxima passada um tiro na testa de um sequestrador, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
As perguntas que ficam são: O povo gosta mesmo de violência? A tortura contra os chamados bandidos é tolerada e até incentivada pela chamada opinião pública? Vale tudo na busca de segurança pública e individual? Segundo o apresentador de tevê Wagner Montes, sim. Nós, na contramão, acreditamos que não.
Pesquisas acerca das percepções da violência mostram que um mesmo grupo pode responder de forma radicalmente oposta a uma mesma questão. Especialistas em segurança pública mostraram que até a ideia favorável à pena de morte é rechaçada, a depender da forma como o réu é apresentado. Quando é apresentado como indivíduo com família; mãe, pai ou filhos pequenos, é tido como um “igual” e, portanto, “merece uma outra oportunidade”, que seria uma pena menos radical. Se for “só um número” e o foco estiver apenas na ação perpetrada por ele, tudo muda e até se radicaliza.
Outros fatores que devem ser levados em consideração são o “calor do momento” e o “efeito de multidão”, tão estudado por Gustave LeBon em Psicologia das multidões. Não é difícil entender que no calor do momento é fácil tomar uma atitude que não se tomaria após um breve tempo para reflexão. Contribuindo de maneira mais teorizada, com seu conceito de efeito de multidão, LeBon afirma que “os indivíduos em meio a uma multidão são capazes de ações deveras irracionais, que não cometeriam se estivessem sozinhos”.
Podemos ver, portanto, que a pressa na atitude de matar só fez contribuir mais para a aquisição social de novos órfãos e nova viúva. Entendemos que poderia chegar-se a uma negociação e evitar mais uma dissolução familiar, geradora de outras no futuro.
O que falta aos sensacionalistas de plantão é um pouco de sensibilidade e coragem para assumirem os riscos de se dizer que a solução não está na bala, mas no investimento em educação, associação e saúde para um sem número de “vítimas que fazem e farão vítimas”. Quem é tratado como bicho hoje, dificilmente tratará os seus iguais como gente amanhã. O mundo hobbesiano do todos contra todos, sendo um o lobo do outro, parece estar incentivado. Mas, e os aplausos? Não teria o povo gostado do grande espetáculo de horror tijucano? Não, o povo não gostou, definitivamente. Os aplausos não são os da opinião pública, são os da opinião tornada pública. O povo, na verdade, chora. Chora sem consolo. Chora de desesperança. Chora de desvontade de fazer algo. Chora de impotência. Ovelhas sem pastoreio.

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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

“A neurociência e o novo modelo de manipulação”

A obra-prima do escritor inglês Aldous Huxley, o romance "Brave New World", (Admirável Mundo Novo), foi escrita durante quatro meses no ano de 1931. Os temas de tal obra remontam grande parte das preocupações ideológicas do autor, como a liberdade individual em detrimento do autoritarismo do Estado. Assim como outro inglês, George Orwell, com o seu também excelente “Nineteen Eighty-Four” (1984), o texto de Huxley nos veio à mente após o acesso a um pequeno jornal da academia de psicologia.
Percebe-se, dando razão ao pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que, quando já se pensava que se era “dono de si” e responsável pelas próprias escolhas, eis que o “mundo admirável” de Orwell e Huxley bate às portas. Não existe essa autonomia individual que se pensava. Bourdieu, no precioso A profissão de sociólogo, já defendia tal tese.
É sabido que uma nova ciência se colocou a serviço da humanidade. A Neurociência, sem dúvida, veio mesmo para revolucionar. Muito com ela se irá aprender, assim como sempre aconteceu com as descobertas que mudaram o modus operandi das sociedades.
O motivo deste escrito, no entanto, não é construir uma apologia à nova possibilidade de conhecimento. Ao contrário, pretende-se aqui mostrar os perigos da descoberta que chega.
Segundo a pesquisadora Judy Illes, diretora do Núcleo Nacional de Neuroética, da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, a nova ciência abriu espaço para o chamado neuromarketing. O neuromarketing utiliza-se da Neurociência para estudar as respostas que os consumidores dão a certos estímulos do marketing e da propaganda.
O que mais nos chamou a atenção na pesquisa é que o neuromarketing mostrou que as imagens de produtos líderes de mercado, como o iPod, estimulam a mesma parte do cérebro que é ativada pelos símbolos religiosos! A pesquisa mostrou ainda que os alertas mostrados nos maços de cigarro nada mais fazem do que estimular o desejo, embora os fumantes afirmem o contrário. A autonomia, trazendo mais uma vez Bourdieu, não existe mesmo.
Assim, não seria mais o Estado Autoritário (preocupação de Huxley e Orwell), mas o Mercado Totalitário o que nos obrigaria a querer o que não queremos ou não precisamos.
Seria um desserviço escrevermos tal texto, no entanto, se não enfatizássemos que as mais afetadas nessa história de horror são as nossas crianças. As crianças e as pessoas presas aos mais variados vícios seriam as maiores vítimas do neuromarketing, como nem poderia deixar de ser. O grande problema é que as preocupações com o neuromarketing são apenas das empresas e conglomerados capitalistas, que não têm outro sonho, senão apelar para tudo o que faça com que se consuma mais e mais, mesmo que não se queira e nem se possa ou precise.
É esperar uma ética para o prosseguimento de tais pesquisas, ou apenas sentar, exaustos, lançando cinza e poeira sobre a cabeça, num mundo que de admirável tem quase nada.

