Bonitinha on the rocks
A atitude de ir ao cinema é contratempo, quase sempre um problema
Adolescente enche o saco e rouba o tempo que você não tem
Mas à tarde, até que vale a pena, sobretudo se do lado tem pequena
Olho pra tela, olho pra ela, e é amável esse vai-vem
E é assim que aparece o motivo da prece
Trocam telefone, melhor se conhecem
Essa mulher já leu de tudo e isso eu nunca vi
É fonte de inspiração, toque no coração
Nova promessa, vida em comunhão
Sem elogios, pra vaidade da cabeça dela não subir
Ficando dias sem ligar; inventou “fui viajar”, um recadinho só pra consolar
Mas de otário, eu lhe garanto, a bonitinha não me vai fazer
Não disputo em relação, também não brigo, não
Mas impropérios lançarei em sua direção
Não quero amor, agora é ódio; saca só, aqui vai seu cachê
A verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José *
E vendo Kubrick** aprendi como fugir dessa situação
Você pensa que sabe tudo, então
Eu vou provar que tudo isso é ilusão
Já leu o Poe, os Beatnicks, Ettore Scola no cinema vê
Mas isso tudo não emociona a mim
Verborragia de intelecto sem fim
Não valorizo e quase sempre eu escarro
Só pra me entreter
E é assim é que eu sigo; que eu paro, que eu brigo
Mesmo desprovido, não temo o perigo
Me moldo pra um dia eu ter um real valor
“Mas se isso não te interessa, pra quê tanta pressa?
Não enxergue em mim uma nova promessa
Namore com outra, ou com outro, seja o que for”
No Brasil tudo é assim; não sobrou nada pra mim
É ditadura do PU***, televisão do início ao fim
Nas bibliotecas já tem teia de aranha para o Guinness Book
Não há canção que dê mais jeito; não surtem mais efeito
Autoridade indiferente, gente chula, novo pleito
Até o dia em que deixar de ser Brasil esse país do truque
E a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
Você pega o carro do papai
Não interessa, você não diz pra onde vai
“Vidro fumê, não uso cinto e a 200 ninguém vai pegar
E, se pega, não dá complicação
Tenho direito de andar na contramão
Papai juiz, manda chofer, três empregados só pra me livrar
E é assim que tem de ser, não sei se vou crescer
Não enche o saco, não se mete; essa vida não é pra você
Fica na sua e desse jeito eu sei que o bicho não lhe vai pegar
Quando o cara é vacilão, não anda comigo, não
Fica pra trás e eu sigo logo, mudando de direção
Ouvindo Zeppelin, com um beck bem daqueles, só pra relaxar”
Mas a verdade é que a gente não te quer
Não vem iludindo, com esse jeito de mulher
Fiz faculdade e pra grupo, como otário, não me levas, não
Pois, malandro é malandro e mané é mané
Pra seu governo, eu vim lá de São José
E vendo Kubrick aprendi como fugir dessa situação
* São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, cidade de minha infância e adolescência.
** Stanley Kubrick, genial cineasta estadunidense.
*** Pensamento único.
(Instalação poética composta em homenagem a Flávia Paes Barreto, uma amiga muito inteligente, produtora cultural, que sumiu e nunca mais deu as caras. Essa é a história, poetizada, de como nos conhecemos).
liberdade, beleza e Graça...
Quem sou eu

- Cleinton
- Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.
terça-feira, 5 de maio de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
“Uma década de tiros em Columbine”
Há exatos dez anos, no dia 20 de abril de 1999, na Escola Columbine, em Litleton (Colorado), dois adolescentes fortemente armados de pistolas, rifles e muita munição mataram doze colegas e mais uma professora, dando, em seguida, cabo de suas próprias vidas. O cineasta estadunidense Michael Moore fez um excelente filme-documentário a respeito do massacre que chocou o mundo, marcando tristemente aquele abril sangrento.
Ao contrário do que quis outro fantástico diretor de cinema, o também estadunidense Gus Van Sant, com o maravilhoso “Elefante”, também sobre o mesmo massacre de Columbine, esse texto não pretende tratar da questão psicológica dos garotos assassinos, mas discutir a (in)segurança nossa de todos os dias e o porte extremamente facilidade de armas, nos Estados Unidos, que muitos entendem como solução para episódios como o lembrado aqui. Relembrar, já no título desse texto, a película “Tiros em Columbine”, de Moore, não é, pois, um expediente gratuito.
De lá para cá, vinte e oito novos massacres aconteceram nos EUA e a discussão que nos dias atuais se coloca é sobre a quem interessa o debate sobre o porte de armas. Fora os dois maravilhosos filmes – obrigatórios nas boas aulas de Sociologia – uma reflexão acerca do tema se faz extremamente pertinente.
O discurso, do qual faço parte, de que violência gera violência parece não fazer a cabeça de um sem número de cidadãos dos Estados Unidos, que se acham detentores de um direito divino (você não leu errado, eu disse divino!) de possuir uma arma de fogo e se “proteger”.
Larry Pratt, diretor da Gun Owners of America (Donos de Armas da América, em inglês), organização fundada em 1975 para defender o direito dos estadunidenses de adquirir e portar armas defende: “Nos EUA, nós temos a Segunda Emenda, que protege nosso direito, dado por Deus, de nos proteger com uma arma de fogo. Historicamente, a posse de arma de fogo foi exigida de todo homem livre, em todo nosso período colonial. Por 150 anos, na América, sob a Coroa Britânica, tivemos leis segundo as quais, se você era um homem livre, tinha que possuir um rifle e ir a uma milícia praticar. Quando a Constituição foi escrita, era isso que ela dizia. Que todos os indivíduos têm direito a rifles militares ou eles seriam multados. Havia punições para quem não tivesse armas”.
