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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

“Caminhos da espiritualidade”

No capítulo 5 do Evangelho de São Lucas, os versos de 27 a 32 contam uma história deveras curiosa. Trata-se do chamamento de Levi, um publicano, que tinha a função de coletar impostos do povo de Israel para o império romano. Naquele contexto, Roma imperava sem concorrentes, tendo dentre os judeus alguns que lhes prestavam serviços, assumindo por conta disso um dos postos mais elevados que uma pessoa poderia alcançar, trabalhando para o imperador. Conta o texto que o Senhor Jesus passa em frente ao posto de coleta de impostos, onde Levi estava, e diz um singelo “segue-me”. O texto mostra que Levi, abandonando o seu posto e afazeres, segue-o, sem titubear um instante sequer.
O chamado de Levi é curioso porque ele não precisava atender ao que Jesus disse. Levi não era o que se poderia chamar de uma pessoa necessitada; não dependia do auxílio do Estado com qualquer política de assistência social. Pelo contrário, possuía um cargo dos mais invejados, sendo um funcionário público muito bem sucedido. Do mesmo modo, Levi não era uma pessoa iletrada, pois não seria convocado por Roma se não tivesse uma boa formação e muita informação. Esse não foi, pois, o atendimento de uma pessoa ignorante. Também mostra o texto que esse publicano não era um doente, buscando um curandeiro que lhe pudesse dar esperança, pois a saúde de Levi estava intacta. Por que então Levi, ouvindo apenas um “segue-me”, resolve atender Jesus, abandonando toda uma excelente vida?
Ao analisarmos o contexto cultural da época, dominado pela sabedoria filosófica grega, vemos que o argumento de Jesus era demasiado fraco e frágil para convencer quem quer que fosse. Ninguém deixaria um excelente posto público, uma posição social invejável até nos dias de hoje – haja vista a quantidade enorme de pessoas que têm no emprego público seu maior objetivo de vida – para seguir uma pessoa que saíra de uma cidadela que nenhuma importância tinha para a sua época. Mas Levi atendeu, e isso torna o texto bastante enigmático.
Mais enigmática ainda é a postura ulterior de tal publicano, convidando muita gente e fazendo uma grande festa em sua casa para Jesus. Na tal festividade, muitos fariseus e outros mestres da Lei disseram que Jesus estava “comendo com pecadores e gente de má fama”, mas o Senhor os surpreendeu, dizendo: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes; eu não vim para chamar os bons, mas para chamar os pecadores, a fim de que se arrependam de seus pecados”.
Aceitar o chamamento de Jesus não é, pois, coisa para pessoas que não têm o que fazer; Levi era extremamente ocupado. Não é também coisa para pessoas que, não tendo a atenção do Estado, precisam de uma assistência de quem quer que seja; Levi era muito bem sucedido. Atender Jesus não é, tampouco, coisa só para pessoas iletradas ou que tenham uma grave doença, necessitando que um santo milagreiro lhes imponha as mãos e lhes faça o que a medicina não conseguiu; Levi era bem formado e muito saudável, pelo que o texto narra. Aceitar Jesus é, antes de tudo, coisa para pecadores. Coisa para quem reconhece que já errou muito nessa vida.
Todavia, se a força argumentativa de Jesus não se mostrou convincente nesse singelo “segue-me”, o que teria convencido um alto funcionário a largar tudo e seguir o Mestre? O olhar. Sim, acredito que o olhar de Jesus em direção a Levi o fez abandonar tudo e seguir o chamado. Essa é minha tese. Foi, sim, um simples olhar.
Embora o cargo de Levi fosse muito invejado, é bom lembrar que um publicano, cobrador de impostos para Roma, era tido pelos judeus como um “traidor da pátria”, uma vez que usurpava o próprio povo, em prol de um império cruel e sanguinário. É de se imaginar que, ao pagarem seus impostos, os cidadãos do povo o encaravam com todo ódio possível. Talvez até esboçassem gestos e feições desagradáveis, após entregarem, contrariados, mais uma porção de seus rendimentos nas mãos de uma pessoa que se colocava contra a própria nação. Os publicanos eram, pois, odiados. Eram detestados e tratados como escórias, embora fossem da elite de sua época. O povo não os perdoava por conta de seus feitos.
Mas quando Jesus encarou Levi, olhou-o com um olhar de amor. Olhou-o como ninguém mais em Israel conseguira fazer. Não olhou para seus “defeitos”, mas fitou-o como que dizendo: Não importa o que você fez. Não importa o que pensam ou o que falam de ti, eu vim para que você tenha vida, e vida em abundância. Vim carregar o seu fardo que pesa, Levi. Vim para lhe dar a minha paz, que é muito mais do que a ausência de guerras e conflitos, pois é uma paz que esse mundo não conhece. Por tudo isso, segue-me, rapaz!
É com esse mesmo olhar que Jesus olha também para cada um hoje. O argumento parece demasiado frágil; apenas um “segue-me”, mas o olhar ainda é o mesmo. O olhar ainda é aquele. Seria essa a hora de atender, ou será melhor seguir ocupado demais com títulos, histórias, problemas e muitos outros afazeres?