liberdade, beleza e Graça...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

“O seu direito não pode matar o meu”

Na semana passada, a cantora Claudia Leitte foi acusada de homofobia, por conta de uma declaração acerca de Davi, seu filho recém-nascido. Ao ser questionada sobre o que achava de seu filho vir a se tornar gay no futuro, a cantora baiana afirmou: “olha, eu adoro os gays, mas quero que o meu filho seja macho”. A frase não soou bem aos ouvidos de grupos defensores dos direitos dos homossexuais e Claudia Leitte precisou desfazer o “mal entendido”, brincando até que se considera uma “traveca”.
Na mesma semana, o humorista Danilo Gentili foi acusado de racismo, pois comparou os jogadores negros de futebol com um gorila de filme, o King Kong, que, segundo Gentili, “acha que é futebolista, pois ao se dar bem na vida, logo arruma uma loira”.
Ao se pensar nas possíveis posturas homofóbica e racista de um e outro desses artistas, é preciso que se diga que eles manifestaram uma opinião pessoal. No entanto, e para não perder público e vendagem entre seus semelhantes brasileiros, um e outro precisaram se retratar, refutando a homofobia e o racismo, respectivamente.
Outro texto já foi escrito neste espaço (Do direito e da coragem de ser) para tratar da temática, mas é fundamental que uma atualização do debate se dê. Assim, o que gostaríamos de propor é que uma inversão de valores está se dando, mesmo que não seja percebida por muitos. Não se trata, porém, da “inversão” que muitos enxergam por acharem que “no passado não era assim e era melhor”. Trata-se de outro tipo de inversão.
A inversão que aqui se quer problematizar é a dos direitos civis, políticos e sociais adquiridos com o passar dos tempos. Direitos que foram conquistados a duras penas e até com perdas de vidas. Falamos aqui de uma inversão que propõe novos direitos, rechaçando outros, já antes estabelecidos. Não estamos propondo que o novo está errado e que “no passado era tudo mais belo e muito melhor”. O que estamos criticando é a versão "pós-moderna" do chamado pensamento único.
O “demônio” que se estabeleceu nos debates de direitos atualmente não é, ao fim e ao cabo, o da homofobia ou o do racismo, mas sim, o monstro do "politicamente correto".
Hoje, é politicamente correto falar que se “adora um preto ou uma preta”, mas é expressamente proibido dizer que se “prefere uma mulher branca ou um homem branco para namorar”. É também bonito e até cult dizer: “a sexualidade do meu filho ou da minha filha, mesmo querendo ser gays, é coisa para eles escolherem, pois a vida é deles”, mas será considerada uma “postura homofóbica e retrógrada” afirmar: “eu gostaria que meu filho fosse macho”, como o fez Claudia Leitte.
No final das contas, os questionamentos que se colocam para o debate são: Posso preferir uma pessoa branca? Posso preferir uma pessoa preta? Posso preferir ser homossexual? Posso preferir ser heterossexual? Tenho eu o direito de concordar que o homem nasceu para a mulher e a mulher para o homem, ou o "politicamente correto" me obriga a pensar como você? Ainda tenho direitos, ou o seu direito vai matar o meu?