Justificando uma saída para os vinte e oito massacres desde Columbine, Pratt diz que “se alguém tivesse uma arma nesses locais, não haveria massacre, pois era só atirar e matar o possível assassino, antes que ele o fizesse com outros (...) violência resolve problemas”.
É sabido que a indústria de armamentos é extremamente lucrativa e não vai deixar de se impor num debate como esse. Todavia, é preciso concentrar esforços nos argumentos de cada lado, uma vez que, se Deus está do lado de lá, nós já perdemos do lado de cá.
Porém, é bom que saibamos que o conceito de liberdade, por mais amplo que possa parecer, não diz respeito a poder se armar, mas justamente não precisar de tal postura para se sentir seguro e liberto. Se a Constituição estadunidense defende ainda a liberdade de outro modo, é preciso que uma revisão conceitual se dê, pois os tempos e as mentalidades mudaram. Tanto assim é, que ninguém vai ser multado hoje por não ter um rifle!
Para serem mais honestos, pois, os defensores do argumento armado deveriam, pelo menos, mudar a argumentação, afinal, o que está em jogo não é o construto liberdade, mas a ganância da maior e mais lucrativa indústria do mundo capitalista. Quanto ao próximo massacre, que infelizmente virá logo, seguindo-se as estatísticas, eles que se virem por lá. Até porque, já temos muita corrupção, miséria, Daniel Dantas, José e Roseana Sarney, Fernando Collor e Gilmar Mendes para nos preocupar por aqui.
liberdade, beleza e Graça...
Ao contrário do que quis outro fantástico diretor de cinema, o também estadunidense Gus Van Sant, com o maravilhoso “Elefante”, também sobre o mesmo massacre de Columbine, esse texto não pretende tratar da questão psicológica dos garotos assassinos, mas discutir a (in)segurança nossa de todos os dias e o porte extremamente facilidade de armas, nos Estados Unidos, que muitos entendem como solução para episódios como o lembrado aqui. Relembrar, já no título desse texto, a película “Tiros em Columbine”, de Moore, não é, pois, um expediente gratuito.
De lá para cá, vinte e oito novos massacres aconteceram nos EUA e a discussão que nos dias atuais se coloca é sobre a quem interessa o debate sobre o porte de armas. Fora os dois maravilhosos filmes – obrigatórios nas boas aulas de Sociologia – uma reflexão acerca do tema se faz extremamente pertinente.
O discurso, do qual faço parte, de que violência gera violência parece não fazer a cabeça de um sem número de cidadãos dos Estados Unidos, que se acham detentores de um direito divino (você não leu errado, eu disse divino!) de possuir uma arma de fogo e se “proteger”.
Larry Pratt, diretor da Gun Owners of America (Donos de Armas da América, em inglês), organização fundada em 1975 para defender o direito dos estadunidenses de adquirir e portar armas defende: “Nos EUA, nós temos a Segunda Emenda, que protege nosso direito, dado por Deus, de nos proteger com uma arma de fogo. Historicamente, a posse de arma de fogo foi exigida de todo homem livre, em todo nosso período colonial. Por 150 anos, na América, sob a Coroa Britânica, tivemos leis segundo as quais, se você era um homem livre, tinha que possuir um rifle e ir a uma milícia praticar. Quando a Constituição foi escrita, era isso que ela dizia. Que todos os indivíduos têm direito a rifles militares ou eles seriam multados. Havia punições para quem não tivesse armas”.
Justificando uma saída para os vinte e oito massacres desde Columbine, Pratt diz que “se alguém tivesse uma arma nesses locais, não haveria massacre, pois era só atirar e matar o possível assassino, antes que ele o fizesse com outros (...) violência resolve problemas”.
É sabido que a indústria de armamentos é extremamente lucrativa e não vai deixar de se impor num debate como esse. Todavia, é preciso concentrar esforços nos argumentos de cada lado, uma vez que, se Deus está do lado de lá, nós já perdemos do lado de cá.
Porém, é bom que saibamos que o conceito de liberdade, por mais amplo que possa parecer, não diz respeito a poder se armar, mas justamente não precisar de tal postura para se sentir seguro e liberto. Se a Constituição estadunidense defende ainda a liberdade de outro modo, é preciso que uma revisão conceitual se dê, pois os tempos e as mentalidades mudaram. Tanto assim é, que ninguém vai ser multado hoje por não ter um rifle!
Para serem mais honestos, pois, os defensores do argumento armado deveriam, pelo menos, mudar a argumentação, afinal, o que está em jogo não é o construto liberdade, mas a ganância da maior e mais lucrativa indústria do mundo capitalista. Quanto ao próximo massacre, que infelizmente virá logo, seguindo-se as estatísticas, eles que se virem por lá. Até porque, já temos muita corrupção, miséria, Daniel Dantas, José e Roseana Sarney, Fernando Collor e Gilmar Mendes para nos preocupar por aqui.
liberdade, beleza e Graça...
terça-feira, 14 de abril de 2009
“O novo império de Adriano na favela”
É difícil entender como uma pessoa que alcançou tudo na vida, morando em Milão e tendo todo o dinheiro e vantagens que um europeu bem sucedido possui, poderia trocar tudo isso por uma vida simples, andando de bermuda e descalço numa favela carioca.
