No último dia 30 de abril foi revogada a Lei de Imprensa, nº 5.250, de 1967. Já no mês passado, o Superior Tribunal Federal extinguiu a obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da função de jornalista no Brasil. Várias empresas de comunicação vibraram, entendendo nisso tudo a “vitória da liberdade de expressão”. Mas será mesmo?
Embora pareçam ser muito positivas, as duas decisões da justiça brasileira precisam ser problematizadas e olhadas por um viés mais crítico. Isso porque, ao derrubarem a Lei 5.250, não só os cidadãos ficaram totalmente vulneráveis aos desmandos dos meios de comunicação, como esses mesmos meios ficaram sujeitos a intervenções jurídicas de toda natureza. Prova disso é que a justiça do Rio de Janeiro acaba de proibir o jornalista José Simão, do jornal Folha de S. Paulo, de citar o nome da modelo e atriz Juliana Paes. Se o jornalista desobedecer, terá de pagar 10 mil reais por cada citação do nome da atriz. Ao brincar que a atriz “não é nada casta”, comparando-a à sua personagem indiana na novela, o jornalista foi enquadrado por um juiz carioca. José Simão se sentiu, segundo suas próprias palavras, “vítima de vergonhosa censura”. A atriz e o jornalista se dizem extremamente ofendidos. A razão, com quem estaria?
Embora fosse fruto de um período ditatorial, a Lei de Imprensa tinha uma função e poderia nos dar agora uma resposta. Não poderá mais. Os fãs da atriz ficam com ela, os leitores do jornalista ficam com ele, e ninguém fica satisfeito, pois não há mesmo como ficar. E a justiça, já chamada de morosa por muitos, acaba por ter de solucionar querelas como essa.
A ausência de uma lei que regulamente a imprensa e defenda cidadão e jornalismo, provavelmente vai fazer falta. Não sei, porém, se o mesmo se dará com o diploma de jornalista, embora me preocupem algumas ações já tomadas desde que a obrigatoriedade caiu. Já existem, por exemplo, instituições oferecendo cursos rápidos de jornalismo pela bagatela de 40 reais (um curso completo, não a mensalidade!).
Por outro lado, agora temos o Twitter, uma nova maneira de comunicação que está “acabando de matar os jornalistas”. Vários assuntos já estão vindo ao nosso conhecimento sem terem a imprensa como intermediária. Parlamentares britânicos já se utilizam do novo sistema de comunicação para dar uma satisfação aos seus eleitores, e até para oferecer números de certas votações (tudo sem passar pela imprensa). Ficamos sabendo da demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo pela própria “mão dele”. Ficamos sabendo que o Palmeiras não acertou com o técnico Muricy Ramalho também pelo Twitter do presidente do clube, e “sem imprensa no meio”. Positivo ou negativo? É de se pensar bem.
No caso do diploma, tendo a relativizar a questão, pois conheço jornalistas antigos, sem qualquer formação na área, que dão um baile em boa parte dos jovens jornalistas diplomados, que são praticamente analfabetos funcionais, e não sabem nem escrever em língua portuguesa (os revisores sabem do que falo). Não vou, pois, “exigir” diploma dos velhinhos.
Com o tal Twitter, e com todo mundo podendo ser jornalista e escrever sobre tudo e todos, e sem qualquer lei para regulamentar, o jornalismo será uma nova profissão. Continuaremos a ter muitos analfabetos diplomados a invadir nossas vidas com asneiras e sensacionalismos, é claro, mas confesso que me agradará mais, visto que agora será preciso crítica mesmo, pois não se tratará mais de uma simples busca pela informação – uma vez que já a teremos antes mesmo do oferecimento dos analfabetos funcionais da imprensa –, mas da busca por uma informação depurada e criticada. Pelo menos eu espero assim, como sociólogo que sou.
liberdade, beleza e Graça...
Quem sou eu

- Cleinton
- Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.
sábado, 18 de julho de 2009
segunda-feira, 6 de julho de 2009
“A ditadura que pode e a ditadura que não pode”
Honduras está em polvorosa. Pessoas estão morrendo e o clima está cada vez mais beirando a uma guerra civil. O motivo, penso que todos os que leem jornais ou assistem a um simples telejornal sabem; o presidente Manuel Zelaya foi derrubado do poder no último domingo (28 de junho), em uma ação orquestrada pela Justiça e pelo Congresso, e executada por militares, que o expulsaram para a Costa Rica. O chamado golpe foi realizado horas antes do início de um referendo popular sobre uma reforma na Constituição, o que tinha sido declarado ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.
Depois de ouvir as palavras de vários chefes de Estado – dentre eles; Barack Obama, Nicolas Sarkozy e até o brasileiro Lula – e de órgãos internacionais acerca do fato, decidi inteirar-me do acontecido, pois só assim eu poderia me posicionar perante os meus oito fiéis leitores deste espaço.
Na curiosidade que sempre me foi inerente, acessei a Constituição de Honduras. Lá, encontra-se um artigo deveras esclarecedor, o 239, que assim diz: "o cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apoiem direta ou indiretamente, terão cessados de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública". A Carta chega a ser ainda mais categórica quando afirma no Artigo 4º: “A alternância no exercício da Presidência da República é obrigatória. A infração desta norma constitui delito de traição à Pátria”.
A postura de vários líderes me parecia, depois dessa leitura, uma falácia sem precedentes. Falácia contra a tão defendida “democracia”, diga-se. Pela Carta Constitucional hondurenha, não é possível reeleição e nem tentativa de reforma da Constituição Federal. Se isso viesse a acontecer, a deposição deveria ser mesmo imediata. E foi o que aconteceu.
A única coisa que faria rir (?) nesse episódio é o fato de Estados Unidos e Venezuela estarem do mesmo lado. Sim, tanto Obama quanto Chaves acreditam que Zelaya deve voltar ao poder, tentar se reeleger e mexer com o que é, lembrando Antônio Rogério Magri, um ex-ministro brasileiro, “imexível”; a Constituição Democrática de Honduras. Não se deve esquecer, também, que a ação foi uma decisão do Congresso e da Suprema Corte daquele país, baseados na Carta, e apenas com execução pelo exército, convocado para tal. Não foi, portanto, uma postura como aquelas patrocinadas pelos Estados Unidos, quando os congressos e os parlamentos nacionais eram dissolvidos!
