Depois de horas
Depois de horas, não percebo os efeitos
Posologias mais que arcaicas junto ao leito
De outras visitas, estolas sacerdotais
Tentam ludibriar: "tenho a verdade e muito mais"
Em quem devo acreditar? Por qual caminho vós pretendeis me levar?
Eu sempre tive mais medo do escuro
Se encontrar a chave, dê a luz; me deixe ver
Cante a canção com a qual outrora eu dormia
Visite as trancas e olhe se embaixo da cama
Alguém que não foi convidado veio ouvir histórias
E expulsa; manda longe. Longe
És o caminho, a verdade e a vida
Mas será que pra seguir tem de sangrar nova ferida?
liberdade, beleza e Graça...
Quem sou eu

- Cleinton
- Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.
quarta-feira, 26 de março de 2008
sábado, 8 de março de 2008
"Instalações poéticas"
Conversa com o Infinito Particular; Deus.
Com o tempo os sonhos mudam.
A ingenuidade de criança de esvai.
As crenças já não infundem o mesmo valor.
Obrigatório, dizem, é confiar na primeira idade. Só ali.
Na autonomia de quem pensa - ou, na de quem pensa que pensa - tornaram-te obsoleto.
Ou pensaram que o fizeram.
As ciências não te conseguiram provar ou comprovar.
Melhor a negação. A acadêmica negação.
Só que existes. Ao menos para a negação de alguns, tens de existir.
A tua solidariedade, para que te neguem a existência, faz com que existas mesmo, num paradoxo inexplicável.
E, confesso, te preciso assim; independentemente de existires.
Tua existência não é para que te provem, mas para que eu mesmo seja.
Para que eu possa ganhar existência.
Para que eu possa te agradecer por mais essa estrada trilhada.
Sei que não existes; isso é coisa de ingênuos.
Tu não existes, na verdade. Tu és.
E essa conquista é por causa tua, Particularidade Infinita.
Porque tudo vem de ti, existindo o Senhor ou não.
Por conta de tudo isso, meu coração é extremamente grato.
(Escrito quando da formatura como sociólogo. Lido na cerimônia oficial)
liberdade, beleza e Graça...
Com o tempo os sonhos mudam.
A ingenuidade de criança de esvai.
As crenças já não infundem o mesmo valor.
Obrigatório, dizem, é confiar na primeira idade. Só ali.
Na autonomia de quem pensa - ou, na de quem pensa que pensa - tornaram-te obsoleto.
Ou pensaram que o fizeram.
As ciências não te conseguiram provar ou comprovar.
Melhor a negação. A acadêmica negação.
Só que existes. Ao menos para a negação de alguns, tens de existir.
A tua solidariedade, para que te neguem a existência, faz com que existas mesmo, num paradoxo inexplicável.
E, confesso, te preciso assim; independentemente de existires.
Tua existência não é para que te provem, mas para que eu mesmo seja.
Para que eu possa ganhar existência.
Para que eu possa te agradecer por mais essa estrada trilhada.
Sei que não existes; isso é coisa de ingênuos.
Tu não existes, na verdade. Tu és.
E essa conquista é por causa tua, Particularidade Infinita.
Porque tudo vem de ti, existindo o Senhor ou não.
Por conta de tudo isso, meu coração é extremamente grato.
(Escrito quando da formatura como sociólogo. Lido na cerimônia oficial)
liberdade, beleza e Graça...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
"Lugar de negro é na igreja"
Sei que o título dessa reflexão poderá gerar alguma polêmica. Porém, inicio a mesma apresentando-me como membro de uma sociedade estruturalmente racista, e também como fruto do amor de um negro jungido à paixão quase religiosa de uma branca. Sou, portanto, um mestiço. Não vou dizer que não sou racista, pois acredito que no nosso país - claro que muito erroneamente - pensa-se que "o racista é sempre o outro". Assim, confesso que participo de uma estrutura racista em alto grau. Não defendo, então, que o racismo está apenas fora de mim, no outro. Digo que está na estrutura social, conseguindo afetar a todos em maior ou menor grau.
Contudo, já se pode afirmar - e com boa base empírica - que a negritude não se pode medir mais apenas pela distância maior ou menor "da cozinha". Se outrora foi quase um crime dizer que alguém tinha um pé naquele cômodo da casa, hoje pode-se dizer - ao se falar em racismo e negritude - que se tem um pé (na verdade, os dois e o corpo todo) na igreja.