Parece não ter a menor coerência a decisão do jogador de futebol Adriano, ídolo da Inter de Milão e da seleção brasileira, de “parar por tempo indeterminado”, por pura falta de motivação e por estar vivendo uma vida que não é a sua. Na cabeça de todos os que somos frutos de uma sociedade capitalista, que preza mais pelo ter do que pelo ser, isso é “coisa de maluco”. Todavia, não é tanta maluquice assim o que o jovem jogador apregoa para si.
O francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia, cunhou o conceito de anomia. Anomia é o estado em que uma pessoa fica quando dos momentos de perda de referenciais; perda das regras sociais que o faziam sentir-se pertencente a um determinado grupo, concordando com este em suas práticas sociais. A anomia é, pensando na etimologia da palavra, a falta do nomos – palavra grega que pode ser traduzida por normas, regras, referências – uma vez que a partícula “a”, que vem jungida no início, tem a função de expressar negação. O indivíduo anômico é aquele que perdeu tais referenciais, portanto. Isso não é raro de acontecer com crianças, quando dos momentos de separação conjugal dos pais, por exemplo.
Adriano disse que saiu muito cedo do Brasil. Foi “retirado”, pois, daquilo que fazia sentido para ele. Foi “separado” de um grupo com o qual concordava desde sempre e enviado a um país onde a visão de mundo é completamente diferente. Entrou em contato com o estranho.
Perder “de forma proposital” tudo o que conquistou, em termos materiais, seria para muitos, um “suicídio econômico” da parte do jovem e ainda promissor jogador, e foi justamente numa obra chamada O suicídio que Durkheim conceituou estados psíquicos parecidos com esse que agora estamos tentando pensar.
Lançando mão de recursos estatísticos, o sociólogo francês percebeu que a taxa de suicídios na Europa do século XIX era muito maior entre pessoas solteiras, protestantes e não pertencentes a um grupo social determinado por regras fortes. Assim, chegou à conclusão de que a igreja católica romana, por ter regras bem determinadas de controle social, fazia com que o sentimento de pertença fosse mais forte do que no movimento protestante daquele momento, onde se apregoava justamente uma liberdade absoluta em relação ao antigo e dominador clero da cúria romana. O vínculo, ou a falta dele, em outras instituições sociais como a família, o serviço militar ou os clubes sociais de interesse também foram pensados como detentores de uma capacidade de gerar ou não anomia nos indivíduos.
Voltando à atitude do jogador, que é nosso objeto de análise, podemos pensar que o “suicídio” de Adriano – o econômico, claro, pois ele está, graças a Deus, vivo – nada mais faz do que corroborar a tese de Durkheim, uma vez que o jogador diz que “perdeu todas as certezas que tinha na vida”. Segundo suas próprias palavras: “a única certeza que sobra é a de que não deixarei de estar todos os dias na favela, andando de bermudas e soltando pipas descalço”.
Adriano é solteiro, pelo que consta não faz parte de nenhum grupo religioso ou clube social de interesse, acaba de perder um relacionamento no qual estava emocionalmente muito envolvido e tinha como único grupo social um clube num país distante e com pessoas de cosmovisão completamente diferente dos sonhos de um menino apaixonado por pipas e bailes funk de favelas. O argumento de Durkheim, portanto, se justifica e ajuda a explicar o evento.
E é por isso que não se deve ficar indignado, mas, ao contrário, respeitar atitudes como a do jogador brasileiro. Mais do que nunca, é hora de dizer, e sem demagogia: viva Durkheim e viva Adriano, o imperador da favela da Vila Cruzeiro!
liberdade, beleza e Graça...
Parece não ter a menor coerência a decisão do jogador de futebol Adriano, ídolo da Inter de Milão e da seleção brasileira, de “parar por tempo indeterminado”, por pura falta de motivação e por estar vivendo uma vida que não é a sua. Na cabeça de todos os que somos frutos de uma sociedade capitalista, que preza mais pelo ter do que pelo ser, isso é “coisa de maluco”. Todavia, não é tanta maluquice assim o que o jovem jogador apregoa para si.
O francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia, cunhou o conceito de anomia. Anomia é o estado em que uma pessoa fica quando dos momentos de perda de referenciais; perda das regras sociais que o faziam sentir-se pertencente a um determinado grupo, concordando com este em suas práticas sociais. A anomia é, pensando na etimologia da palavra, a falta do nomos – palavra grega que pode ser traduzida por normas, regras, referências – uma vez que a partícula “a”, que vem jungida no início, tem a função de expressar negação. O indivíduo anômico é aquele que perdeu tais referenciais, portanto. Isso não é raro de acontecer com crianças, quando dos momentos de separação conjugal dos pais, por exemplo.
Adriano disse que saiu muito cedo do Brasil. Foi “retirado”, pois, daquilo que fazia sentido para ele. Foi “separado” de um grupo com o qual concordava desde sempre e enviado a um país onde a visão de mundo é completamente diferente. Entrou em contato com o estranho.
Perder “de forma proposital” tudo o que conquistou, em termos materiais, seria para muitos, um “suicídio econômico” da parte do jovem e ainda promissor jogador, e foi justamente numa obra chamada O suicídio que Durkheim conceituou estados psíquicos parecidos com esse que agora estamos tentando pensar.
Lançando mão de recursos estatísticos, o sociólogo francês percebeu que a taxa de suicídios na Europa do século XIX era muito maior entre pessoas solteiras, protestantes e não pertencentes a um grupo social determinado por regras fortes. Assim, chegou à conclusão de que a igreja católica romana, por ter regras bem determinadas de controle social, fazia com que o sentimento de pertença fosse mais forte do que no movimento protestante daquele momento, onde se apregoava justamente uma liberdade absoluta em relação ao antigo e dominador clero da cúria romana. O vínculo, ou a falta dele, em outras instituições sociais como a família, o serviço militar ou os clubes sociais de interesse também foram pensados como detentores de uma capacidade de gerar ou não anomia nos indivíduos.