O que se vê, portanto, é que esse "golpe" não vale; “não pode”, como diz uma comediante brasileira. Já se for como os vários golpes militares financiados pelos Estados Unidos em toda a América Latina, com dissoluções de parlamentos, muitos desaparecimentos, torturas e mortes das mais cruéis, “pode”.
Por outro lado, se acertaram na decisão baseada na Carta Magna hondurenha, erraram feio na execução. É claro que não se poderia expulsar Zelaya do próprio país e nem retirá-lo de madrugada sob a mira de grosso calibre. Tal atitude, não tem como não afirmar isso, tem característica de golpe, sim, e, sendo golpe, sou contra. Todavia, é preciso entender que democracia também se faz com alternância no poder. Assim, se a formação da Constituição Hondurenha levou em consideração a voz da população e dos grupos sociais, através de seus representantes democraticamente eleitos, seria preciso não "golpear", mas cumprir a Constituição dando direito de resposta e defesa a Zelaya, o que não aconteceu. Mas a Constituição tem sim de valer.
É preciso enfatizar, por nosso lado, que a Carta brasileira é "pró-forma", visto que vivemos de emendas e medidas provisórias. Ao fim e ao cabo, a Constituição Brasileira é um remendo só.
Sem respeitar os documentos democraticamente elaborados, a "volta dos que não foram" estará sempre às portas. O desmonte do estado previdência, perpetrado pela era FHC, está aí para comprovar. Se não fosse possível mexer na Constituição do Brasil, o pensamento neoliberal não teria feito o estrago que fez. Ou o "estrago FHC" foi algo democrático? Coisa para se pensar.
liberdade, beleza e Graça...
PS: O texto que aqui estaria seria uma homenagem ao grande artista que foi Michael Jackson. Como a política ainda me “puxa mais”, fica uma singela homenagem ao maior artista que pude ver em minha ainda pequena vida.
Jackson tantos problemas. Jackson tantos dilemas.
Jackson visões tão pequenas; só vencidas a piracemas.
Que caminhes direto na lua, traduzindo ainda em poemas
O encantar que se há de multiplicar, em nossas inesquecíveis cenas.
Jackson tantos inconformados, que contribuamos para a cura.
Depois de ouvir as palavras de vários chefes de Estado – dentre eles; Barack Obama, Nicolas Sarkozy e até o brasileiro Lula – e de órgãos internacionais acerca do fato, decidi inteirar-me do acontecido, pois só assim eu poderia me posicionar perante os meus oito fiéis leitores deste espaço.
Na curiosidade que sempre me foi inerente, acessei a Constituição de Honduras. Lá, encontra-se um artigo deveras esclarecedor, o 239, que assim diz: "o cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apoiem direta ou indiretamente, terão cessados de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública". A Carta chega a ser ainda mais categórica quando afirma no Artigo 4º: “A alternância no exercício da Presidência da República é obrigatória. A infração desta norma constitui delito de traição à Pátria”.
A postura de vários líderes me parecia, depois dessa leitura, uma falácia sem precedentes. Falácia contra a tão defendida “democracia”, diga-se. Pela Carta Constitucional hondurenha, não é possível reeleição e nem tentativa de reforma da Constituição Federal. Se isso viesse a acontecer, a deposição deveria ser mesmo imediata. E foi o que aconteceu.
A única coisa que faria rir (?) nesse episódio é o fato de Estados Unidos e Venezuela estarem do mesmo lado. Sim, tanto Obama quanto Chaves acreditam que Zelaya deve voltar ao poder, tentar se reeleger e mexer com o que é, lembrando Antônio Rogério Magri, um ex-ministro brasileiro, “imexível”; a Constituição Democrática de Honduras. Não se deve esquecer, também, que a ação foi uma decisão do Congresso e da Suprema Corte daquele país, baseados na Carta, e apenas com execução pelo exército, convocado para tal. Não foi, portanto, uma postura como aquelas patrocinadas pelos Estados Unidos, quando os congressos e os parlamentos nacionais eram dissolvidos!
O que se vê, portanto, é que esse "golpe" não vale; “não pode”, como diz uma comediante brasileira. Já se for como os vários golpes militares financiados pelos Estados Unidos em toda a América Latina, com dissoluções de parlamentos, muitos desaparecimentos, torturas e mortes das mais cruéis, “pode”.
Por outro lado, se acertaram na decisão baseada na Carta Magna hondurenha, erraram feio na execução. É claro que não se poderia expulsar Zelaya do próprio país e nem retirá-lo de madrugada sob a mira de grosso calibre. Tal atitude, não tem como não afirmar isso, tem característica de golpe, sim, e, sendo golpe, sou contra. Todavia, é preciso entender que democracia também se faz com alternância no poder. Assim, se a formação da Constituição Hondurenha levou em consideração a voz da população e dos grupos sociais, através de seus representantes democraticamente eleitos, seria preciso não "golpear", mas cumprir a Constituição dando direito de resposta e defesa a Zelaya, o que não aconteceu. Mas a Constituição tem sim de valer.
É preciso enfatizar, por nosso lado, que a Carta brasileira é "pró-forma", visto que vivemos de emendas e medidas provisórias. Ao fim e ao cabo, a Constituição Brasileira é um remendo só.
Sem respeitar os documentos democraticamente elaborados, a "volta dos que não foram" estará sempre às portas. O desmonte do estado previdência, perpetrado pela era FHC, está aí para comprovar. Se não fosse possível mexer na Constituição do Brasil, o pensamento neoliberal não teria feito o estrago que fez. Ou o "estrago FHC" foi algo democrático? Coisa para se pensar.
liberdade, beleza e Graça...
PS: O texto que aqui estaria seria uma homenagem ao grande artista que foi Michael Jackson. Como a política ainda me “puxa mais”, fica uma singela homenagem ao maior artista que pude ver em minha ainda pequena vida.
Jackson tantos problemas. Jackson tantos dilemas.
Jackson visões tão pequenas; só vencidas a piracemas.
