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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"A Capitu de Luiz Fernando Carvalho"

Tinha tudo para ser a obra do ano em termos de teledramaturgia. Tudo parecia impagável e extremamente inovador. A leitura de tão imponente obra machadiana merecia mesmo essa enorme dose de ousadia cênica. A minissérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho beirou a perfeição, não chegando lá apenas por pecados muito ínfimos; pequenos momentos de infelicidade para um maravilhoso achado televisivo.
Os pontos positivos felizmente foram em maior número, o que é mesmo muito bom. A aposta em Michel Melamed foi o primeiro grande acerto. A capacidade ímpar de olhar nos olhos – coisa que Melamed sempre fez com maestria em seu programa na Tevê Educativa – fez desse artista uma das escolhas mais acertadas dessa produção de elenco. Melamed conseguiu ser chapliniano e machadiano ao mesmo tempo. O corpo, a voz e o expressionismo impostos pelo ator catapultaram a narração de Dom Casmurro à condição de antológica. A interpretação de Melamed só foi superada pelo brilhantismo de Antonio Karnewale que, na pele do mordomo José Dias, mostrou que existem atores que a mídia ainda não conseguirá pagar. O trabalho de Karnewale dispensa comentários, pois os adjetivos certamente faltariam. Simplesmente perfeito; disparado, o melhor presente que a minissérie Capitu nos trouxe. O trabalho de Eliane Giardini, embora muito naturalista e até "novelístico", não comprometeu o resultado final, ficando com a nota “deu pro gasto”. Fernanda Persiles, a estreante que teve a dura tarefa de interpretar a meninice de Capitolina, conseguiu passar a segurança necessária pedida pelo papel, sendo meiga e dissimulada, como exigia o texto de Machado de Assis. Não seria maldade dizer que a estreante não conseguiu ser ao menos equiparada pela atuação bastante fraca de Maria Fernanda Cândido, substituta na fase adulta da musa do bruxo do Cosme Velho. A escolha do Escobar, por outro lado, também foi um tiro certeiro, pois Pierre Bartelli conseguiu fazer o mistério do adultério ficar ainda sem qualquer solução, vivendo um misto de anjo e demônio, numa interpretação magistral. A interpretação da meninice de Bentinho não passou também do “dá para o gasto”, sem tampouco comprometer o resultado final da obra de Carvalho.
O restante do elenco, a direção de arte, o figurino, a cenografia e a música-tema de Bentinho e Capitu simplesmente embasbacaram a iniciados e a leigos. Mas o pecado, infelizmente, ainda persegue a obra de arte tupiniquim.
Depois de apostar com muita felicidade em uma espécie de ópera-rock expressionista, num cenário lúdico, que transportava o telespectador diretamente ao universo machadiano; depois de abusar da inovação, com sombras, luzes e um mar cenográfico de fazer inveja às mais caras produções estadunidenses, Luiz Fernando Carvalho “naturalizou o inaturalizável”. Não se sabe o porquê, mas a direção optou por mostrar no penúltimo capítulo um Rio de Janeiro contemporâneo, gratuitamente permeado pela música de Marcelo D2. Resolveu também “inovar” colocando headfone nos ouvidos das personagens em danças de dois séculos atrás. Menos absurdo, mas também desnecessário, foi o telefone celular colocado em cena – o que, porém, não comprometeu tanto, visto que foi nas mãos de um narrador que se quer atemporal. Se essa “naturalização” fosse minimamente cabível, seria sinal claro de que a construção da personagem Prima Justina, feita pela excelente Rita Elmôr, estaria fora do lugar, o que não aconteceu em momento algum.
Com tudo o que foi dito em elogios, essa crítica não merecia ter o parágrafo anterior. Pela beleza e sensibilidade apresentadas por Carvalho em todos os capítulos, tais “delitos” se fizeram demasiado dispensáveis. Não precisava.