Voltando à atitude do jogador, que é nosso objeto de análise, podemos pensar que o “suicídio” de Adriano – o econômico, claro, pois ele está, graças a Deus, vivo – nada mais faz do que corroborar a tese de Durkheim, uma vez que o jogador diz que “perdeu todas as certezas que tinha na vida”. Segundo suas próprias palavras: “a única certeza que sobra é a de que não deixarei de estar todos os dias na favela, andando de bermudas e soltando pipas descalço”.
Adriano é solteiro, pelo que consta não faz parte de nenhum grupo religioso ou clube social de interesse, acaba de perder um relacionamento no qual estava emocionalmente muito envolvido e tinha como único grupo social um clube num país distante e com pessoas de cosmovisão completamente diferente dos sonhos de um menino apaixonado por pipas e bailes funk de favelas. O argumento de Durkheim, portanto, se justifica e ajuda a explicar o evento.
E é por isso que não se deve ficar indignado, mas, ao contrário, respeitar atitudes como a do jogador brasileiro. Mais do que nunca, é hora de dizer, e sem demagogia: viva Durkheim e viva Adriano, o imperador da favela da Vila Cruzeiro!
liberdade, beleza e Graça...
sábado, 4 de abril de 2009
"Instalações poéticas"
Tempo de descobertas
Tempo de descobertas
O tempo. As descobertas
As descobertas do tempo
As descobertas no tempo
O tempo descoberto
Com o tempo, se descobre
E descobre-se no tempo
De tempos em tempos...
De descoberta em descoberta...
Pode-se descobrir as descobertas dos outros!
O que os descobridores descobriram!
O que estava coberto; encoberto
E, descobrindo-se, mostra-se em tempo
Pois, a tempo, tira-se a cobertura
Ainda em tempo, descobre-se-lhe
E tira-se o que encobria; a máscara
E mostra-se, permitindo descobrir-se
Num tempo onde nada fica encoberto
Descubra-se!
(Instalação poética escrita em homenagem aos 101 anos do Colégio Batista Shepard, no Rio de Janeiro, onde sou professor de Filosofia e Sociologia. O tema geral do Colégio Batista para 2009 é Tempo de descobertas).
liberdade, beleza e Graça...
Tempo de descobertas
O tempo. As descobertas
As descobertas do tempo
As descobertas no tempo
O tempo descoberto
Com o tempo, se descobre
E descobre-se no tempo
De tempos em tempos...
De descoberta em descoberta...
Pode-se descobrir as descobertas dos outros!
O que os descobridores descobriram!
O que estava coberto; encoberto
E, descobrindo-se, mostra-se em tempo
Pois, a tempo, tira-se a cobertura
Ainda em tempo, descobre-se-lhe
E tira-se o que encobria; a máscara
E mostra-se, permitindo descobrir-se
Num tempo onde nada fica encoberto
Descubra-se!
(Instalação poética escrita em homenagem aos 101 anos do Colégio Batista Shepard, no Rio de Janeiro, onde sou professor de Filosofia e Sociologia. O tema geral do Colégio Batista para 2009 é Tempo de descobertas).
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 16 de março de 2009
“Estupro, aborto e excomunhão católica”
“E então, pastor, qual é a sua posição?”. Essa é a frase que está a me martelar os ouvidos, a mente e o coração nos dias últimos. As pessoas, de dentro e de fora da igreja, querem saber o que um líder religioso protestante pensa acerca do episódio da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto no sertão católico brasileiro. Li muitos escritos a respeito e decidi, depois de muito esforço emocional (aqui o esforço intelectual não conta), dizer o que penso de tudo isso. Talvez eu seja excomungado.
“Se há aborto, sou contra”. Poderia ser essa a minha frase-resposta. Mas não é. Depois de muito tempo e muita reflexão acerca da temática, tenho de dizer que não sou mais o mesmo. Sim, no caso da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto, e engravidada de gêmeos aos 9 anos de idade, eu sou favorável ao aborto. O pastor é a favor. Pronto, falei.
Depois do episódio pior, o estupro, seguiu-se a posição médica, o aborto necessário para preservar a vida da menina. Depois veio o imbróglio; o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os que estivessem envolvidos na interrupção da gravidez da menina (a mãe, os médicos, os enfermeiros) fossem excomungados. Mas o padrasto-estuprador, não, pois teria cometido um crime “mais leve”. Para o bispo, é essa a “lei de Deus” e pronto.
Mas, lhes digo, Deus e igreja são coisas bastante diferentes. Deus e dogma são coisas até antagônicas, diria esse jovem pastor, à porta da excomunhão. Mas você me perguntaria: “O bispo errou?”. Não; segundo o pensamento católico ele está dentro da normalidade. Dentro do pensamento dogmático católico, deixemos claro. Assim, o arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, apenas obedeceu ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento. Mas a sociedade brasileira, ainda que de maioria católica, estarreceu-se. E todo mundo gritou um tanto.
Para Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a excomunhão da mãe é pior, no sertão nordestino, do que o próprio estupro (a CNBB voltou atrás, dias depois, e isentou a mãe do veredicto). Para o médico Dráuzio Varella é uma questão mais política do que qualquer outra coisa, pois “Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos. Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós”. O presidente Lula fez coro com Varella, mas o bispo o calou, dizendo que “ele é um católico mais ou menos e não entende nada de Teologia; precisa freqüentar as cadeiras teológicas ou pedir consultoria a um especialista”. Sou teólogo; um "especialista" e, por isso, digo: o presidente não precisa se tornar teólogo, pois não se trata de Teologia, mas de dogmatismo católico-romano.