Que caminhes direto na lua, traduzindo ainda em poemas
O encantar que se há de multiplicar, em nossas inesquecíveis cenas.
Jackson tantos inconformados, que contribuamos para a cura.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
“Caminhos da espiritualidade”
No capítulo 5 do Evangelho de São Lucas, os versos de 27 a 32 contam uma história deveras curiosa. Trata-se do chamamento de Levi, um publicano, que tinha a função de coletar impostos do povo de Israel para o império romano. Naquele contexto, Roma imperava sem concorrentes, tendo dentre os judeus alguns que lhes prestavam serviços, assumindo por conta disso um dos postos mais elevados que uma pessoa poderia alcançar, trabalhando para o imperador. Conta o texto que o Senhor Jesus passa em frente ao posto de coleta de impostos, onde Levi estava, e diz um singelo “segue-me”. O texto mostra que Levi, abandonando o seu posto e afazeres, segue-o, sem titubear um instante sequer.
O chamado de Levi é curioso porque ele não precisava atender ao que Jesus disse. Levi não era o que se poderia chamar de uma pessoa necessitada; não dependia do auxílio do Estado com qualquer política de assistência social. Pelo contrário, possuía um cargo dos mais invejados, sendo um funcionário público muito bem sucedido. Do mesmo modo, Levi não era uma pessoa iletrada, pois não seria convocado por Roma se não tivesse uma boa formação e muita informação. Esse não foi, pois, o atendimento de uma pessoa ignorante. Também mostra o texto que esse publicano não era um doente, buscando um curandeiro que lhe pudesse dar esperança, pois a saúde de Levi estava intacta. Por que então Levi, ouvindo apenas um “segue-me”, resolve atender Jesus, abandonando toda uma excelente vida?
Ao analisarmos o contexto cultural da época, dominado pela sabedoria filosófica grega, vemos que o argumento de Jesus era demasiado fraco e frágil para convencer quem quer que fosse. Ninguém deixaria um excelente posto público, uma posição social invejável até nos dias de hoje – haja vista a quantidade enorme de pessoas que têm no emprego público seu maior objetivo de vida – para seguir uma pessoa que saíra de uma cidadela que nenhuma importância tinha para a sua época. Mas Levi atendeu, e isso torna o texto bastante enigmático.
Mais enigmática ainda é a postura ulterior de tal publicano, convidando muita gente e fazendo uma grande festa em sua casa para Jesus. Na tal festividade, muitos fariseus e outros mestres da Lei disseram que Jesus estava “comendo com pecadores e gente de má fama”, mas o Senhor os surpreendeu, dizendo: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes; eu não vim para chamar os bons, mas para chamar os pecadores, a fim de que se arrependam de seus pecados”.
Aceitar o chamamento de Jesus não é, pois, coisa para pessoas que não têm o que fazer; Levi era extremamente ocupado. Não é também coisa para pessoas que, não tendo a atenção do Estado, precisam de uma assistência de quem quer que seja; Levi era muito bem sucedido. Atender Jesus não é, tampouco, coisa só para pessoas iletradas ou que tenham uma grave doença, necessitando que um santo milagreiro lhes imponha as mãos e lhes faça o que a medicina não conseguiu; Levi era bem formado e muito saudável, pelo que o texto narra. Aceitar Jesus é, antes de tudo, coisa para pecadores. Coisa para quem reconhece que já errou muito nessa vida.
Todavia, se a força argumentativa de Jesus não se mostrou convincente nesse singelo “segue-me”, o que teria convencido um alto funcionário a largar tudo e seguir o Mestre? O olhar. Sim, acredito que o olhar de Jesus em direção a Levi o fez abandonar tudo e seguir o chamado. Essa é minha tese. Foi, sim, um simples olhar.
Embora o cargo de Levi fosse muito invejado, é bom lembrar que um publicano, cobrador de impostos para Roma, era tido pelos judeus como um “traidor da pátria”, uma vez que usurpava o próprio povo, em prol de um império cruel e sanguinário. É de se imaginar que, ao pagarem seus impostos, os cidadãos do povo o encaravam com todo ódio possível. Talvez até esboçassem gestos e feições desagradáveis, após entregarem, contrariados, mais uma porção de seus rendimentos nas mãos de uma pessoa que se colocava contra a própria nação. Os publicanos eram, pois, odiados. Eram detestados e tratados como escórias, embora fossem da elite de sua época. O povo não os perdoava por conta de seus feitos.
Mas quando Jesus encarou Levi, olhou-o com um olhar de amor. Olhou-o como ninguém mais em Israel conseguira fazer. Não olhou para seus “defeitos”, mas fitou-o como que dizendo: Não importa o que você fez. Não importa o que pensam ou o que falam de ti, eu vim para que você tenha vida, e vida em abundância. Vim carregar o seu fardo que pesa, Levi. Vim para lhe dar a minha paz, que é muito mais do que a ausência de guerras e conflitos, pois é uma paz que esse mundo não conhece. Por tudo isso, segue-me, rapaz!
É com esse mesmo olhar que Jesus olha também para cada um hoje. O argumento parece demasiado frágil; apenas um “segue-me”, mas o olhar ainda é o mesmo. O olhar ainda é aquele. Seria essa a hora de atender, ou será melhor seguir ocupado demais com títulos, histórias, problemas e muitos outros afazeres?
liberdade, beleza e Graça...
O chamado de Levi é curioso porque ele não precisava atender ao que Jesus disse. Levi não era o que se poderia chamar de uma pessoa necessitada; não dependia do auxílio do Estado com qualquer política de assistência social. Pelo contrário, possuía um cargo dos mais invejados, sendo um funcionário público muito bem sucedido. Do mesmo modo, Levi não era uma pessoa iletrada, pois não seria convocado por Roma se não tivesse uma boa formação e muita informação. Esse não foi, pois, o atendimento de uma pessoa ignorante. Também mostra o texto que esse publicano não era um doente, buscando um curandeiro que lhe pudesse dar esperança, pois a saúde de Levi estava intacta. Por que então Levi, ouvindo apenas um “segue-me”, resolve atender Jesus, abandonando toda uma excelente vida?