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Barack Obama: a esperança venceu o medo"

Aconteceu o que não parecia possível. Depois de muitos anos de Brasil imitando o que “funcionava” nos Estados Unidos, eis que o povo estadunidense se propôs a imitar a postura tupiniquim. Não se sabe se os marqueteiros de lá entraram em contato com os de cá, mas uma mesma frase serviu para que as duas nações suplantassem antigas pré-noções e preconceitos, aceitando o “inaceitável”; um bóia-fria cá e um negro lá, à luz da sentença a esperança venceu o medo.
Uma memória minimamente saudável se lembrará que a atriz Regina Duarte apareceu no programa eleitoral gratuito se dizendo “com medo do que poderia acontecer se Luis Inácio Lula da Silva se tornasse presidente da República Federativa do Brasil”. O mesmo terrorismo eleitoral tomou conta dos Estados Unidos, uma vez que por lá surgiram insinuações de que Barack Obama seria “simpatizante de grupos terroristas mundo afora e governaria apenas para vingar o que fizeram aos negros”. Para lá e para cá, portanto, nenhuma frase seria tão forte quanto uma que mostrasse que o medo incutido nas mentes deveria ser vencido pela esperança de real mudança do status quo.
Depois de tudo o que aconteceu no governo Lula, com seus números e avanços, é de se esperar uma nova entrevista da referida atriz global. Afinal, a pergunta que não quer calar é: estaria Regina Duarte ainda tomada pelo medo aterrorizante que a acometia? Só a “namoradinha do Brasil” poderia nos responder a tal intrigante questão.
A grande verdade é que não é mais apenas com uma minoria gritando por revolução que se vai mudar o estado de coisas vigente - embora isso contribua em demasia; o que muda de fato algo na estrutura social hoje é a concessão que a maioria está disposta a fazer. Os pobres não conseguiriam eleger Lula sem o apoio dos ricos e dos donos do poder, assim como os negros não conseguiriam eleger Obama sem o apoio dos brancos e dos donos do poder.
A aposta dos donos do poder deu certo por aqui. Pelo menos é assim que pensam 70% da população brasileira, segundo pesquisa do Datafolha. A esperança é que a aposta dos estadunidenses também seja acertada, pois somos – muito infelizmente – (in)diretamente governados por eles, sendo, por causa dessa mesma lógica, a política da boa vizinhança fundamental para a seqüência do que de bom nos tem acontecido até aqui.
Sim, somos muito parecidos agora; aceitamos um pobre torneiro mecânico, oriundo do território nordestino, bem distante dos centros do poder. Eles, por sua vez, aceitaram um negro de nome deveras estranho, oriundo do Hawaí, também bem distante dos centros do poder, e até fora do seu território contínuo.
A nossa vantagem em relação a eles é que tivemos apenas de aceitar um da Silva, o que já conclama a maioria, tendo, por isso mesmo, a facilidade da identificação. Na América de lá a coisa é bem mais complicada; eles têm de aceitar um Barack (nome árabe!) Hussein (sobrenome daquele que foi o inimigo número 1 dos Estados Unidos por anos e anos!) Obama (que rima com Osama, nome do inimigo número 2 dos estadunidenses!). Seria trágico se não fosse cômico, não?
Então, retifico: não temos vantagem. A vantagem volta a ser deles, pois é preciso menos peito para aceitar um Luis Inácio Lula da Silva do que para ser governando por um “queniano” de nome Barack Hussein Obama! Vive la différence!!

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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

"A propósito das eleições, a política como vocação"