Sim, a Bíblia diz que Deus já nos conhecia substância ainda informe no ventre de nossa mãe. Sim, o meu Livro Sagrado defende o “não matarás”. Sim, a Palavra de Deus entende como gente o zigoto que ainda não tem formação. Mas as Escrituras Sagradas não podem, e não devem, ser lidas sem uma prévia compreensão do seu contexto. Não podem ser acessadas sem uma árdua busca exegética (pelo menos não para a construção de dogmas). Se assim não for, deveremos voltar a contabilizar as mulheres como animais, pois a personalização da mulher foi tema ulterior (para mim, um tema paulino, após gestos jesuânicos, mas isso não vem ao caso nesse momento).
Pelo viés artístico, o poeta paraibano de cordel, radicado em Brasília, Miguezim da Princesa, escreveu o melhor texto que li até agora sobre a temática. Vale a pena dar uma procurada na internet e conferir “A excomunhão da vítima”.
Eu, por meu lado, digo que os avanços do Concílio Vaticano II, quando se foi possível estabelecer mais diálogo acerca das temáticas que nos rodeiam, inserindo o pensamento das mais variadas correntes religiosas em edificantes debates, estão sendo derrubados por um conjunto de bispos ávidos por um “retorno às trevas”. Joseph Ratzinger, o Bento XVI, é o líder dessa “volta dos que não foram”. Infelizmente, um retrógrado.
Mesmo sendo excomungado também, não consigo pensar como a igreja católica, no caso dessa criança de 9 anos de idade. Estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e sem pernas para suportar o peso, sem ventre para segurar a força mortífera dos meses finais da gestação (nesse caso, certamente seriam meses mortíferos), e sem cabeça para conviver com tal evento-fantasmagórico a lhe assombrar os sonhos e a vida. Penso que um bom trabalho psicológico deve ser feito agora e que o aborto, nesse caso, foi um acerto.
De resto, é orar pela menina, pela mãe, pelos médicos, pelo padrasto (uma mente bastante enferma e carente) e, principalmente, pela igreja e pelo bispo. Afinal, eles são os responsáveis pela polvorosa que nos estuprou, engravidou e nos fez abortar, permitindo-nos dar à luz textos como esse que vos incomoda os olhos.
liberdade, beleza e Graça...
“Se há aborto, sou contra”. Poderia ser essa a minha frase-resposta. Mas não é. Depois de muito tempo e muita reflexão acerca da temática, tenho de dizer que não sou mais o mesmo. Sim, no caso da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto, e engravidada de gêmeos aos 9 anos de idade, eu sou favorável ao aborto. O pastor é a favor. Pronto, falei.
Depois do episódio pior, o estupro, seguiu-se a posição médica, o aborto necessário para preservar a vida da menina. Depois veio o imbróglio; o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os que estivessem envolvidos na interrupção da gravidez da menina (a mãe, os médicos, os enfermeiros) fossem excomungados. Mas o padrasto-estuprador, não, pois teria cometido um crime “mais leve”. Para o bispo, é essa a “lei de Deus” e pronto.
Mas, lhes digo, Deus e igreja são coisas bastante diferentes. Deus e dogma são coisas até antagônicas, diria esse jovem pastor, à porta da excomunhão. Mas você me perguntaria: “O bispo errou?”. Não; segundo o pensamento católico ele está dentro da normalidade. Dentro do pensamento dogmático católico, deixemos claro. Assim, o arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, apenas obedeceu ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento. Mas a sociedade brasileira, ainda que de maioria católica, estarreceu-se. E todo mundo gritou um tanto.
Para Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a excomunhão da mãe é pior, no sertão nordestino, do que o próprio estupro (a CNBB voltou atrás, dias depois, e isentou a mãe do veredicto). Para o médico Dráuzio Varella é uma questão mais política do que qualquer outra coisa, pois “Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos. Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós”. O presidente Lula fez coro com Varella, mas o bispo o calou, dizendo que “ele é um católico mais ou menos e não entende nada de Teologia; precisa freqüentar as cadeiras teológicas ou pedir consultoria a um especialista”. Sou teólogo; um "especialista" e, por isso, digo: o presidente não precisa se tornar teólogo, pois não se trata de Teologia, mas de dogmatismo católico-romano.
Sim, a Bíblia diz que Deus já nos conhecia substância ainda informe no ventre de nossa mãe. Sim, o meu Livro Sagrado defende o “não matarás”. Sim, a Palavra de Deus entende como gente o zigoto que ainda não tem formação. Mas as Escrituras Sagradas não podem, e não devem, ser lidas sem uma prévia compreensão do seu contexto. Não podem ser acessadas sem uma árdua busca exegética (pelo menos não para a construção de dogmas). Se assim não for, deveremos voltar a contabilizar as mulheres como animais, pois a personalização da mulher foi tema ulterior (para mim, um tema paulino, após gestos jesuânicos, mas isso não vem ao caso nesse momento).
Pelo viés artístico, o poeta paraibano de cordel, radicado em Brasília, Miguezim da Princesa, escreveu o melhor texto que li até agora sobre a temática. Vale a pena dar uma procurada na internet e conferir “A excomunhão da vítima”.