Ao analisarmos o contexto cultural da época, dominado pela sabedoria filosófica grega, vemos que o argumento de Jesus era demasiado fraco e frágil para convencer quem quer que fosse. Ninguém deixaria um excelente posto público, uma posição social invejável até nos dias de hoje – haja vista a quantidade enorme de pessoas que têm no emprego público seu maior objetivo de vida – para seguir uma pessoa que saíra de uma cidadela que nenhuma importância tinha para a sua época. Mas Levi atendeu, e isso torna o texto bastante enigmático.
Mais enigmática ainda é a postura ulterior de tal publicano, convidando muita gente e fazendo uma grande festa em sua casa para Jesus. Na tal festividade, muitos fariseus e outros mestres da Lei disseram que Jesus estava “comendo com pecadores e gente de má fama”, mas o Senhor os surpreendeu, dizendo: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes; eu não vim para chamar os bons, mas para chamar os pecadores, a fim de que se arrependam de seus pecados”.
Aceitar o chamamento de Jesus não é, pois, coisa para pessoas que não têm o que fazer; Levi era extremamente ocupado. Não é também coisa para pessoas que, não tendo a atenção do Estado, precisam de uma assistência de quem quer que seja; Levi era muito bem sucedido. Atender Jesus não é, tampouco, coisa só para pessoas iletradas ou que tenham uma grave doença, necessitando que um santo milagreiro lhes imponha as mãos e lhes faça o que a medicina não conseguiu; Levi era bem formado e muito saudável, pelo que o texto narra. Aceitar Jesus é, antes de tudo, coisa para pecadores. Coisa para quem reconhece que já errou muito nessa vida.
Todavia, se a força argumentativa de Jesus não se mostrou convincente nesse singelo “segue-me”, o que teria convencido um alto funcionário a largar tudo e seguir o Mestre? O olhar. Sim, acredito que o olhar de Jesus em direção a Levi o fez abandonar tudo e seguir o chamado. Essa é minha tese. Foi, sim, um simples olhar.
Embora o cargo de Levi fosse muito invejado, é bom lembrar que um publicano, cobrador de impostos para Roma, era tido pelos judeus como um “traidor da pátria”, uma vez que usurpava o próprio povo, em prol de um império cruel e sanguinário. É de se imaginar que, ao pagarem seus impostos, os cidadãos do povo o encaravam com todo ódio possível. Talvez até esboçassem gestos e feições desagradáveis, após entregarem, contrariados, mais uma porção de seus rendimentos nas mãos de uma pessoa que se colocava contra a própria nação. Os publicanos eram, pois, odiados. Eram detestados e tratados como escórias, embora fossem da elite de sua época. O povo não os perdoava por conta de seus feitos.
Mas quando Jesus encarou Levi, olhou-o com um olhar de amor. Olhou-o como ninguém mais em Israel conseguira fazer. Não olhou para seus “defeitos”, mas fitou-o como que dizendo: Não importa o que você fez. Não importa o que pensam ou o que falam de ti, eu vim para que você tenha vida, e vida em abundância. Vim carregar o seu fardo que pesa, Levi. Vim para lhe dar a minha paz, que é muito mais do que a ausência de guerras e conflitos, pois é uma paz que esse mundo não conhece. Por tudo isso, segue-me, rapaz!
É com esse mesmo olhar que Jesus olha também para cada um hoje. O argumento parece demasiado frágil; apenas um “segue-me”, mas o olhar ainda é o mesmo. O olhar ainda é aquele. Seria essa a hora de atender, ou será melhor seguir ocupado demais com títulos, histórias, problemas e muitos outros afazeres?
liberdade, beleza e Graça...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
“Um pensamento de Karl Marx e a atual Fórmula 1”
É muito aceitável que uma das frases mais felizes da obra de Karl Marx seja: De cada um, conforme sua capacidade; para cada um, conforme suas necessidades. Essa frase, que li pela última vez no excelente livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, ajuda muito a pensar o imbróglio em que se meteu a categoria automobilística mais importante do esporte mundial. Ajuda a explicar também o sistema de políticas de ações afirmativas (sistema de cotas), mas o assunto hoje é mesmo o esporte e as grandes corridas.
É incrível como tomou grande proporção a decisão da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) de fixar um máximo orçamentário de R$ 129 milhões/temporada (descontados os gastos com marketing, motores e salários dos pilotos) para cada equipe de Fórmula 1. Os grandes times acham o valor “muito baixo” e querem uma diminuição gradual dos orçamentos. Tal imbróglio quase invalidou o campeonato do ano de 2010, gerando uma discussão que nos traz à mente os construtos igualdade e liberdade.
Não é de hoje que a Ciência Política mostra como se faz difícil a convivência de tais construtos teóricos na prática social. É sabido que, se todos têm liberdade de fazer o que quiserem de suas vidas e posses, alguém ficará com menos e a igualdade não existirá, pois os talentos são bem diferenciados. Ficaria ratificada a desigualdade “naturalmente” aceitável, por conta dos dons individuais.
A FIA quer cortar a liberdade que as equipes têm de investir o que quiserem e puderem, para que uma competitividade maior se estabeleça nessa categoria. Porém, as grandes equipes não aceitam, pois as equipes que ficarem dentro do orçamento poderão ter vantagens que as grandes não teriam, visto que os grandes times continuariam gastando tudo o que quiserem.
Num mundo onde quem tem mais, vence sempre, me pareceu bem marxiana a proposta da Federação. Assim como no sistema de cotas, quem pode menos tem de ter vantagens, pois não dá para concorrer de igual para igual com quem tem o incalculável para gastar.
Os comentários e argumentos sobre “dois regulamentos” me parecem bem frágeis, uma vez que não se fala que já existem dois regulamentos; quem tem dinheiro vai vencer e pronto! Foi assim que a Ferrari gastou mundos e fundos e conquistou tudo o que podia. Assim também aconteceu com a McLaren. Até aqui, porém, ninguém achava que um tinha mais do que os outros! As pessoas acham ridículas as decisões da FIA, mas não acham inaceitável uma equipe pequena ficar ad infinitum como coadjuvante de um campeonato com chances de conquista para duas equipes apenas!