liberdade, beleza e Graça...

7 comentários:

Unknown disse...

verdade pastor. Deus usa sim a cura e capacita seus servos para operarem milagres, mas o que salva éo olhar de amor de Cristo, seja por sinais, maravilhas, abrindo o mar ou simplesmente dizendo "segue-me". Que todos que lerem esta mensagem, independente de ja ter aceitado Cristo, escute de novo "segue-me". Irmãos a estrada continua e qé estreita. Que Deus te abençoe pastor.

Juliana disse...

Denodado Pr. Cleinton. é com muito prazer que novamente aqui estou, lendo mais um de seus brilhantes textos.E este, sem dúvida me trouxe uma alegria especial, pois além das reflexões que suas palavras sempre me causam, percebo vida nesse texto. Hoje novamente ouvi o "segue-me" do meu meigo mestre. A minha alma hoje está sedenta de Deus, e ler que Ele tem vida e a tem em abundância para mim, é a melhor notícia do dia.
É bem diferente dessa teoria do "Triunfalismo" que está cada vez mais inchando as igrejas. Você frisou bem que, a paz que Cristo tem, este mundo não a conhece, justamente por que ela não é apenas para essa vida.
Que possamos seguir à Cristo porque Ele É O VERDADEIRO CRISTO, lembrando que passaremos por momentos de alegrias e de tristezas como a própria palavra mais adiante nos relata sobre os discípulos de Jesus. Porem, nesses momentos é a hora certa de usarmos o versículo que diz "Eu tudo posso naquele que me fortalece".
Então, é isso aí paxtor!!

um grande abraço!!

Felipe Fanuel disse...

Jesus é extremamente frágil, assim como seu evangelho. Para lembrar de Filipenses 2, em Jesus, Deus está esvaziado.

Bom sermão, reverendo!

Um abraço.

Cíntia Paixão disse...

Olá Pr Cleiton!! Muito interessante o que escreveu!! Gostei muito!! Muita gente precisa refletir isso. Existe uma leitura errada sobre os que hoje seguem a Cristo. E suas observações foram ótimas para desconstruir idéias de que só seguem a Jesus pessoas pobres coitadas, analfabetas, iletradas,sofridas, etc. Poxa, gostei muito mesmo!! Posso copiar e colocar no meu blog? Hehehe..Coloco tb o nome do autor!! Claro!!

Unknown disse...

Parabéns pelo texto pr. Claiton!!!
esta reflexão é muito oportuna para os dias atuais, onde a valorização está mais no "ter" do que no "ser".Levi sendo uma pessoa altamente influente em sua época, desprende de sua posição para seguir Jesus, atitude inaceitável para a sociedade atual.Cristo, por sua vez, novamente mostra quão grande é o seu poder, capaz de alcançar a todos, sem distinção de classe social ou intelectualidade.

Pedro Vieira disse...