Eu, por meu lado, digo que os avanços do Concílio Vaticano II, quando se foi possível estabelecer mais diálogo acerca das temáticas que nos rodeiam, inserindo o pensamento das mais variadas correntes religiosas em edificantes debates, estão sendo derrubados por um conjunto de bispos ávidos por um “retorno às trevas”. Joseph Ratzinger, o Bento XVI, é o líder dessa “volta dos que não foram”. Infelizmente, um retrógrado.
Mesmo sendo excomungado também, não consigo pensar como a igreja católica, no caso dessa criança de 9 anos de idade. Estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e sem pernas para suportar o peso, sem ventre para segurar a força mortífera dos meses finais da gestação (nesse caso, certamente seriam meses mortíferos), e sem cabeça para conviver com tal evento-fantasmagórico a lhe assombrar os sonhos e a vida. Penso que um bom trabalho psicológico deve ser feito agora e que o aborto, nesse caso, foi um acerto.
De resto, é orar pela menina, pela mãe, pelos médicos, pelo padrasto (uma mente bastante enferma e carente) e, principalmente, pela igreja e pelo bispo. Afinal, eles são os responsáveis pela polvorosa que nos estuprou, engravidou e nos fez abortar, permitindo-nos dar à luz textos como esse que vos incomoda os olhos.
liberdade, beleza e Graça...
quarta-feira, 11 de março de 2009
“Caminhos da espiritualidade”
No evangelho de Lucas, um episódio curioso toma a parte dos versículos de 36 a 50, do capítulo 7. Trata-se de um convite feito por um fariseu chamado Simão para que Jesus fosse à sua casa para uma refeição e um momento agradável entre pessoas amigas.
O texto diz que, estando eles à mesa, apareceu uma mulher “de má fama” e começou a lavar os pés de Jesus com um perfume muito caro e a chorar, enxugando os pés do mestre com os próprios cabelos. O detalhe do texto nos faz perceber que essa mulher se achega por trás e nem se deixa ver ao certo, pois já chega se curvando e ungindo Jesus.
O fariseu, ao ver esse ato, pensa consigo; “se esse homem fosse realmente um profeta, saberia quem é essa mulher e a fama que ela tem pela redondeza”. Jesus percebe o olhar daquele homem e pergunta: “Simão, quando uma pessoa deve 50 dinheiros e outra, 500, sendo as duas perdoadas pelo credor, qual será a mais grata?”. O fariseu responde que seria “aquela que devia mais”, e Jesus o aprova na resposta. Ao olhar para a mulher, o mestre completa: “Está vendo essa mulher? Desde que cheguei ela não cansa de molhar meus pés com as próprias lágrimas e a enxuga-los com seus cabelos, mas você não me ofereceu nem água para lavar os pés (era tradição oferecer água para lavagem dos pés aos convidados, uma vez que se andava de sandálias por ruas de terra). Você não me ungiu a cabeça com óleo perfumado (tradição dos ricos para com seus convidados ilustres) e ela gastou seu perfume nos meus pés (mostrando que ela se propunha a gastar até mesmo nos pés o que era para a cabeça!). Você não me beijou ao entrar (outra tradição para com convidados ao momento de maior intimidade que um judeu pode oferecer – chamar para uma refeição), mas ela não cansa de beijar os meus pés, depois de os enxugar de suas lágrimas sinceras de arrependimento por sua vida. Para quem foi muito perdoado, Simão, é normal mostrar mais amor, por isso essa mulher teve todos os pecados perdoados, uma vez que mostra que sabe amar sinceramente uma pessoa”.
Em dias como os de hoje, onde se tem “muita intimidade” com Jesus, chamando-o das maneiras mais variadas; em que se ouve CDs gospel aos borbotões; em que se tem simpatia pelo movimento evangélico ou se vai vez por outra a um culto, é natural vermos pessoas que têm “grande intimidade” com Jesus, mas que não o conhecem de fato. Essa era a situação de Simão; convidou o mestre para o momento de maior intimidade na vida de um judeu, mas não sabia nem se o convidado era profeta ou não! Nem conhecia de fato quem estava se achegando à sua mesa.
Tinha intimidade – ou a provocava – com alguém que não se deu ao luxo de saber quem realmente era, ao fim e ao cabo. Penso, por tudo isso, que ser “íntimo” das coisas de Deus, não faz de alguém verdadeiramente conhecedor do mesmo.
Os atos esquecidos por Simão foram os mais básicos de uma relação de proximidade: água para os pés, beijo de boas-vindas e perfume para mostrar honra. É muito natural vermos pessoas que têm Jesus como algo muito precioso, mas que se esquecem dos atos mais básicos de uma verdadeira espiritualidade. Vemos crentes praticamente “voando” nos cultos pseudo-evangélicos, mas os vemos fechando os vidros de seus carrões, para não ter de dividir a “bênção que Deus deu” com os mais “pobres e sujos” da igreja. Mas a prova da salvação está justamente nisso; na capacidade de exercitar fé e de amar, lembrando dos atos mais básicos que uma verdadeira espiritualidade oferece.
O texto diz que a fé salvou a mulher de má fama. A independer de sua vida, aquela mulher conhecia Jesus e por isso fez o que fez. Não faria se não tivesse a absoluta certeza de que se derramava diante de um profeta. Ou melhor, do profeta; aquele que pode perdoar a salvar.
E é por isso que digo sempre; não é difícil saber se alguém é salvo. Basta ver a capacidade de exercitar fé e de amar; quem, com fé, ama muito, foi muito perdoado e, por fim, salvo. Quem não exercita fé e ama pouco, foi pouco perdoado e não foi salvo. Simples assim. Você foi salvo?
liberdade, beleza e Graça...