Se sou a favor de uma igualdade de direitos na Fórmula 1? Sim, como não seria? Sou por uma igualdade na Fórmula 1, no ingresso nas universidades públicas, nas condições de educação e saúde de todos etc. No meu modesto opinar, quem tem menos precisa ter condições de competir, sim. Só são contrários a isso aqueles que a vida inteira foram beneficiados por esse estado de coisas desigual que vivemos, no mundo que “optou” por um neoliberalismo macabro e diabólico.
Preterindo a liberdade e buscando uma igualdade de condições, conseguir-se-á o que Marx apregoava outrora; cada um oferecerá conforme a sua capacidade e receberá consoante a sua necessidade. Pode estar fora de moda e parecer muito utópico, mas, não se poderia dizer que a FIA está quase conseguindo “ressuscitar” o velho barbudo?!
liberdade, beleza e Graça...
É incrível como tomou grande proporção a decisão da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) de fixar um máximo orçamentário de R$ 129 milhões/temporada (descontados os gastos com marketing, motores e salários dos pilotos) para cada equipe de Fórmula 1. Os grandes times acham o valor “muito baixo” e querem uma diminuição gradual dos orçamentos. Tal imbróglio quase invalidou o campeonato do ano de 2010, gerando uma discussão que nos traz à mente os construtos igualdade e liberdade.
Não é de hoje que a Ciência Política mostra como se faz difícil a convivência de tais construtos teóricos na prática social. É sabido que, se todos têm liberdade de fazer o que quiserem de suas vidas e posses, alguém ficará com menos e a igualdade não existirá, pois os talentos são bem diferenciados. Ficaria ratificada a desigualdade “naturalmente” aceitável, por conta dos dons individuais.
A FIA quer cortar a liberdade que as equipes têm de investir o que quiserem e puderem, para que uma competitividade maior se estabeleça nessa categoria. Porém, as grandes equipes não aceitam, pois as equipes que ficarem dentro do orçamento poderão ter vantagens que as grandes não teriam, visto que os grandes times continuariam gastando tudo o que quiserem.
Num mundo onde quem tem mais, vence sempre, me pareceu bem marxiana a proposta da Federação. Assim como no sistema de cotas, quem pode menos tem de ter vantagens, pois não dá para concorrer de igual para igual com quem tem o incalculável para gastar.
Os comentários e argumentos sobre “dois regulamentos” me parecem bem frágeis, uma vez que não se fala que já existem dois regulamentos; quem tem dinheiro vai vencer e pronto! Foi assim que a Ferrari gastou mundos e fundos e conquistou tudo o que podia. Assim também aconteceu com a McLaren. Até aqui, porém, ninguém achava que um tinha mais do que os outros! As pessoas acham ridículas as decisões da FIA, mas não acham inaceitável uma equipe pequena ficar ad infinitum como coadjuvante de um campeonato com chances de conquista para duas equipes apenas!
Se sou a favor de uma igualdade de direitos na Fórmula 1? Sim, como não seria? Sou por uma igualdade na Fórmula 1, no ingresso nas universidades públicas, nas condições de educação e saúde de todos etc. No meu modesto opinar, quem tem menos precisa ter condições de competir, sim. Só são contrários a isso aqueles que a vida inteira foram beneficiados por esse estado de coisas desigual que vivemos, no mundo que “optou” por um neoliberalismo macabro e diabólico.
Preterindo a liberdade e buscando uma igualdade de condições, conseguir-se-á o que Marx apregoava outrora; cada um oferecerá conforme a sua capacidade e receberá consoante a sua necessidade. Pode estar fora de moda e parecer muito utópico, mas, não se poderia dizer que a FIA está quase conseguindo “ressuscitar” o velho barbudo?!
liberdade, beleza e Graça...
sábado, 16 de maio de 2009
“A crise e a gripe midiaticamente inventadas”
Há pouco mais de seis meses estourou a bolha de uma crise econômica comparada à que apavorou o mundo a partir do final dos anos 1920. A quebra da principal bolsa de valores dos Estados Unidos da América do Norte, em 1929, foi relembrada e uma nova onda de pavor tomou conta dos cidadãos de muitas nações do planeta.
Poucos meses depois dessa péssima notícia, uma gripe, surgida no México, começa também a apavorar as nações, de forma a fazer com que quase nos esqueçamos da tal crise econômica semelhante àquela que tragicamente marcou os anos 1930.
A intenção não é transformar o presente texto numa “teoria da conspiração”, mas ajudar na reflexão de alguns acontecimentos que têm ganhado foco nos meios de comunicação de massa, em detrimento de outros que, pelo que podemos entender, não estão mais tão “na moda” assim.
A tese aqui defendida não diz respeito à negação da existência de uma grave crise no sistema econômico mundial, nem tampouco à ignorância da presença de uma gripe que tem de fato uma força que deve preocupar aos órgãos gestores ligados à saúde. Todavia, é importante focar outros elementos e pensar acerca das motivações primeiras de várias das informações que nos visitam dia após dia, sem aquilo que quero chamar de “filtro crítico”.
A crise no sistema financeiro, sabido é, colocou muitos grandes investidores num patamar antes não pensado, gerando “novos pobres”. Fábricas fecharam, bancos quebraram - juntamente com agências que tinham a incumbência de prever os riscos de uma crise! - e uma onda de demissões em massa tomou conta das empresas estadunidenses e de outras, em várias partes desse planeta interconectado. No campo das bolsas de valores, as ações de vários segmentos foram praticamente à bancarrota, incluam-se aí as dos grandes laboratórios farmacêuticos.
Quando a crise chegou ao Brasil, várias empresas começaram a acreditar em sua força e demitiram aos borbotões. Grandes fábricas de automóveis fecharam imediatamente postos de trabalho, demitindo efetivos e temporários, sem análise crítica prévia, e justificando tais atos como “ordens da matriz, pois a crise é sem precedentes”. Porém, dois meses depois faltou carro no mercado e foi necessário recontratar pessoal! A crise era crise, mas não era crise. Parecia até que poderia ser mesmo chamada de uma “marolinha”. A ideia da crise, ao fim e ao cabo, não havia colado em terras tupiniquins. Pelo menos não como queriam os meios de comunicação.