O período de eleições sempre traz uma série de dúvidas aos que têm a obrigação (ainda é obrigatório!) de escolher apenas um dentre os vários candidatos que, em pouco - ou em nada - se diferenciam uns dos outros. É difícil votar e, sendo isso um dever, eleger alguém torna-se uma tarefa ainda mais hercúlea.
Tomando as eleições municipais no Rio de Janeiro como lugar para essa reflexão, percebe-se que os eleitores têm a opção de votar na "mudança" proposta por Eduardo Paes ou na "mudança" proposta por Fernando Gabeira.
A "mudança" de um intenta dar prosseguimento a uma ordem já instituída (seguir a rota já traçada pelo Cabral Filho no governo estadual). A "mudança" do outro, por sua vez, nada mais faz do que dar prosseguimento à essa mesma ordem instituída, visto que uma aliança entre o PV e o PSDB/DEM não seria pensada - e nem aceita - pelo próprio Gabeira pouquíssimo tempo atrás.
Sendo assim, parece que o povo carioca votará por uma "mudança que não muda nada". Ou muda bem pouco, se optar-se por uma postura mais otimista.
É, pois, chegada a hora de pensar esse fato à luz de pensamentos de outrora. O sociólogo Max Weber, em um dos seus clássicos - A política como vocação -, propõe o que seria um político e uma política verdadeiramente vocacionados.
Para Weber, o político por vocação seria aquele que vivesse para a política e não da política. Um outro critério weberiano para um político por vocação seria o fato de o indivíduo ter cálculo prospectivo e senso de responsabilidade. Traduzindo em miúdos, Weber defende que um político por vocação deve tomar suas decisões pensando não apenas em seu mandato, mas em um momento em que não estaria mais nos postos de governo, inclusive responsabilizando-se pelas implicações futuras de seus atos presentes. Além disso, o político deve ter em mente um projeto que consiga ver problemas futuros e, prospectivamente, propor - já no seu mandato - as soluções mais cabíveis.
Portanto, é possível escolher o próximo prefeito do Rio, sem precisar aceitar apenas "promessas de campanha" ou "musiquinhas bonitas" de uma classe artística bem representada. A escolha, se quiser passar pelos critérios weberianos, deve levar em conta os planos de governo, a vida de cada um dos dois candidatos, o que fizeram até aqui, e o fator mentira.
Quando dizem que em pesquisa popular pelas ruas não se encontrou alguém que dissesse que o Gabeira é desonesto, lembro que também não se encontrou alguém que dissesse algo diferente acerca do Paes. Nesse critério, portanto, não os consigo diferenciar. Quanto a viver para ou da política, parece-me que ambos vivem dela; novo empate. (Será que é por isso que está tão empatada a fatura?).
As propostas de Fernando Gabeira - mesmo que sem a fundamental clareza acerca de sua execução - parecem mesmo ser prospectivamente calculadas, uma vez que ele diz que seu projeto "visa preparar o Rio para os próximos 20 anos". As de Eduardo Paes não ficam longe da prospecção aqui defendida, pois falam de obras que não se poderiam fazer em um ou dois mandatos, tais como uma série de ações que envolvem a participação estadual, como o acordo acerca das novas linhas do metrô.
O senso de responsabilidade parece também fazer parte dos dois planos de governo, uma vez que os dois candidatos defendem que poderão ser cobrados no futuro por ações que estão sendo propostas agora.
Defendo que votar no Gabeira é uma boa por um lado; já imaginou, meu caro leitor, que decepção seria um governo ruim para uma classe artística que está colocando sua cabeça a prêmio por uma pessoa que nunca ganhou uma eleição majoritária? Já imaginou como seria encarar a opinião pública após terem defendido uma criatura que não conseguiu entender a diferença entre o legislativo e o executivo? Pouca gente se arriscaria tanto, não é fato? É de se pensar, pois.
O lado ruim desse voto é a aliança que o Gabeira fez com o PSDB. Ele não pode dizer que não haverá "leilão de cargos", pois os cargos já estão comprometidos com a aliança mantenedora do status quo.
Votar no Paes é uma boa por um lado; já imaginou, meu caro leitor, que desastre seria para as ambições de Lula - que intenta uma aliança Dilma/PMDB (Cabralzinho?) para sua sucessão em 2010 -, se o governo Paes "pisasse na bola"? O "terceiro mandato" estaria ameaçado, não?
O lado ruim desse voto é saber que, enquanto se louvam o poder das UPAs, os médicos são, para o mesmo governador que as exalta, "um bando de vagabundos"!
No final das contas, temos razões para votar e não votar nos dois candidatos. Deixei, no entanto, o fator mentira para o final dessa reflexão. Porém, Max Weber não teorizou nada nesse sentido. É preciso, então, que mandemos os dois candidatos ao Programa Silvio Santos, para passarem pelo "mentirômetro". Quem conseguir enganar mais a máquina, leva a fatura. Façam as suas apostas!