O texto diz que, estando eles à mesa, apareceu uma mulher “de má fama” e começou a lavar os pés de Jesus com um perfume muito caro e a chorar, enxugando os pés do mestre com os próprios cabelos. O detalhe do texto nos faz perceber que essa mulher se achega por trás e nem se deixa ver ao certo, pois já chega se curvando e ungindo Jesus.
O fariseu, ao ver esse ato, pensa consigo; “se esse homem fosse realmente um profeta, saberia quem é essa mulher e a fama que ela tem pela redondeza”. Jesus percebe o olhar daquele homem e pergunta: “Simão, quando uma pessoa deve 50 dinheiros e outra, 500, sendo as duas perdoadas pelo credor, qual será a mais grata?”. O fariseu responde que seria “aquela que devia mais”, e Jesus o aprova na resposta. Ao olhar para a mulher, o mestre completa: “Está vendo essa mulher? Desde que cheguei ela não cansa de molhar meus pés com as próprias lágrimas e a enxuga-los com seus cabelos, mas você não me ofereceu nem água para lavar os pés (era tradição oferecer água para lavagem dos pés aos convidados, uma vez que se andava de sandálias por ruas de terra). Você não me ungiu a cabeça com óleo perfumado (tradição dos ricos para com seus convidados ilustres) e ela gastou seu perfume nos meus pés (mostrando que ela se propunha a gastar até mesmo nos pés o que era para a cabeça!). Você não me beijou ao entrar (outra tradição para com convidados ao momento de maior intimidade que um judeu pode oferecer – chamar para uma refeição), mas ela não cansa de beijar os meus pés, depois de os enxugar de suas lágrimas sinceras de arrependimento por sua vida. Para quem foi muito perdoado, Simão, é normal mostrar mais amor, por isso essa mulher teve todos os pecados perdoados, uma vez que mostra que sabe amar sinceramente uma pessoa”.
Em dias como os de hoje, onde se tem “muita intimidade” com Jesus, chamando-o das maneiras mais variadas; em que se ouve CDs gospel aos borbotões; em que se tem simpatia pelo movimento evangélico ou se vai vez por outra a um culto, é natural vermos pessoas que têm “grande intimidade” com Jesus, mas que não o conhecem de fato. Essa era a situação de Simão; convidou o mestre para o momento de maior intimidade na vida de um judeu, mas não sabia nem se o convidado era profeta ou não! Nem conhecia de fato quem estava se achegando à sua mesa.
Tinha intimidade – ou a provocava – com alguém que não se deu ao luxo de saber quem realmente era, ao fim e ao cabo. Penso, por tudo isso, que ser “íntimo” das coisas de Deus, não faz de alguém verdadeiramente conhecedor do mesmo.
Os atos esquecidos por Simão foram os mais básicos de uma relação de proximidade: água para os pés, beijo de boas-vindas e perfume para mostrar honra. É muito natural vermos pessoas que têm Jesus como algo muito precioso, mas que se esquecem dos atos mais básicos de uma verdadeira espiritualidade. Vemos crentes praticamente “voando” nos cultos pseudo-evangélicos, mas os vemos fechando os vidros de seus carrões, para não ter de dividir a “bênção que Deus deu” com os mais “pobres e sujos” da igreja. Mas a prova da salvação está justamente nisso; na capacidade de exercitar fé e de amar, lembrando dos atos mais básicos que uma verdadeira espiritualidade oferece.
O texto diz que a fé salvou a mulher de má fama. A independer de sua vida, aquela mulher conhecia Jesus e por isso fez o que fez. Não faria se não tivesse a absoluta certeza de que se derramava diante de um profeta. Ou melhor, do profeta; aquele que pode perdoar a salvar.
E é por isso que digo sempre; não é difícil saber se alguém é salvo. Basta ver a capacidade de exercitar fé e de amar; quem, com fé, ama muito, foi muito perdoado e, por fim, salvo. Quem não exercita fé e ama pouco, foi pouco perdoado e não foi salvo. Simples assim. Você foi salvo?
liberdade, beleza e Graça...
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
"Quem vai prender o Gilmar Mendes?"
Uma das melhores leituras dos últimos dias foi a entrevista dada pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz à sempre excelente revista Caros Amigos (edição de dezembro de 2008). Sempre indico essa revista aos meus alunos, dizendo que ela é “uma ótima opção para saber mais e ficar mais triste”. O conhecimento das coisas dessa nossa história traz sempre consigo uma boa dose de tristeza. É uma escolha de Sophia essa de saber e se entristecer, ou se alienar, conseguindo assim ser menos triste. É uma sinuca de bico mesmo.
O delegado Protógenes é um daqueles homens raros hoje em dia. Daqueles que parecem ter lido a Bíblia Sagrada e entendido o que é agradar a Deus, refutando a corrupção.
Acreditando em coisas que podem não ser mais valiosas hoje em dia, Queiroz deixou a função de advogado, com a qual estava já ganhando um bom dinheiro, e fez concurso para a Polícia Federal, visando trabalhar em um campo deveras minado; investigar caixa-dois, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série enorme de outros “crimes de colarinho branco”.
Começando pelo Acre, e dando de frente com o ex-deputado Hildebrando Pascoal (o do massacre da serra elétrica, lembra?), e chegando aos criminosos chamados “peixes grandes” no sul e sudeste do país, Protógenes Queiroz investiu numa busca inédita.