Após uma breve leitura da pesquisa do antropólogo estadunidense John Burdick, sobre os negros e o pentecostalismo, é possível crer que uma alternativa bastante válida para a questão racial no Brasil se apresentou.
Em seu estudo, Burdick entrevistou uma quantidade considerável de homens e mulheres de pele escura - na cidade do Rio de Janeiro e em outras metrópoles brasileiras -, retirando das percepções desses indivíduos respostas bastante relevantes para o debate acerca do preconceito de cor.
No "novo cômodo" utilizado, o negro e a negra conseguiram perceber aquilo que a "democracia racial" teimava em esconder: o Brasil é um país extremamente racista. O brasileiro é racista até não querer mais, confessa isso o tempo todo, mas insiste em afirmar que a máxima sartreana o inferno é o outro também serve para a questão do racismo do povo tupiniquim, já que raramente é possível encontrar alguém que assuma para si uma condição tão socialmente ultrajante e politicamente incorreta. Mas eles existem. Sim, os racistas existem. E, na verdade, não são "eles", somos "nós". Nós existimos.
O novo "espaço do negro", porém, mostrou que há a possibilidade de se solucionar, pelo menos em parte, a questão. A pesquisa de Burdick sobre os negros que aderem às igrejas pentecostais mostra o poder de sociação dessas igrejas, ratificado em frases como: "só depois que entrei para a igreja é que percebi que eu sofria racismo lá fora, no mundo"; "aqui dentro as pessoas não olham para a cor da gente e uma mulher negra arruma casamento fácil com um homem branco"; "a gente tem que olhar para o que a pessoa é e não para a cor da pele dela"; "na igreja eu percebi que não preciso passar henê no cabelo, pois Deus me fez assim e eu sou bonita assim como ele me fez".
Podem parecer frases simples demais, mas, verdade seja dita, tais afirmativas refletem uma cosmovisão que precisa atingir a todos os campos da existência humana. Uma visão de mundo mais humana, menos individualista e segregadora, e muito mais includente.
Todavia, enquanto isso não acontece, não há como negar que só existem duas alternativas para a questão racial no Brasil: ou os negros e negras se dirigem à igreja ou, tristemente, ainda à cozinha.
liberdade, beleza e Graça...
Contudo, já se pode afirmar - e com boa base empírica - que a negritude não se pode medir mais apenas pela distância maior ou menor "da cozinha". Se outrora foi quase um crime dizer que alguém tinha um pé naquele cômodo da casa, hoje pode-se dizer - ao se falar em racismo e negritude - que se tem um pé (na verdade, os dois e o corpo todo) na igreja.
Após uma breve leitura da pesquisa do antropólogo estadunidense John Burdick, sobre os negros e o pentecostalismo, é possível crer que uma alternativa bastante válida para a questão racial no Brasil se apresentou.
Em seu estudo, Burdick entrevistou uma quantidade considerável de homens e mulheres de pele escura - na cidade do Rio de Janeiro e em outras metrópoles brasileiras -, retirando das percepções desses indivíduos respostas bastante relevantes para o debate acerca do preconceito de cor.
No "novo cômodo" utilizado, o negro e a negra conseguiram perceber aquilo que a "democracia racial" teimava em esconder: o Brasil é um país extremamente racista. O brasileiro é racista até não querer mais, confessa isso o tempo todo, mas insiste em afirmar que a máxima sartreana o inferno é o outro também serve para a questão do racismo do povo tupiniquim, já que raramente é possível encontrar alguém que assuma para si uma condição tão socialmente ultrajante e politicamente incorreta. Mas eles existem. Sim, os racistas existem. E, na verdade, não são "eles", somos "nós". Nós existimos.
O novo "espaço do negro", porém, mostrou que há a possibilidade de se solucionar, pelo menos em parte, a questão. A pesquisa de Burdick sobre os negros que aderem às igrejas pentecostais mostra o poder de sociação dessas igrejas, ratificado em frases como: "só depois que entrei para a igreja é que percebi que eu sofria racismo lá fora, no mundo"; "aqui dentro as pessoas não olham para a cor da gente e uma mulher negra arruma casamento fácil com um homem branco"; "a gente tem que olhar para o que a pessoa é e não para a cor da pele dela"; "na igreja eu percebi que não preciso passar henê no cabelo, pois Deus me fez assim e eu sou bonita assim como ele me fez".