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sábado, 18 de julho de 2009

“A morte do diploma, o Twitter e o fim dos jornalistas sem crítica”

No último dia 30 de abril foi revogada a Lei de Imprensa, nº 5.250, de 1967. Já no mês passado, o Superior Tribunal Federal extinguiu a obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da função de jornalista no Brasil. Várias empresas de comunicação vibraram, entendendo nisso tudo a “vitória da liberdade de expressão”. Mas será mesmo?
Embora pareçam ser muito positivas, as duas decisões da justiça brasileira precisam ser problematizadas e olhadas por um viés mais crítico. Isso porque, ao derrubarem a Lei 5.250, não só os cidadãos ficaram totalmente vulneráveis aos desmandos dos meios de comunicação, como esses mesmos meios ficaram sujeitos a intervenções jurídicas de toda natureza. Prova disso é que a justiça do Rio de Janeiro acaba de proibir o jornalista José Simão, do jornal Folha de S. Paulo, de citar o nome da modelo e atriz Juliana Paes. Se o jornalista desobedecer, terá de pagar 10 mil reais por cada citação do nome da atriz. Ao brincar que a atriz “não é nada casta”, comparando-a à sua personagem indiana na novela, o jornalista foi enquadrado por um juiz carioca. José Simão se sentiu, segundo suas próprias palavras, “vítima de vergonhosa censura”. A atriz e o jornalista se dizem extremamente ofendidos. A razão, com quem estaria?
Embora fosse fruto de um período ditatorial, a Lei de Imprensa tinha uma função e poderia nos dar agora uma resposta. Não poderá mais. Os fãs da atriz ficam com ela, os leitores do jornalista ficam com ele, e ninguém fica satisfeito, pois não há mesmo como ficar. E a justiça, já chamada de morosa por muitos, acaba por ter de solucionar querelas como essa.
A ausência de uma lei que regulamente a imprensa e defenda cidadão e jornalismo, provavelmente vai fazer falta. Não sei, porém, se o mesmo se dará com o diploma de jornalista, embora me preocupem algumas ações já tomadas desde que a obrigatoriedade caiu. Já existem, por exemplo, instituições oferecendo cursos rápidos de jornalismo pela bagatela de 40 reais (um curso completo, não a mensalidade!).
Por outro lado, agora temos o Twitter, uma nova maneira de comunicação que está “acabando de matar os jornalistas”. Vários assuntos já estão vindo ao nosso conhecimento sem terem a imprensa como intermediária. Parlamentares britânicos já se utilizam do novo sistema de comunicação para dar uma satisfação aos seus eleitores, e até para oferecer números de certas votações (tudo sem passar pela imprensa). Ficamos sabendo da demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo pela própria “mão dele”. Ficamos sabendo que o Palmeiras não acertou com o técnico Muricy Ramalho também pelo Twitter do presidente do clube, e “sem imprensa no meio”. Positivo ou negativo? É de se pensar bem.
No caso do diploma, tendo a relativizar a questão, pois conheço jornalistas antigos, sem qualquer formação na área, que dão um baile em boa parte dos jovens jornalistas diplomados, que são praticamente analfabetos funcionais, e não sabem nem escrever em língua portuguesa (os revisores sabem do que falo). Não vou, pois, “exigir” diploma dos velhinhos.
Com o tal Twitter, e com todo mundo podendo ser jornalista e escrever sobre tudo e todos, e sem qualquer lei para regulamentar, o jornalismo será uma nova profissão. Continuaremos a ter muitos analfabetos diplomados a invadir nossas vidas com asneiras e sensacionalismos, é claro, mas confesso que me agradará mais, visto que agora será preciso crítica mesmo, pois não se tratará mais de uma simples busca pela informação – uma vez que já a teremos antes mesmo do oferecimento dos analfabetos funcionais da imprensa –, mas da busca por uma informação depurada e criticada. Pelo menos eu espero assim, como sociólogo que sou.

liberdade, beleza e Graça...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

“A ditadura que pode e a ditadura que não pode”