O delegado prendeu nada menos do que o contrabandista Law Kim Chong, o Paulo Maluf, o Celso Pitta, o Naji Nahas e muitos outros “acima da lei”, como, finalmente, e com a Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Mas, apesar dessa maravilhosa empreitada em torno de “peixes grandes”, o delegado é que acabou sendo afastado do cargo, acusado de “usar de artifícios ilegais” pelos que defendem o bando acima citado. Protógenes foi afastado do cargo, mas, como descobriram que estava tudo dentro da legalidade, não o puderam expulsar, recolocando-o, numa transferência para um cargo apenas burocrático dentro da PF.
Dentre os mais escabrosos assuntos desse corajoso delegado, aparecem informações que de fato não teriam como não entristecer a qualquer alma viva. A narração do envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na ratificação da invenção da dívida externa brasileira, para beneficiar amigos corruptos, foi de arrepiar os pelos dos ouvidos daqueles que ainda são crédulos em alguma coisa nesse país.
Mas o pior mesmo foi saber que o Daniel Dantas não ficará preso por ter vários “tubarões” nas mãos. Isso, sim, assusta e tira o último fio de esperança de que esse país possa um dia dar certo. Tudo porque o Gilmar Mendes (presidente do Supremo Tribunal Federal), aquele que sempre manda soltar o senhor Dantas (e não sabíamos por que razões até dia desses), também está envolvido até o pescoço em atos de corrupção.
Gilmar Mendes nada mais é do que um empresário que faturou entre os anos de 2000 e 2008 a bagatela de 2 milhões e meio de reais em serviços prestados a órgãos federais, sendo que as contratações foram feitas sem licitação! Isso deu na também excelente revista Carta Capital. O presidente do STF é irmão de Francisco Mendes, o ex-prefeito de Diamantino, cidade próxima a Cuiabá, no Mato Grosso, que ganhou a ajuda do irmão mais velho (o nosso Gilmar) para usar a máquina pública e suas autoridades para a manutenção no poder de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar. A tal oligarquia Mendes tem, como todas elas, assassinatos e corrupção de toda natureza em seu “currículo”, só que o “mais velho” é simplesmente o presidente do órgão jurídico máximo dessa República de Bruzundangas.
A Caros Amigos e a Carta Capital me abriram mais os olhos e contribuíram ainda mais para o entristecimento da vida minha. Mas prefiro assim; ser triste, mas saber. Embora confesse que para uma pergunta não encontrarei resposta jamais: "Quem vai prender o Gilmar Mendes?".
liberdade, beleza e Graça...
O delegado Protógenes é um daqueles homens raros hoje em dia. Daqueles que parecem ter lido a Bíblia Sagrada e entendido o que é agradar a Deus, refutando a corrupção.
Acreditando em coisas que podem não ser mais valiosas hoje em dia, Queiroz deixou a função de advogado, com a qual estava já ganhando um bom dinheiro, e fez concurso para a Polícia Federal, visando trabalhar em um campo deveras minado; investigar caixa-dois, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série enorme de outros “crimes de colarinho branco”.
Começando pelo Acre, e dando de frente com o ex-deputado Hildebrando Pascoal (o do massacre da serra elétrica, lembra?), e chegando aos criminosos chamados “peixes grandes” no sul e sudeste do país, Protógenes Queiroz investiu numa busca inédita.
O delegado prendeu nada menos do que o contrabandista Law Kim Chong, o Paulo Maluf, o Celso Pitta, o Naji Nahas e muitos outros “acima da lei”, como, finalmente, e com a Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Mas, apesar dessa maravilhosa empreitada em torno de “peixes grandes”, o delegado é que acabou sendo afastado do cargo, acusado de “usar de artifícios ilegais” pelos que defendem o bando acima citado. Protógenes foi afastado do cargo, mas, como descobriram que estava tudo dentro da legalidade, não o puderam expulsar, recolocando-o, numa transferência para um cargo apenas burocrático dentro da PF.
Dentre os mais escabrosos assuntos desse corajoso delegado, aparecem informações que de fato não teriam como não entristecer a qualquer alma viva. A narração do envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na ratificação da invenção da dívida externa brasileira, para beneficiar amigos corruptos, foi de arrepiar os pelos dos ouvidos daqueles que ainda são crédulos em alguma coisa nesse país.
Mas o pior mesmo foi saber que o Daniel Dantas não ficará preso por ter vários “tubarões” nas mãos. Isso, sim, assusta e tira o último fio de esperança de que esse país possa um dia dar certo. Tudo porque o Gilmar Mendes (presidente do Supremo Tribunal Federal), aquele que sempre manda soltar o senhor Dantas (e não sabíamos por que razões até dia desses), também está envolvido até o pescoço em atos de corrupção.
Gilmar Mendes nada mais é do que um empresário que faturou entre os anos de 2000 e 2008 a bagatela de 2 milhões e meio de reais em serviços prestados a órgãos federais, sendo que as contratações foram feitas sem licitação! Isso deu na também excelente revista Carta Capital. O presidente do STF é irmão de Francisco Mendes, o ex-prefeito de Diamantino, cidade próxima a Cuiabá, no Mato Grosso, que ganhou a ajuda do irmão mais velho (o nosso Gilmar) para usar a máquina pública e suas autoridades para a manutenção no poder de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar. A tal oligarquia Mendes tem, como todas elas, assassinatos e corrupção de toda natureza em seu “currículo”, só que o “mais velho” é simplesmente o presidente do órgão jurídico máximo dessa República de Bruzundangas.
A Caros Amigos e a Carta Capital me abriram mais os olhos e contribuíram ainda mais para o entristecimento da vida minha. Mas prefiro assim; ser triste, mas saber. Embora confesse que para uma pergunta não encontrarei resposta jamais: "Quem vai prender o Gilmar Mendes?".
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