Podem parecer frases simples demais, mas, verdade seja dita, tais afirmativas refletem uma cosmovisão que precisa atingir a todos os campos da existência humana. Uma visão de mundo mais humana, menos individualista e segregadora, e muito mais includente.
Todavia, enquanto isso não acontece, não há como negar que só existem duas alternativas para a questão racial no Brasil: ou os negros e negras se dirigem à igreja ou, tristemente, ainda à cozinha.
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
“Instalações poéticas”
Nomes
Rolando Ladeira
Caio de Oliveira
Anabella Mercedes
Augusto Pomar
Maria do Bairro Villas-Boas
Marco Pessoa
Régia Conceição
Maria José de Jesus
João Marques Calvo Penteado
Maria da Glória Botafogo Damatta
Armando Nascimento de Jesus
Paulo de Tarso Faria
Ali Saddam Morriel
Aires Maristerra
"Crítica"
prometido...
profetizado...
não tecer quaisquer ilações acerca de...
às vezes, mentira toma...
mata o mortificado que estava em sombra...
dói...doe...quem dá elimina dor...
e engravida...
critico: se colocares tudo do avesso, fica bom...
"Jogo de palavras"
– “Vituperada”.
– Essa eu não sei.
– Não, não é o jogo. Esqueceu que troco o “L” pelo “R”?
– Ah, é mesmo. E...você me achou gostosa?
"Meia"
ela era meia nervosa
meia irritadiça
meia crítica
se sentia meia enganada
meia culpada
meia incompreendida
chegou meia atrasada
meia esbaforida
meia ofegante
meia sem graça
meia se desculpando
perguntou
meia envergonhada
minha boca está suja?
sim
muito?
não; meia.
Rolando Ladeira
Caio de Oliveira
Anabella Mercedes
Augusto Pomar
Maria do Bairro Villas-Boas
Marco Pessoa
Régia Conceição
Maria José de Jesus
João Marques Calvo Penteado
Maria da Glória Botafogo Damatta
Armando Nascimento de Jesus
Paulo de Tarso Faria
Ali Saddam Morriel
Aires Maristerra
"Crítica"
prometido...
profetizado...
não tecer quaisquer ilações acerca de...
às vezes, mentira toma...
mata o mortificado que estava em sombra...
dói...doe...quem dá elimina dor...
e engravida...
critico: se colocares tudo do avesso, fica bom...
"Jogo de palavras"
– “Vituperada”.
– Essa eu não sei.
– Não, não é o jogo. Esqueceu que troco o “L” pelo “R”?
– Ah, é mesmo. E...você me achou gostosa?
"Meia"
ela era meia nervosa
meia irritadiça
meia crítica
se sentia meia enganada
meia culpada
meia incompreendida
chegou meia atrasada
meia esbaforida
meia ofegante
meia sem graça
meia se desculpando
perguntou
meia envergonhada
minha boca está suja?
sim
muito?
não; meia.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
"O Haiti não é aqui, mas o Pará é"
A situação no Haiti é, como se sabe há tempos, de fome, miséria e guerras internas constantes. O exército brasileiro, elogiado por toda a comunidade internacional, ajuda no processo de pacificação daquele país.
Ao pensar naquele pedaço de chão, também feito por Deus, um poeta da música brasileira comparou os dois povos, dizendo: "reze pelo Haiti, chore pelo Haiti; o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui". Perturbadora e paradoxal, essa sentença.
Pensei, enquanto teólogo, sociólogo e pastor, e me aliviei deveras pelo fato de o Haiti não ser mesmo aqui. Porém, tive de me machucar muito mais fortemente do que se aqui fosse mesmo aquele país. Percebi que o Haiti pode até não ser aqui - mesmo com as licenças poéticas que pedem o contrário - mas o Pará, infelizmente, é. E, para dizer a verdade, e à luz dos últimos acontecimentos naquele estado brasileiro, seria melhor que o Haiti fosse aqui.