A gripe suína, por seu turno, não é algo de responsabilidade mexicana, mas de grandes companhias alimentícias estadunidenses que, seguindo a praxe do capitalismo tardio, transferiu a parte suja do movimento para a periferia do capital, recebendo apenas os lucros da empreitada. A doença e os riscos todos ficam mesmo com o México, fortalecendo a lógica capitalista selvagem da precarização das condições de trabalho na periferia do processo, para favorecer a manutenção dos ganhos, que são direcionados para o financiamento dos custos sociais apenas nos países centrais dessa lógica maquiavélica de mercado. Só que as pessoas viajam, é claro. E os mexicanos viajaram. E quem esteve pelo México também teria de voltar para casa.
Parece coincidência, mas ao mesmo tempo em que os noticiários fazem grande alarde sobre os oito casos (já tratados!) da tal gripe no Brasil, os grandes laboratórios têm suas ações nas bolsas catapultadas às nuvens. A crise, para alguns, começa, pois, a se resolver. Bastou inventar e convencer com aquilo que quero chamar de uma “boa doença”. Grande e sinistra ideia.
O grande problema é que, ao mesmo tempo, 40 casos de morte por dengue, somente no estado da Bahia, não conseguiram chamar a atenção, como foi possível com os oito casos já medicados e solucionados da tal “gripe do porco”.
No final das contas, só posso dizer: a crise econômica chegou aqui, sim, mas, por causa do descaso das nossas autoridades, morreu logo na chegada, ainda na Bahia. E, é claro, de dengue.
liberdade, beleza e Graça...
Poucos meses depois dessa péssima notícia, uma gripe, surgida no México, começa também a apavorar as nações, de forma a fazer com que quase nos esqueçamos da tal crise econômica semelhante àquela que tragicamente marcou os anos 1930.
A intenção não é transformar o presente texto numa “teoria da conspiração”, mas ajudar na reflexão de alguns acontecimentos que têm ganhado foco nos meios de comunicação de massa, em detrimento de outros que, pelo que podemos entender, não estão mais tão “na moda” assim.
A tese aqui defendida não diz respeito à negação da existência de uma grave crise no sistema econômico mundial, nem tampouco à ignorância da presença de uma gripe que tem de fato uma força que deve preocupar aos órgãos gestores ligados à saúde. Todavia, é importante focar outros elementos e pensar acerca das motivações primeiras de várias das informações que nos visitam dia após dia, sem aquilo que quero chamar de “filtro crítico”.
A crise no sistema financeiro, sabido é, colocou muitos grandes investidores num patamar antes não pensado, gerando “novos pobres”. Fábricas fecharam, bancos quebraram - juntamente com agências que tinham a incumbência de prever os riscos de uma crise! - e uma onda de demissões em massa tomou conta das empresas estadunidenses e de outras, em várias partes desse planeta interconectado. No campo das bolsas de valores, as ações de vários segmentos foram praticamente à bancarrota, incluam-se aí as dos grandes laboratórios farmacêuticos.
Quando a crise chegou ao Brasil, várias empresas começaram a acreditar em sua força e demitiram aos borbotões. Grandes fábricas de automóveis fecharam imediatamente postos de trabalho, demitindo efetivos e temporários, sem análise crítica prévia, e justificando tais atos como “ordens da matriz, pois a crise é sem precedentes”. Porém, dois meses depois faltou carro no mercado e foi necessário recontratar pessoal! A crise era crise, mas não era crise. Parecia até que poderia ser mesmo chamada de uma “marolinha”. A ideia da crise, ao fim e ao cabo, não havia colado em terras tupiniquins. Pelo menos não como queriam os meios de comunicação.
A gripe suína, por seu turno, não é algo de responsabilidade mexicana, mas de grandes companhias alimentícias estadunidenses que, seguindo a praxe do capitalismo tardio, transferiu a parte suja do movimento para a periferia do capital, recebendo apenas os lucros da empreitada. A doença e os riscos todos ficam mesmo com o México, fortalecendo a lógica capitalista selvagem da precarização das condições de trabalho na periferia do processo, para favorecer a manutenção dos ganhos, que são direcionados para o financiamento dos custos sociais apenas nos países centrais dessa lógica maquiavélica de mercado. Só que as pessoas viajam, é claro. E os mexicanos viajaram. E quem esteve pelo México também teria de voltar para casa.
Parece coincidência, mas ao mesmo tempo em que os noticiários fazem grande alarde sobre os oito casos (já tratados!) da tal gripe no Brasil, os grandes laboratórios têm suas ações nas bolsas catapultadas às nuvens. A crise, para alguns, começa, pois, a se resolver. Bastou inventar e convencer com aquilo que quero chamar de uma “boa doença”. Grande e sinistra ideia.
O grande problema é que, ao mesmo tempo, 40 casos de morte por dengue, somente no estado da Bahia, não conseguiram chamar a atenção, como foi possível com os oito casos já medicados e solucionados da tal “gripe do porco”.
No final das contas, só posso dizer: a crise econômica chegou aqui, sim, mas, por causa do descaso das nossas autoridades, morreu logo na chegada, ainda na Bahia. E, é claro, de dengue.
liberdade, beleza e Graça...
terça-feira, 5 de maio de 2009
"Instalações poéticas"
Bonitinha on the rocks
A atitude de ir ao cinema é contratempo, quase sempre um problema
Adolescente enche o saco e rouba o tempo que você não tem
Mas à tarde, até que vale a pena, sobretudo se do lado tem pequena
Olho pra tela, olho pra ela, e é amável esse vai-vem
E é assim que aparece o motivo da prece
Trocam telefone, melhor se conhecem
Essa mulher já leu de tudo e isso eu nunca vi
É fonte de inspiração, toque no coração
Nova promessa, vida em comunhão
Sem elogios, pra vaidade da cabeça dela não subir
Ficando dias sem ligar; inventou “fui viajar”, um recadinho só pra consolar
Mas de otário, eu lhe garanto, a bonitinha não me vai fazer
Não disputo em relação, também não brigo, não
Mas impropérios lançarei em sua direção
Não quero amor, agora é ódio; saca só, aqui vai seu cachê
A verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José *
E vendo Kubrick** aprendi como fugir dessa situação
Você pensa que sabe tudo, então
Eu vou provar que tudo isso é ilusão
Já leu o Poe, os Beatnicks, Ettore Scola no cinema vê
Mas isso tudo não emociona a mim
Verborragia de intelecto sem fim
Não valorizo e quase sempre eu escarro
Só pra me entreter
E é assim é que eu sigo; que eu paro, que eu brigo
Mesmo desprovido, não temo o perigo
Me moldo pra um dia eu ter um real valor
“Mas se isso não te interessa, pra quê tanta pressa?