O jornalista francês Alphonse Karr (1808-1890) é o pouco conhecido autor de uma frase muito usada: "Os olhos são a janela da alma". Em uma carta do senador romano Públio Lentulus a César, encontrada no arquivo do Duque de Cesadini (autenticidade não comprovada), em Roma, este assim se refere ao olhar de Jesus: "(...) seu olhar é muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros, o que surpreende é que
resplandecem no seu rosto como os raios do sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante,
porque quando resplende, apavora, e quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com
gravidade
". Nos estudos do professor e físico vienense Franz Mesmer (1734-1815), essa capacidade de irradiar em torno de si energias cativantes (boas - como Jesus - ou más - como Hitler) é chamada "magnetismo humano" graças ao fato de, em contato com elas, nos sentirmos "magnetizados", atraídos. Para se ter uma idéia, um de seus discípulos, Conde de Puységur, foi o criador do que hoje chamamos de hipnotismo. Está aí: a ciência hoje estudando e descobrindo o que o Mestre já usava com maestria incomparável. Parabéns pelo artigo!. Seu amigo espírita: Pedro.

Ciência e Espiritualidade disse...

Tudo que pedirdes em oração, crendo recebereis. Eis aqui os fundamentos da Teologia Quântica, a teologia para o terceiro milênio.
A ESPIRITUALIDADE PLENA DE LUZ


A espiritualidade é uma manifestação da realidade espiritual do ser humano. A consciência espiritual começou a despertar na mente humana , já no homem de Neandertal, que enterrava seus mortos com reverência e algum ritual, por acreditar na continuação da vida espiritual.
Por paradoxal que pareça, para entendermos a espiritualidade humana é bom seguirmos os passos do progresso da ciência, que reduzindo a matéria nos seus elementos chegou à anti-matéria ou vácuo quântico, substância escura , sem massa que pervade mais de 90% do cosmo observável.É o fundo imóvel de energias em equilíbrio que quando vibra cria matéria e consciência cognitiva, é a causa em potência que se transforma em ato. "Aristóteles".
Todo o universo material, inclusive o homem, provem de um processo organizacional ascendente, da não matéria para partículas, átomos, moléculas, e células neurais.... Portanto podemos identificar essa não matéria como um oceano espiritual no qual estamos submersos e em contato permanente, célula por célula.
Interagimos constantemente com esse "Uno" espiritual através da nossa mente nos seus três níveis de consciência: espiritual, emocional e racional.
O nível racional ou consciente é o mais recente desenvolvimento dos humanos, tem sua estrutura neural no córtex cerebral com conexões em série, o pensamento é processado por ondas cerebrais que são interpretadas pelo nível espiritual.
O nível emocional ou inconsciente, instintivo nos animais, é inerente à vida em todas as suas formas, nos ser humano suas conexões neurais estão por todo o sistema nervoso em redes paralelas, seus registros são processados por ondas cerebrais que também são interpretados pelo nível espiritual.
O nível espiritual ou super-consciente é a essência do programa do ser que precede a existência, no ser humano a consciência espiritual atua na base cerebral com uma onda de 200Hz (descoberta recente) que faz a leitura das ondas do consciente e inconsciente e devolve informação com inteligência, emoção e consciência, portanto a consciência inteligível e emocional é processada no cérebro e interpretada pelo espírito.
Com o entendimento da ciência do ser espiritual, torna-se compreensível o poder da oração e da meditação, pois ambas requerem a focalização do pensamento em algum propósito, e as ondas do pensamento não precisam ganhar as alturas para chegar até Deus, pois o seu espírito está em contato conosco, célula por célula. "Vale lembrar o que foi dito hà dois milênios: "O reino de Deus está dentro de vós" ou "Deus é espírito, e importa que os que o adoram, o adorem em espírito e em verdade" ou " A verdade vos libertará".
Até agora o que foi conseguido em termos de saúde, alegria e paz de espírito por poucos pela fé, poderá ser alcançado por muitos pelo entendimento. Santo Agostinho escreveu: "Compreender para crer, crer para compreender", porque ele acreditava que não só o credo, mas também a razão aproxima o homem de Deus.
E assim a aventura humana vai chegando ao seu topo com mais compreensão e consciência espiritual.
Ivo da Silva Bitencourt 03/120/2008