A adolescente L., de 15 anos, acusada de roubo, foi encarcerada numa cela com outros 25 homens durante 20 dias. Foi estuprada, queimada com cigarro, enquanto negou sexo, e teve seus cabelos cortados a facão "para se parecer com homem e não dar muitas chances para perceberem" (que havia uma mulher, ou melhor, uma criança, naquele local de horror). Durante todo esse tempo, a menina não recebeu comida. Se quisesse comer, tinha de se tornar escrava sexual dos detentos. Por que não recebia comida e quem são os responsáveis por isso são questões que lá não encontram respostas, embora cá possam ser facilmente respondidas.
Pela lei, L. não poderia ser presa, não poderia ser colocada em uma cela como aquela e não poderia deixar de ter alimento, mesmo que fosse em uma cela outra.
O caso poderia, num país sério, gerar prisão perpétua para os responsáveis, mas no Pará (e no Brasil como um todo, pois aconteceu o mesmo já em pelo menos outros 5 estados, segundo um relatório internacional pelos direitos da mulher), o fato não gerou mais do que a triste confirmação: "não é a primeira vez que acontece. Isso sempre aconteceu aqui na região" (palavras de testemunhas e da própria governadora do estado, Ana Carepa, do PT).
Fico, portanto, com a frase atribuída ao General De Gaulle, que diz que "o Brasil não é um país sério", pois sei que nada de relevante irá acontecer de fato à governadora, aos responsáveis pela prisão (embora estejam já naquela "afastadinha temporária") e aos "coronéis" da região.
A governadora prometeu, "energicamente", apurar o caso e se disse "envergonhada".
A pergunta que se faz é: Por que mesmo com quase todos os moradores da cidade sabendo da prisão da menina, não se ouviu o grito de denúncia da população? Segundo palavras ouvidas pela Folha de S. Paulo: "Medo de morrer. Aqui todo mundo tem medo", disse a tia de um dos presos transferidos. "Se a delegada põe uma menina na cela com os homens, e a juíza mantém ela lá, quem sou eu pra denunciar. Aliás, denunciar para quem?"
A delegada a que se refere a mulher é Flávia Verônica Pereira, responsável pela prisão em flagrante de L. A juíza é Clarice Maria de Andrade. A delegada já está "afastada" e a juíza está "sob investigação", ainda! Meu Deus, isso não pode dar em nada!
Pensei nesse caso essa semana e cogitei até a possibilidade de dar uma nova chance ao Jáder Barbalho. Afinal, perto de tudo isso até que ele me parecia um "santo paraense".
Mas não, não vou terminar o texto assim. O Jáder é a ratificação disso tudo, pois "manda no Pará". É canalha também. Hoje não tem perdão; não quero que aquele estado seja aqui. O Pará não é aqui. Ou é, mas como um protótipo do inferno. Com esse Pará eu quero Parar.
Perguntaram-me dia desses se, sendo um teólogo liberal, acredito no inferno. Sim, acredito. Vivo pertinho dele até. Quanto ao diabo, está mais distante, pois desconfio que seja o Bush. Tenho quase certeza. O demônio-mór, acho que é o Chaves (o venezuelano, não o outro), embora ele e o George W finjam brigar. Já o ministro das relações exteriores, é o Jáder. Só pode ser. Quanto a mim; eu deveria ter nascido pé de laranja.
liberdade, beleza e Graça...
Ao pensar naquele pedaço de chão, também feito por Deus, um poeta da música brasileira comparou os dois povos, dizendo: "reze pelo Haiti, chore pelo Haiti; o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui". Perturbadora e paradoxal, essa sentença.
Pensei, enquanto teólogo, sociólogo e pastor, e me aliviei deveras pelo fato de o Haiti não ser mesmo aqui. Porém, tive de me machucar muito mais fortemente do que se aqui fosse mesmo aquele país. Percebi que o Haiti pode até não ser aqui - mesmo com as licenças poéticas que pedem o contrário - mas o Pará, infelizmente, é. E, para dizer a verdade, e à luz dos últimos acontecimentos naquele estado brasileiro, seria melhor que o Haiti fosse aqui.
A adolescente L., de 15 anos, acusada de roubo, foi encarcerada numa cela com outros 25 homens durante 20 dias. Foi estuprada, queimada com cigarro, enquanto negou sexo, e teve seus cabelos cortados a facão "para se parecer com homem e não dar muitas chances para perceberem" (que havia uma mulher, ou melhor, uma criança, naquele local de horror). Durante todo esse tempo, a menina não recebeu comida. Se quisesse comer, tinha de se tornar escrava sexual dos detentos. Por que não recebia comida e quem são os responsáveis por isso são questões que lá não encontram respostas, embora cá possam ser facilmente respondidas.