Honduras está em polvorosa. Pessoas estão morrendo e o clima está cada vez mais beirando a uma guerra civil. O motivo, penso que todos os que leem jornais ou assistem a um simples telejornal sabem; o presidente Manuel Zelaya foi derrubado do poder no último domingo (28 de junho), em uma ação orquestrada pela Justiça e pelo Congresso, e executada por militares, que o expulsaram para a Costa Rica. O chamado golpe foi realizado horas antes do início de um referendo popular sobre uma reforma na Constituição, o que tinha sido declarado ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.
Depois de ouvir as palavras de vários chefes de Estado – dentre eles; Barack Obama, Nicolas Sarkozy e até o brasileiro Lula – e de órgãos internacionais acerca do fato, decidi inteirar-me do acontecido, pois só assim eu poderia me posicionar perante os meus oito fiéis leitores deste espaço.
Na curiosidade que sempre me foi inerente, acessei a Constituição de Honduras. Lá, encontra-se um artigo deveras esclarecedor, o 239, que assim diz: "o cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apoiem direta ou indiretamente, terão cessados de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública". A Carta chega a ser ainda mais categórica quando afirma no Artigo 4º: “A alternância no exercício da Presidência da República é obrigatória. A infração desta norma constitui delito de traição à Pátria”.
A postura de vários líderes me parecia, depois dessa leitura, uma falácia sem precedentes. Falácia contra a tão defendida “democracia”, diga-se. Pela Carta Constitucional hondurenha, não é possível reeleição e nem tentativa de reforma da Constituição Federal. Se isso viesse a acontecer, a deposição deveria ser mesmo imediata. E foi o que aconteceu.
A única coisa que faria rir (?) nesse episódio é o fato de Estados Unidos e Venezuela estarem do mesmo lado. Sim, tanto Obama quanto Chaves acreditam que Zelaya deve voltar ao poder, tentar se reeleger e mexer com o que é, lembrando Antônio Rogério Magri, um ex-ministro brasileiro, “imexível”; a Constituição Democrática de Honduras. Não se deve esquecer, também, que a ação foi uma decisão do Congresso e da Suprema Corte daquele país, baseados na Carta, e apenas com execução pelo exército, convocado para tal. Não foi, portanto, uma postura como aquelas patrocinadas pelos Estados Unidos, quando os congressos e os parlamentos nacionais eram dissolvidos!
O que se vê, portanto, é que esse "golpe" não vale; “não pode”, como diz uma comediante brasileira. Já se for como os vários golpes militares financiados pelos Estados Unidos em toda a América Latina, com dissoluções de parlamentos, muitos desaparecimentos, torturas e mortes das mais cruéis, “pode”.
Por outro lado, se acertaram na decisão baseada na Carta Magna hondurenha, erraram feio na execução. É claro que não se poderia expulsar Zelaya do próprio país e nem retirá-lo de madrugada sob a mira de grosso calibre. Tal atitude, não tem como não afirmar isso, tem característica de golpe, sim, e, sendo golpe, sou contra. Todavia, é preciso entender que democracia também se faz com alternância no poder. Assim, se a formação da Constituição Hondurenha levou em consideração a voz da população e dos grupos sociais, através de seus representantes democraticamente eleitos, seria preciso não "golpear", mas cumprir a Constituição dando direito de resposta e defesa a Zelaya, o que não aconteceu. Mas a Constituição tem sim de valer.
É preciso enfatizar, por nosso lado, que a Carta brasileira é "pró-forma", visto que vivemos de emendas e medidas provisórias. Ao fim e ao cabo, a Constituição Brasileira é um remendo só.
Sem respeitar os documentos democraticamente elaborados, a "volta dos que não foram" estará sempre às portas. O desmonte do estado previdência, perpetrado pela era FHC, está aí para comprovar. Se não fosse possível mexer na Constituição do Brasil, o pensamento neoliberal não teria feito o estrago que fez. Ou o "estrago FHC" foi algo democrático? Coisa para se pensar.

liberdade, beleza e Graça...

PS: O texto que aqui estaria seria uma homenagem ao grande artista que foi Michael Jackson. Como a política ainda me “puxa mais”, fica uma singela homenagem ao maior artista que pude ver em minha ainda pequena vida.

Jackson tantos problemas. Jackson tantos dilemas.
Jackson visões tão pequenas; só vencidas a piracemas.
Que caminhes direto na lua, traduzindo ainda em poemas
O encantar que se há de multiplicar, em nossas inesquecíveis cenas.

Jackson tantos inconformados, que contribuamos para a cura.