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

"Da percepção da desigualdade"

A partir de um convênio entre o IUPERJ e a FAPERJ, uma relevante pesquisa de opinião popular acerca da temática da desigualdade social no Brasil foi apresentada àqueles que se mostram interessados neste que é um dos maiores problemas da nação.
Na pesquisa, percebeu-se que a mobilidade social brasileira sempre foi marcada por movimentos de curta distância, sendo a percepção desse fenômeno bastante clara para a população tupiniquim.
Tanto assim é, que a maioria dos entrevistados entende que a sorte é a principal razão pela qual as pessoas são recompensadas e ascendem socialmente. Quase 50% dos que foram ouvidos pensam assim, sendo a amostra da pesquisa bastante relevante e contempladora de todos os estados brasileiros. Apenas 25% dos entrevistados consideram que a inteligência e a qualificação contam mais, e só 20% acham que os esforços pessoais têm responsabilidade maior na ascensão social dos brasileiros.
Muito curioso é que a mesma pesquisa aponta que conhecer alguém bem posicionado é mais importante até mesmo do que nascer em uma família rica! Pode-se, com isso, apontar que a sociedade brasileira não é percebida como meritocrática, mas como um espaço onde o compadrio, o "jeitinho" e a indicação de um "peixe grande" valem muito mais para se crescer.
Apenas 4% dos ouvidos apontaram que a solução para a sociedade brasileira se tornar mais igualitária depende de um esforço que pode começar em si mesmo, isto é, na própria figura do entrevistado. A contrapartida é que 67% acreditam que a ação coletiva teria um papel importante para diminuir a desigualdade, mas, num paradoxo quase inexplicável, esses mesmos entrevistados não se entendem como atores sociais relevantes para uma real mudança na estrutura de nossa sociedade. É mais ou menos a apresentação do imbróglio "a união faz a força, mas mesmo que eu me una, não contará muita coisa".
Assim, o que fica muito claro, ao se estudar a percepção que os brasileiros têm da desigualdade social, é que vigora o que o sociólogo Albert Hirschman chama de "efeito túnel"; um indivíduo preso em um túnel congestionado de carros, percebendo que a fila ao lado começa a andar, se tranqüiliza e se enche de esperança, pois, "se os outros estão progredindo, é sinal de que lá na frente a coisa está melhorando e logo as outras filas também andarão". Para se fiar no "efeito túnel", basta que o cidadão brasileiro conheça um "sortudo que subiu rapidamente", seja com corrupção, seja com nepotismo, seja com jogos de azar.
Num país de 180 milhões de habitantes, basta que apenas um deles tire o premiado bilhete da mega-sena; isso já será razão para que o esforço pessoal, a qualificação profissional e a inteligência do cidadão de bem percam espaço para a "grande sorte" do motorista da fila ao lado. No "efeito túnel", a hora de todo mundo vai chegar, sem muito esforço! Triste país esse nosso.

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

"Algemas, fichas-sujas e Estado Democrático de Direito"