Pela lei, L. não poderia ser presa, não poderia ser colocada em uma cela como aquela e não poderia deixar de ter alimento, mesmo que fosse em uma cela outra.
O caso poderia, num país sério, gerar prisão perpétua para os responsáveis, mas no Pará (e no Brasil como um todo, pois aconteceu o mesmo já em pelo menos outros 5 estados, segundo um relatório internacional pelos direitos da mulher), o fato não gerou mais do que a triste confirmação: "não é a primeira vez que acontece. Isso sempre aconteceu aqui na região" (palavras de testemunhas e da própria governadora do estado, Ana Carepa, do PT).
Fico, portanto, com a frase atribuída ao General De Gaulle, que diz que "o Brasil não é um país sério", pois sei que nada de relevante irá acontecer de fato à governadora, aos responsáveis pela prisão (embora estejam já naquela "afastadinha temporária") e aos "coronéis" da região.
A governadora prometeu, "energicamente", apurar o caso e se disse "envergonhada".
A pergunta que se faz é: Por que mesmo com quase todos os moradores da cidade sabendo da prisão da menina, não se ouviu o grito de denúncia da população? Segundo palavras ouvidas pela Folha de S. Paulo: "Medo de morrer. Aqui todo mundo tem medo", disse a tia de um dos presos transferidos. "Se a delegada põe uma menina na cela com os homens, e a juíza mantém ela lá, quem sou eu pra denunciar. Aliás, denunciar para quem?"
A delegada a que se refere a mulher é Flávia Verônica Pereira, responsável pela prisão em flagrante de L. A juíza é Clarice Maria de Andrade. A delegada já está "afastada" e a juíza está "sob investigação", ainda! Meu Deus, isso não pode dar em nada!
Pensei nesse caso essa semana e cogitei até a possibilidade de dar uma nova chance ao Jáder Barbalho. Afinal, perto de tudo isso até que ele me parecia um "santo paraense".
Mas não, não vou terminar o texto assim. O Jáder é a ratificação disso tudo, pois "manda no Pará". É canalha também. Hoje não tem perdão; não quero que aquele estado seja aqui. O Pará não é aqui. Ou é, mas como um protótipo do inferno. Com esse Pará eu quero Parar.
Perguntaram-me dia desses se, sendo um teólogo liberal, acredito no inferno. Sim, acredito. Vivo pertinho dele até. Quanto ao diabo, está mais distante, pois desconfio que seja o Bush. Tenho quase certeza. O demônio-mór, acho que é o Chaves (o venezuelano, não o outro), embora ele e o George W finjam brigar. Já o ministro das relações exteriores, é o Jáder. Só pode ser. Quanto a mim; eu deveria ter nascido pé de laranja.
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
"O caminho de Emaús"
Poucos textos bíblicos são tão enigmáticos quanto o do Evangelho de Lucas, no capítulo 24. No texto que vai do versículo 13 ao 35, Lucas narra a volta de dois discípulos de Jesus para a cidade de Emaús, após terem vivenciado o martírio de seu mestre, em Jerusalém. Jesus havia morrido e uma sensação depressiva tomava conta de seus muitos discípulos e não apenas de seus doze apóstolos. Cada um fugiu como pôde da presença das autoridades que queriam incriminar a todos os que seguiram aquele que agora estava morto, por conta deste ter levantado tanta insurreição e contradição em Jerusalém e circunvizinhanças.
O enigma do texto está no fato de, após percorrerem uma parte do árido caminho, os dois discípulos não reconhecerem a pessoa que passara a lhes fazer companhia na triste viagem. Diz o texto que o próprio Jesus caminhava ao lado dos dois tristes amigos. Já ressuscitado, o mestre perguntava aos dois acerca do motivo da tristeza que lhes tomava. É mesmo de se duvidar que uma pessoa – no caso dessa narrativa, duas – não reconheça alguém com o qual compartilhou importantes momentos da vida durante três longos anos. Não é possível que se esqueça da voz, do jeito, do vocabulário, dos maneirismos, etc. Ainda assim, o texto diz que os dois não reconheceram Jesus naquele momento da árida caminhada. Fica mesmo difícil de crer em tal passagem à primeira lida. Todavia, e em primeiro lugar, cabe lembrar que eram discípulos, mas não eram dos apóstolos, que acompanharam Jesus o tempo todo. Portanto, não conheciam o mestre tão bem assim. É importante que se lembre também que, em momentos de depressão e decepção intensa, o que é desconhecido pode vir a ficar claro e o que é já há muito cotidiano pode passar a sofrer um grande estranhamento. Tem coisas que só a depressão explica. Quando não explica, é porque em estado depressivo não se pretende mesmo explicar nada. E, já que só ela, a depressão, poderia explicar, fica tudo sem explicação.