Não enxergue em mim uma nova promessa
Namore com outra, ou com outro, seja o que for”
No Brasil tudo é assim; não sobrou nada pra mim
É ditadura do PU***, televisão do início ao fim
Nas bibliotecas já tem teia de aranha para o Guinness Book
Não há canção que dê mais jeito; não surtem mais efeito
Autoridade indiferente, gente chula, novo pleito
Até o dia em que deixar de ser Brasil esse país do truque
E a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
Você pega o carro do papai
Não interessa, você não diz pra onde vai
“Vidro fumê, não uso cinto e a 200 ninguém vai pegar
E, se pega, não dá complicação
Tenho direito de andar na contramão
Papai juiz, manda chofer, três empregados só pra me livrar
E é assim que tem de ser, não sei se vou crescer
Não enche o saco, não se mete; essa vida não é pra você
Fica na sua e desse jeito eu sei que o bicho não lhe vai pegar
Quando o cara é vacilão, não anda comigo, não
Fica pra trás e eu sigo logo, mudando de direção
Ouvindo Zeppelin, com um beck bem daqueles, só pra relaxar”
Mas a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
* São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, cidade de minha infância e adolescência.
** Stanley Kubrick, genial cineasta estadunidense.
*** Pensamento único.
(Instalação poética composta em homenagem a Flávia Paes Barreto, uma amiga muito inteligente, produtora cultural, que sumiu e nunca mais deu as caras. Essa é a história, poetizada, de como nos conhecemos).
liberdade, beleza e Graça...
A atitude de ir ao cinema é contratempo, quase sempre um problema
Adolescente enche o saco e rouba o tempo que você não tem
Mas à tarde, até que vale a pena, sobretudo se do lado tem pequena
Olho pra tela, olho pra ela, e é amável esse vai-vem
E é assim que aparece o motivo da prece
Trocam telefone, melhor se conhecem
Essa mulher já leu de tudo e isso eu nunca vi
É fonte de inspiração, toque no coração
Nova promessa, vida em comunhão
Sem elogios, pra vaidade da cabeça dela não subir
Ficando dias sem ligar; inventou “fui viajar”, um recadinho só pra consolar
Mas de otário, eu lhe garanto, a bonitinha não me vai fazer
Não disputo em relação, também não brigo, não
Mas impropérios lançarei em sua direção
Não quero amor, agora é ódio; saca só, aqui vai seu cachê
A verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José *
E vendo Kubrick** aprendi como fugir dessa situação
Você pensa que sabe tudo, então
Eu vou provar que tudo isso é ilusão
Já leu o Poe, os Beatnicks, Ettore Scola no cinema vê
Mas isso tudo não emociona a mim
Verborragia de intelecto sem fim
Não valorizo e quase sempre eu escarro
Só pra me entreter
E é assim é que eu sigo; que eu paro, que eu brigo
Mesmo desprovido, não temo o perigo
Me moldo pra um dia eu ter um real valor
“Mas se isso não te interessa, pra quê tanta pressa?
Não enxergue em mim uma nova promessa
Namore com outra, ou com outro, seja o que for”
No Brasil tudo é assim; não sobrou nada pra mim
É ditadura do PU***, televisão do início ao fim
Nas bibliotecas já tem teia de aranha para o Guinness Book
Não há canção que dê mais jeito; não surtem mais efeito
Autoridade indiferente, gente chula, novo pleito
Até o dia em que deixar de ser Brasil esse país do truque
E a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
Você pega o carro do papai
Não interessa, você não diz pra onde vai
“Vidro fumê, não uso cinto e a 200 ninguém vai pegar
E, se pega, não dá complicação
Tenho direito de andar na contramão
Papai juiz, manda chofer, três empregados só pra me livrar
E é assim que tem de ser, não sei se vou crescer
Não enche o saco, não se mete; essa vida não é pra você
Fica na sua e desse jeito eu sei que o bicho não lhe vai pegar
Quando o cara é vacilão, não anda comigo, não
Fica pra trás e eu sigo logo, mudando de direção
Ouvindo Zeppelin, com um beck bem daqueles, só pra relaxar”
Mas a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
* São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, cidade de minha infância e adolescência.
** Stanley Kubrick, genial cineasta estadunidense.
*** Pensamento único.
(Instalação poética composta em homenagem a Flávia Paes Barreto, uma amiga muito inteligente, produtora cultural, que sumiu e nunca mais deu as caras. Essa é a história, poetizada, de como nos conhecemos).
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 20 de abril de 2009
“Uma década de tiros em Columbine”
Há exatos dez anos, no dia 20 de abril de 1999, na Escola Columbine, em Litleton (Colorado), dois adolescentes fortemente armados de pistolas, rifles e muita munição mataram doze colegas e mais uma professora, dando, em seguida, cabo de suas próprias vidas. O cineasta estadunidense Michael Moore fez um excelente filme-documentário a respeito do massacre que chocou o mundo, marcando tristemente aquele abril sangrento.
Ao contrário do que quis outro fantástico diretor de cinema, o também estadunidense Gus Van Sant, com o maravilhoso “Elefante”, também sobre o mesmo massacre de Columbine, esse texto não pretende tratar da questão psicológica dos garotos assassinos, mas discutir a (in)segurança nossa de todos os dias e o porte extremamente facilidade de armas, nos Estados Unidos, que muitos entendem como solução para episódios como o lembrado aqui. Relembrar, já no título desse texto, a película “Tiros em Columbine”, de Moore, não é, pois, um expediente gratuito.