Foram motivos de escândalo para muitos brasileiros as decisões que foram o centro dos assuntos nos últimos dias, e que foram tomadas pela instância máxima da justiça de nosso país, o Supremo Tribunal Federal. As duas decisões últimas do STF coibem o uso indiscriminado de algemas em criminosos e liberam os candidatos "fichas-sujas" para participarem das próximas eleições, já que - em sua quase totalidade - tais indivíduos não foram condenados em todas as instâncias possíveis da lei brasileira. Não foi difícil ouvir da boca de muitos cidadãos indignados: "Para o pobre trabalhador, nada; para a bandidagem rica, tudo!". Até a conceituadíssima economista Míriam Leitão despejou sua indignação, na coluna que ocupa semanalmente em um importante jornal do país.
Apesar de - à primeira vista - parecer que toda razão deva ser dada aos revoltados eleitores e pessoas de bem de nossa nação, é preciso que uma reflexão mais aprofundada ganhe lugar aqui.
É sabido, lançando mão da Ciência Política, que a radicalização do princípio da igualdade colocou o Direito como foco da política e da vida social. Porém, apesar de o Direito ter invadido a esfera pública do mundo social, o mundo contemporâneo o reduziu - bem como as suas instituições - à mera função de controle social. O Direito passou, então, a ser o "lugar dos deveres". Para que se entenda a razão de tal acontecimento, é preciso refletir sobre aquilo que foi a base para a elaboração de uma série de construtos que hoje são dados como "muito naturais" e frutos de uma "evolução no pensar".
Percebendo a extremada hostilidade do mundo, tanto levando em conta a sua relação com a natureza como a relação com seus semelhantes, o homem buscou técnicas de sobrevivência e de defesa em um mundo hobbesiano do homo homini lupus (o homem é o lobo do homem). Para fugir disso, seria necessário um conjunto de regras que reduzissem os impulsos agressivos da humanidade, trazendo penas aos "desobedientes" e prêmios aos "enquadrados".
Outros pensadores contribuíram para ratificar a hipótese de Thomas Hobbes. Para Lucrécio, por exemplo, no estado de natureza os homens viviam more ferarum (como animais). Para Cícero, in agris bestiarum modo vagabantur (vagavam pelos campos como animais); em luta uns contra os outros, como queria Hobbes. A tese de John Locke, para quem "todos se encontravam em perfeita liberdade para dispor de suas posses sem pedir permissão a quem quer que seja", parece servir só mesmo para quem realmente tem as tais posses.
Num embate Hobbes/Locke, a sociedade brasileira se dividiu entre os subintegrados - para quem a justiça só serve para trazer os deveres a serem cumpridos e os sobreintegrados - para quem as instituições jurídicas só trazem direitos a serem usufruidos, já que esse grupo parece estar sempre acima dos deveres. É importante dizer, porém, que ambos os grupos estão vivendo a desigualdade social, carentes de uma das dimensões da justiça. Um não tem direito aos deveres e outro não alcança os favores dos direitos. Estão, pois, ambos, desenquadrados; desintegrados.
Sendo uma forte base para a confecção da justiça o que a hipótese hobbesiana defende, não deve ser motivo de indignação o fato de o cidadão ter agora conquistado o direito de não ser algemado, bem como o de não ser inelegível sem que todas as instâncias jurídicas sejam visitadas. Outros direitos ainda mais difusos como o de viver em um lugar sem a presença de emissão de gases poluentes ou o direito ao consumo já estão saindo da esfera da reinvindicação e, aos poucos, tornando-se direitos inalienáveis. A verdade é que a atual fase da modernidade clama por uma arena pública que traga mais direitos do que deveres, visto que Hobbes, Lucrécio e Cícero estão cada vez mais cedendo lugar a Locke, Rousseau e aos outros adeptos do homem como "bom desde o estado de natureza" e, portanto, merecedor dos mais variados direitos. A esfera pública deve, porém, estar cada vez mais atenta, pois tudo isso deve servir para todos; do Daniel Dantas ao José da Silva. É chegada, pois, a Era dos Direitos.


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quarta-feira, 30 de julho de 2008

"O que fazer com os falsos profetas?"

Não é de hoje que as declarações bombásticas tiram o sono da gente de bem. Tendo vivido infância, adolescência e juventude (atualmente) nos anos 1980, 1990 e 2000, respectivamente, sempre tive os tímpanos de menino invadidos por frases de efeito que, quase sempre, beiraram o terror. Nos tempos passados, tais declarações sempre conseguiam me convencer, sem que eu pensasse em refutá-las. Mas, pudera, um menino vai refutar o quê nesse mundo cão? Todavia, a idade vem chegando e o benefício da dúvida vem sendo trazido aos poucos. O grande Fukuyama declarou que a história acabara e eu embarquei, sem titubeio, lendo sua tese; os estadunidenses disseram que foram à lua e eu nem pisquei os olhos, acreditando de pronto; outros disseram que o petróleo acabaria em 15 anos (eu era um molecote à época) e começamos a pensar em como solucionar o problema, plantando cana-de-açúcar aos borbotões. Mais recentemente, confesso que minha postura tornou-se cética; não acreditei que o Iraque tinha armas químicas e nem como fazer a bomba de hidrogênio. Deixei de acreditar em tudo "à primeira contada"! Perdi a ingenuidade, acho. E a culpa, reconheço, é da minha falecida avó.
Dona Jacionira Rezende morreu há dois anos - contando 92 primaveras -, jurando de pé junto que "o homem nunca foi à lua, e foi tudo armação!". Por causa da postura da vózinha - como eu carinhosamente a chamava - passei a não acreditar mais em qualquer coisa sem uma prévia análise crítica. Hoje, sem medo de ser feliz, afirmo: não acredito que o homem tenha pisado em solo lunar; não acredito no fim da história; não acredito em uma só palavra do velho e do novo Bush; e, pasmem, acho que a água não vai acabar jamais! Se Adam Smith tinha razão ao dizer que havia uma "mão invisível" que comandava a economia mundial, creio que há uma "sombra especulativa" que nos quer aterrorizar com declarações que nunca serão provadas.
Pelas leis bíblicas, se uma profecia não se realizasse, o profeta teria de ser apedrejado! Portanto, é hora de correr atrás dos "profetas", pois o petróleo é descoberto a cada novo dia, a história não acabou, o Iraque não tinha armas químicas - e nem capacidade para a bombra da infâmia -, e não me convencem mais - e não apenas a mim - de que se pisou no satélite dos românticos.
Então, homens e mulheres de senso crítico, às pedras! Ops, esqueci-me de que sou pastor! Deixemos as pedras, pois. O texto vira, assim, uma homenagem à vózinha, que me ensinou a duvidar. Jacionira Rezende vive!