É importantíssimo que se saiba ainda que os dois discípulos estavam totalmente inteirados dos fatos que os cercavam, mas não entendiam nada acerca da angústia que lhes tomava o interior. Era como se Jesus fosse o único que de nada sabia.
Nos dias de hoje a coisa não está tão diferente; agimos como se o Senhor Jesus se tivesse tornado algo de totalmente obsoleto, de “tão desinformado" que parece estar. É como se o Verbo Divino não tivesse mais ciência do que se passa ao redor dos homens e mulheres pelos quais se propôs a morrer. Os indivíduos precisam "informá-lo dos fatos".
Aqueles dois discípulos sabiam de tudo. Tinham todas as últimas informações sobre a vida e a morte de uma pessoa conhecida deles. Mas não sabiam – ou não reconheciam – que aquele que a eles se dirigia – e que outrora estivera morto – era agora vivo e a própria fonte de toda vida; o único capaz de tirar-lhes daquele estado de profunda angústia.
Sabia-se e sabe-se de tudo, mas desconhece-se, ainda, o que o Senhor pode fazer, pois ele é uma resposta que não mais agrada a uma sociedade encantada por tudo o que aprendeu e sabe fazer e ter. E, quando a tese do sociólogo Max Weber fala acerca do desencantamento do mundo, muitos não sabem e nem querem mesmo saber do que se trata.
Na seqüência do texto, Jesus faz menção de ir embora, mas os dois o convidam a repousar na cidade deles, já que a hora avançara bem. Jesus aceita o convite e compartilha com eles do pão. É reconhecido neste instante, mas desaparece do meio dos dois, segundo o texto.
Comentando o estranho episódio, um deles diz: “por acaso não ardia o peito dentro em nós enquanto ele nos falava aquelas coisas?”.
Jesus pode até parecer fora de moda e obsoleto para uma sociedade que parece já ter tudo. Mas, quando ele fala com alguém – e ele sempre fala com aquele ou aquela que abre o coração para isso – uma sensação diferente toma conta do interior da pessoa. Ciência alguma explica isso. Eu também não. Nem tento.
liberdade, beleza e Graça...
O enigma do texto está no fato de, após percorrerem uma parte do árido caminho, os dois discípulos não reconhecerem a pessoa que passara a lhes fazer companhia na triste viagem. Diz o texto que o próprio Jesus caminhava ao lado dos dois tristes amigos. Já ressuscitado, o mestre perguntava aos dois acerca do motivo da tristeza que lhes tomava. É mesmo de se duvidar que uma pessoa – no caso dessa narrativa, duas – não reconheça alguém com o qual compartilhou importantes momentos da vida durante três longos anos. Não é possível que se esqueça da voz, do jeito, do vocabulário, dos maneirismos, etc. Ainda assim, o texto diz que os dois não reconheceram Jesus naquele momento da árida caminhada. Fica mesmo difícil de crer em tal passagem à primeira lida. Todavia, e em primeiro lugar, cabe lembrar que eram discípulos, mas não eram dos apóstolos, que acompanharam Jesus o tempo todo. Portanto, não conheciam o mestre tão bem assim. É importante que se lembre também que, em momentos de depressão e decepção intensa, o que é desconhecido pode vir a ficar claro e o que é já há muito cotidiano pode passar a sofrer um grande estranhamento. Tem coisas que só a depressão explica. Quando não explica, é porque em estado depressivo não se pretende mesmo explicar nada. E, já que só ela, a depressão, poderia explicar, fica tudo sem explicação.
É importantíssimo que se saiba ainda que os dois discípulos estavam totalmente inteirados dos fatos que os cercavam, mas não entendiam nada acerca da angústia que lhes tomava o interior. Era como se Jesus fosse o único que de nada sabia.