De lá para cá, vinte e oito novos massacres aconteceram nos EUA e a discussão que nos dias atuais se coloca é sobre a quem interessa o debate sobre o porte de armas. Fora os dois maravilhosos filmes – obrigatórios nas boas aulas de Sociologia – uma reflexão acerca do tema se faz extremamente pertinente.
O discurso, do qual faço parte, de que violência gera violência parece não fazer a cabeça de um sem número de cidadãos dos Estados Unidos, que se acham detentores de um direito divino (você não leu errado, eu disse divino!) de possuir uma arma de fogo e se “proteger”.
Larry Pratt, diretor da Gun Owners of America (Donos de Armas da América, em inglês), organização fundada em 1975 para defender o direito dos estadunidenses de adquirir e portar armas defende: “Nos EUA, nós temos a Segunda Emenda, que protege nosso direito, dado por Deus, de nos proteger com uma arma de fogo. Historicamente, a posse de arma de fogo foi exigida de todo homem livre, em todo nosso período colonial. Por 150 anos, na América, sob a Coroa Britânica, tivemos leis segundo as quais, se você era um homem livre, tinha que possuir um rifle e ir a uma milícia praticar. Quando a Constituição foi escrita, era isso que ela dizia. Que todos os indivíduos têm direito a rifles militares ou eles seriam multados. Havia punições para quem não tivesse armas”.
Justificando uma saída para os vinte e oito massacres desde Columbine, Pratt diz que “se alguém tivesse uma arma nesses locais, não haveria massacre, pois era só atirar e matar o possível assassino, antes que ele o fizesse com outros (...) violência resolve problemas”.
É sabido que a indústria de armamentos é extremamente lucrativa e não vai deixar de se impor num debate como esse. Todavia, é preciso concentrar esforços nos argumentos de cada lado, uma vez que, se Deus está do lado de lá, nós já perdemos do lado de cá.
Porém, é bom que saibamos que o conceito de liberdade, por mais amplo que possa parecer, não diz respeito a poder se armar, mas justamente não precisar de tal postura para se sentir seguro e liberto. Se a Constituição estadunidense defende ainda a liberdade de outro modo, é preciso que uma revisão conceitual se dê, pois os tempos e as mentalidades mudaram. Tanto assim é, que ninguém vai ser multado hoje por não ter um rifle!
Para serem mais honestos, pois, os defensores do argumento armado deveriam, pelo menos, mudar a argumentação, afinal, o que está em jogo não é o construto liberdade, mas a ganância da maior e mais lucrativa indústria do mundo capitalista. Quanto ao próximo massacre, que infelizmente virá logo, seguindo-se as estatísticas, eles que se virem por lá. Até porque, já temos muita corrupção, miséria, Daniel Dantas, José e Roseana Sarney, Fernando Collor e Gilmar Mendes para nos preocupar por aqui.
liberdade, beleza e Graça...
Ao contrário do que quis outro fantástico diretor de cinema, o também estadunidense Gus Van Sant, com o maravilhoso “Elefante”, também sobre o mesmo massacre de Columbine, esse texto não pretende tratar da questão psicológica dos garotos assassinos, mas discutir a (in)segurança nossa de todos os dias e o porte extremamente facilidade de armas, nos Estados Unidos, que muitos entendem como solução para episódios como o lembrado aqui. Relembrar, já no título desse texto, a película “Tiros em Columbine”, de Moore, não é, pois, um expediente gratuito.
De lá para cá, vinte e oito novos massacres aconteceram nos EUA e a discussão que nos dias atuais se coloca é sobre a quem interessa o debate sobre o porte de armas. Fora os dois maravilhosos filmes – obrigatórios nas boas aulas de Sociologia – uma reflexão acerca do tema se faz extremamente pertinente.
O discurso, do qual faço parte, de que violência gera violência parece não fazer a cabeça de um sem número de cidadãos dos Estados Unidos, que se acham detentores de um direito divino (você não leu errado, eu disse divino!) de possuir uma arma de fogo e se “proteger”.
Larry Pratt, diretor da Gun Owners of America (Donos de Armas da América, em inglês), organização fundada em 1975 para defender o direito dos estadunidenses de adquirir e portar armas defende: “Nos EUA, nós temos a Segunda Emenda, que protege nosso direito, dado por Deus, de nos proteger com uma arma de fogo. Historicamente, a posse de arma de fogo foi exigida de todo homem livre, em todo nosso período colonial. Por 150 anos, na América, sob a Coroa Britânica, tivemos leis segundo as quais, se você era um homem livre, tinha que possuir um rifle e ir a uma milícia praticar. Quando a Constituição foi escrita, era isso que ela dizia. Que todos os indivíduos têm direito a rifles militares ou eles seriam multados. Havia punições para quem não tivesse armas”.
Justificando uma saída para os vinte e oito massacres desde Columbine, Pratt diz que “se alguém tivesse uma arma nesses locais, não haveria massacre, pois era só atirar e matar o possível assassino, antes que ele o fizesse com outros (...) violência resolve problemas”.
É sabido que a indústria de armamentos é extremamente lucrativa e não vai deixar de se impor num debate como esse. Todavia, é preciso concentrar esforços nos argumentos de cada lado, uma vez que, se Deus está do lado de lá, nós já perdemos do lado de cá.
Porém, é bom que saibamos que o conceito de liberdade, por mais amplo que possa parecer, não diz respeito a poder se armar, mas justamente não precisar de tal postura para se sentir seguro e liberto. Se a Constituição estadunidense defende ainda a liberdade de outro modo, é preciso que uma revisão conceitual se dê, pois os tempos e as mentalidades mudaram. Tanto assim é, que ninguém vai ser multado hoje por não ter um rifle!
Para serem mais honestos, pois, os defensores do argumento armado deveriam, pelo menos, mudar a argumentação, afinal, o que está em jogo não é o construto liberdade, mas a ganância da maior e mais lucrativa indústria do mundo capitalista. Quanto ao próximo massacre, que infelizmente virá logo, seguindo-se as estatísticas, eles que se virem por lá. Até porque, já temos muita corrupção, miséria, Daniel Dantas, José e Roseana Sarney, Fernando Collor e Gilmar Mendes para nos preocupar por aqui.
liberdade, beleza e Graça...
Assinar:
Postagens (Atom)