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segunda-feira, 30 de junho de 2008

"Os novos movimentos religiosos e a volta triunfal do maniqueísmo"

A doutrina dualista do profeta persa Manes ou Mani (séc. III AD) influenciou religiosos do Ocidente e do Oriente durante muitos anos. Até o santo Agostinho de Hipona deixou-se contagiar pela crença de que o mundo divide-se em duas instâncias, ministradas por duas entidades que duelam entre si, e em pé de igualdade; a luta entre o bem e o mal, liderada por Deus e o diabo, um de cada lado. Embora o dualismo tenha caído no esquecimento durante séculos, eis que os novos movimentos religiosos o conseguiram fazer ressuscitar, e com grande força. Mesmo sem conseguir conceituar suas práticas, ligando-as ao profeta persa dualista, os pentecostais de terceira onda (neopentecostais), adeptos da doutrina G12 - também chamada de "visão dos 12" - assumiram o dualismo maniqueísta com todo vigor e vontade.
A "vantagem" de tal postura se dá pelo fato de que o modelo de governo neopentecostal não admite a democracia; o povo não tem autonomia para votar e escolher o que fazer ou seguir, tendo o líder, extremamente carismático - no sentido weberiano -, todo o poder para decidir pelas ovelhas (nunca o termo ovelha foi tão adequado!). Se o mundo está dividido em duas esferas e uma é a do bem e a outra do mal, não há como encontrar uma postura outra; uma opção outra; "não há neutralidade", como eles mesmo gostam de afirmar.
Os pastores que proclamam tal visão, não podem jamais ser retirados de seus postos de poder, uma vez que qualquer pessoa que ousar dizer que eles estão errados, estará defendendo a causa do lado oposto, isto é, a causa do mal, do diabo. Como nenhum crente gostaria de ser reconhecido como sendo "do outro lado"...
Dia após dia vê-se pessoas massacradas por líderes carismáticos que, não querendo perder o muito dinheiro e poder que têm, expulsam todos aqueles que não aceitam as muitas manifestações de intolerância e maldade de suas práticas.
Com isso, a igreja cristã está padecendo. As ovelhas estão sem pastor, e o que se ouve nos púlpitos são mensagens prontas de auto-ajuda emocionalista, vazias de verdade bíblica.
Alguém perguntaria; "como saber se o meu pastor e igreja estão embarcando em tal doutrina herética?". A resposta não é tão difícil; basta que aquele que está preocupado com o futuro de sua comunidade de fé atente para os modelos de crescimento (eu diria "inchamento") de igreja que seu pastor resolveu adotar por conta de não ver a igreja crescer "só pregando a Bíblia". Geralmente esses modelos vêm dos Estados Unidos, depois de já terem feito um bom estrago em comunidades cristãs por lá. Os métodos estadunidenses de "crescimento de igrejas" são, em quase todos os casos, o início do fim.
Portanto, quando as leituras e as indicações de leitura do teu pastor fizerem surgir autores como Watchman Nee, Neusa Itioka, Rebbeca Brown, Benny Hinn e outros de mesma linha, fique esperto, o buraco está mais próximo do que você imagina. É entrar na "visão" e ficar ceguinho da silva!

liberdade, beleza e Graça...