Nos dias de hoje a coisa não está tão diferente; agimos como se o Senhor Jesus se tivesse tornado algo de totalmente obsoleto, de “tão desinformado" que parece estar. É como se o Verbo Divino não tivesse mais ciência do que se passa ao redor dos homens e mulheres pelos quais se propôs a morrer. Os indivíduos precisam "informá-lo dos fatos".
Aqueles dois discípulos sabiam de tudo. Tinham todas as últimas informações sobre a vida e a morte de uma pessoa conhecida deles. Mas não sabiam – ou não reconheciam – que aquele que a eles se dirigia – e que outrora estivera morto – era agora vivo e a própria fonte de toda vida; o único capaz de tirar-lhes daquele estado de profunda angústia.
Sabia-se e sabe-se de tudo, mas desconhece-se, ainda, o que o Senhor pode fazer, pois ele é uma resposta que não mais agrada a uma sociedade encantada por tudo o que aprendeu e sabe fazer e ter. E, quando a tese do sociólogo Max Weber fala acerca do desencantamento do mundo, muitos não sabem e nem querem mesmo saber do que se trata.
Na seqüência do texto, Jesus faz menção de ir embora, mas os dois o convidam a repousar na cidade deles, já que a hora avançara bem. Jesus aceita o convite e compartilha com eles do pão. É reconhecido neste instante, mas desaparece do meio dos dois, segundo o texto.
Comentando o estranho episódio, um deles diz: “por acaso não ardia o peito dentro em nós enquanto ele nos falava aquelas coisas?”.
Jesus pode até parecer fora de moda e obsoleto para uma sociedade que parece já ter tudo. Mas, quando ele fala com alguém – e ele sempre fala com aquele ou aquela que abre o coração para isso – uma sensação diferente toma conta do interior da pessoa. Ciência alguma explica isso. Eu também não. Nem tento.
liberdade, beleza e Graça...
domingo, 7 de outubro de 2007
“O caso Renan e as retóricas reacionárias”
Poucos conseguem entender o fato de, depois de tudo o que aconteceu no país e no Senado Federal, Renan Calheiros continuar a sentar-se na cadeira de presidente de uma das mais importantes instituições desta República Federativa.
As declarações do senador chegam mesmo a assustar, uma vez que trazem à tona construtos como “foi uma vitória da democracia” ou “o povo brasileiro sabe que eu sou inocente”.
Uma boa teorização se faz necessária para que se consiga entender, pelo menos em parte, o indigesto "caso Renan". Uma boa possibilidade é lançar mão das idéias do sociólogo Albert Hirschman, com suas "retóricas reacionárias".
O caso Renan faz com que se tenha a absoluta certeza de que o Brasil é um país reacionário ao extremo. Hirschman, ao pensar as “retóricas” acima citadas, buscou entender porque a massa não reage quando existe extremada necessidade de tal acontecimento. Para defender sua tese, o autor apresenta o século XVIII como o século em que se buscou lutar pelos direitos civis; o século XIX como o momento da luta pelos direitos políticos e o século XX como aquele da busca pelos direitos sociais.
No afã de mudar o status quo que lhes oprimia, os grupos de reação aos governos autoritários dos três séculos estudados por Hirschman encontraram retóricas reacionárias que sempre intentaram dissuadi-los da luta por seus direitos.
À primeira das retóricas, usada quando dos momentos das lutas por direitos civis, no século XVIII, Albert Hirschman chama de “retórica da perversidade”. O grupo hegemônico, ao perceber que o povo está chegando perto de tirar-lhe os privilégios, lança mão de uma postura perversa, convencendo as massas de que “isso pode ter um efeito contrário e tudo ficar pior do que já está”. O povo, amedrontando-se frente ao novo, se cala.
O segundo efeito é o chamado de “retórica da futilidade” e foi muito visto no século XIX, quando das lutas por direitos políticos. Por esse pensar, os grupos que detêm o poder político lançam mão da construção “por que fazer tanto barulho, se não vai dar em nada?!”. As massas são convencidas de que sua revolta não vale tanto esforço e novamente se cala.
O terceiro efeito apresentado por Hirschman é o da “retórica da ameaça” e está muito presente nas lutas por direitos sociais no século XX. Pela lógica da ameaça, os hegemônicos ameaçam as massas afirmando que “lutar por seus direitos ameaçará até os poucos direitos já conquistados”. O povo, temendo perder até o básico do básico que tem, novamente se cala e não luta.
Pensar o país e o caso Renan à luz da teoria de Albert Hirschman tem, portanto, sua relevância, uma vez que as três retóricas parecem ser fantasmas assombrando o povo brasileiro. No caso da perversidade, vai que tirar o Renan tenha um efeito perverso e traga de volta o Jader Barbalho! Pensando-se no efeito da futilidade, que diferença faz ter ou não o Renan Calheiros no comando de uma casa na qual os brasileiros nem acreditam mais? E, finalmente, focando-se o efeito da ameaça, ficar pensando em Renan poderia estar "ameaçando nossa paz", tirando-nos o tempo e os finais de semana de descanso frente à tevê, vendo Faustãos, Gugus ou Campeonatos Brasileiros! Melhor, portanto, não perder tempo com isso. Assim, fica tudo como está; a elite se cansa e o povo descansa. E dá uma tristeza que o peito chega a ficar dorido.
liberdade, beleza e Graça...
As declarações do senador chegam mesmo a assustar, uma vez que trazem à tona construtos como “foi uma vitória da democracia” ou “o povo brasileiro sabe que eu sou inocente”.
Uma boa teorização se faz necessária para que se consiga entender, pelo menos em parte, o indigesto "caso Renan". Uma boa possibilidade é lançar mão das idéias do sociólogo Albert Hirschman, com suas "retóricas reacionárias".
O caso Renan faz com que se tenha a absoluta certeza de que o Brasil é um país reacionário ao extremo. Hirschman, ao pensar as “retóricas” acima citadas, buscou entender porque a massa não reage quando existe extremada necessidade de tal acontecimento. Para defender sua tese, o autor apresenta o século XVIII como o século em que se buscou lutar pelos direitos civis; o século XIX como o momento da luta pelos direitos políticos e o século XX como aquele da busca pelos direitos sociais.
No afã de mudar o status quo que lhes oprimia, os grupos de reação aos governos autoritários dos três séculos estudados por Hirschman encontraram retóricas reacionárias que sempre intentaram dissuadi-los da luta por seus direitos.
À primeira das retóricas, usada quando dos momentos das lutas por direitos civis, no século XVIII, Albert Hirschman chama de “retórica da perversidade”. O grupo hegemônico, ao perceber que o povo está chegando perto de tirar-lhe os privilégios, lança mão de uma postura perversa, convencendo as massas de que “isso pode ter um efeito contrário e tudo ficar pior do que já está”. O povo, amedrontando-se frente ao novo, se cala.
O segundo efeito é o chamado de “retórica da futilidade” e foi muito visto no século XIX, quando das lutas por direitos políticos. Por esse pensar, os grupos que detêm o poder político lançam mão da construção “por que fazer tanto barulho, se não vai dar em nada?!”. As massas são convencidas de que sua revolta não vale tanto esforço e novamente se cala.
O terceiro efeito apresentado por Hirschman é o da “retórica da ameaça” e está muito presente nas lutas por direitos sociais no século XX. Pela lógica da ameaça, os hegemônicos ameaçam as massas afirmando que “lutar por seus direitos ameaçará até os poucos direitos já conquistados”. O povo, temendo perder até o básico do básico que tem, novamente se cala e não luta.
Pensar o país e o caso Renan à luz da teoria de Albert Hirschman tem, portanto, sua relevância, uma vez que as três retóricas parecem ser fantasmas assombrando o povo brasileiro. No caso da perversidade, vai que tirar o Renan tenha um efeito perverso e traga de volta o Jader Barbalho! Pensando-se no efeito da futilidade, que diferença faz ter ou não o Renan Calheiros no comando de uma casa na qual os brasileiros nem acreditam mais? E, finalmente, focando-se o efeito da ameaça, ficar pensando em Renan poderia estar "ameaçando nossa paz", tirando-nos o tempo e os finais de semana de descanso frente à tevê, vendo Faustãos, Gugus ou Campeonatos Brasileiros! Melhor, portanto, não perder tempo com isso. Assim, fica tudo como está; a elite se cansa e o povo descansa. E dá uma tristeza que o peito chega a ficar dorido.
liberdade, beleza e Graça...
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