É difícil entender como uma pessoa que alcançou tudo na vida, morando em Milão e tendo todo o dinheiro e vantagens que um europeu bem sucedido possui, poderia trocar tudo isso por uma vida simples, andando de bermuda e descalço numa favela carioca.
Parece não ter a menor coerência a decisão do jogador de futebol Adriano, ídolo da Inter de Milão e da seleção brasileira, de “parar por tempo indeterminado”, por pura falta de motivação e por estar vivendo uma vida que não é a sua. Na cabeça de todos os que somos frutos de uma sociedade capitalista, que preza mais pelo ter do que pelo ser, isso é “coisa de maluco”. Todavia, não é tanta maluquice assim o que o jovem jogador apregoa para si.
O francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia, cunhou o conceito de anomia. Anomia é o estado em que uma pessoa fica quando dos momentos de perda de referenciais; perda das regras sociais que o faziam sentir-se pertencente a um determinado grupo, concordando com este em suas práticas sociais. A anomia é, pensando na etimologia da palavra, a falta do nomos – palavra grega que pode ser traduzida por normas, regras, referências – uma vez que a partícula “a”, que vem jungida no início, tem a função de expressar negação. O indivíduo anômico é aquele que perdeu tais referenciais, portanto. Isso não é raro de acontecer com crianças, quando dos momentos de separação conjugal dos pais, por exemplo.
Adriano disse que saiu muito cedo do Brasil. Foi “retirado”, pois, daquilo que fazia sentido para ele. Foi “separado” de um grupo com o qual concordava desde sempre e enviado a um país onde a visão de mundo é completamente diferente. Entrou em contato com o estranho.
Perder “de forma proposital” tudo o que conquistou, em termos materiais, seria para muitos, um “suicídio econômico” da parte do jovem e ainda promissor jogador, e foi justamente numa obra chamada O suicídio que Durkheim conceituou estados psíquicos parecidos com esse que agora estamos tentando pensar.
Lançando mão de recursos estatísticos, o sociólogo francês percebeu que a taxa de suicídios na Europa do século XIX era muito maior entre pessoas solteiras, protestantes e não pertencentes a um grupo social determinado por regras fortes. Assim, chegou à conclusão de que a igreja católica romana, por ter regras bem determinadas de controle social, fazia com que o sentimento de pertença fosse mais forte do que no movimento protestante daquele momento, onde se apregoava justamente uma liberdade absoluta em relação ao antigo e dominador clero da cúria romana. O vínculo, ou a falta dele, em outras instituições sociais como a família, o serviço militar ou os clubes sociais de interesse também foram pensados como detentores de uma capacidade de gerar ou não anomia nos indivíduos.
Voltando à atitude do jogador, que é nosso objeto de análise, podemos pensar que o “suicídio” de Adriano – o econômico, claro, pois ele está, graças a Deus, vivo – nada mais faz do que corroborar a tese de Durkheim, uma vez que o jogador diz que “perdeu todas as certezas que tinha na vida”. Segundo suas próprias palavras: “a única certeza que sobra é a de que não deixarei de estar todos os dias na favela, andando de bermudas e soltando pipas descalço”.
Adriano é solteiro, pelo que consta não faz parte de nenhum grupo religioso ou clube social de interesse, acaba de perder um relacionamento no qual estava emocionalmente muito envolvido e tinha como único grupo social um clube num país distante e com pessoas de cosmovisão completamente diferente dos sonhos de um menino apaixonado por pipas e bailes funk de favelas. O argumento de Durkheim, portanto, se justifica e ajuda a explicar o evento.
E é por isso que não se deve ficar indignado, mas, ao contrário, respeitar atitudes como a do jogador brasileiro. Mais do que nunca, é hora de dizer, e sem demagogia: viva Durkheim e viva Adriano, o imperador da favela da Vila Cruzeiro!
liberdade, beleza e Graça...
Quem sou eu

- Cleinton
- Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.
terça-feira, 14 de abril de 2009
sábado, 4 de abril de 2009
"Instalações poéticas"
Tempo de descobertas
Tempo de descobertas
O tempo. As descobertas
As descobertas do tempo
As descobertas no tempo
O tempo descoberto
Com o tempo, se descobre
E descobre-se no tempo
De tempos em tempos...
De descoberta em descoberta...
Pode-se descobrir as descobertas dos outros!
O que os descobridores descobriram!
O que estava coberto; encoberto
E, descobrindo-se, mostra-se em tempo
Pois, a tempo, tira-se a cobertura
Ainda em tempo, descobre-se-lhe
E tira-se o que encobria; a máscara
E mostra-se, permitindo descobrir-se
Num tempo onde nada fica encoberto
Descubra-se!
(Instalação poética escrita em homenagem aos 101 anos do Colégio Batista Shepard, no Rio de Janeiro, onde sou professor de Filosofia e Sociologia. O tema geral do Colégio Batista para 2009 é Tempo de descobertas).
liberdade, beleza e Graça...
Tempo de descobertas
O tempo. As descobertas
As descobertas do tempo
As descobertas no tempo
O tempo descoberto
Com o tempo, se descobre
E descobre-se no tempo
De tempos em tempos...
De descoberta em descoberta...
Pode-se descobrir as descobertas dos outros!
O que os descobridores descobriram!
O que estava coberto; encoberto
E, descobrindo-se, mostra-se em tempo
Pois, a tempo, tira-se a cobertura
Ainda em tempo, descobre-se-lhe
E tira-se o que encobria; a máscara
E mostra-se, permitindo descobrir-se
Num tempo onde nada fica encoberto
Descubra-se!
(Instalação poética escrita em homenagem aos 101 anos do Colégio Batista Shepard, no Rio de Janeiro, onde sou professor de Filosofia e Sociologia. O tema geral do Colégio Batista para 2009 é Tempo de descobertas).
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 16 de março de 2009
“Estupro, aborto e excomunhão católica”
“E então, pastor, qual é a sua posição?”. Essa é a frase que está a me martelar os ouvidos, a mente e o coração nos dias últimos. As pessoas, de dentro e de fora da igreja, querem saber o que um líder religioso protestante pensa acerca do episódio da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto no sertão católico brasileiro. Li muitos escritos a respeito e decidi, depois de muito esforço emocional (aqui o esforço intelectual não conta), dizer o que penso de tudo isso. Talvez eu seja excomungado.
“Se há aborto, sou contra”. Poderia ser essa a minha frase-resposta. Mas não é. Depois de muito tempo e muita reflexão acerca da temática, tenho de dizer que não sou mais o mesmo. Sim, no caso da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto, e engravidada de gêmeos aos 9 anos de idade, eu sou favorável ao aborto. O pastor é a favor. Pronto, falei.
Depois do episódio pior, o estupro, seguiu-se a posição médica, o aborto necessário para preservar a vida da menina. Depois veio o imbróglio; o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os que estivessem envolvidos na interrupção da gravidez da menina (a mãe, os médicos, os enfermeiros) fossem excomungados. Mas o padrasto-estuprador, não, pois teria cometido um crime “mais leve”. Para o bispo, é essa a “lei de Deus” e pronto.
Mas, lhes digo, Deus e igreja são coisas bastante diferentes. Deus e dogma são coisas até antagônicas, diria esse jovem pastor, à porta da excomunhão. Mas você me perguntaria: “O bispo errou?”. Não; segundo o pensamento católico ele está dentro da normalidade. Dentro do pensamento dogmático católico, deixemos claro. Assim, o arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, apenas obedeceu ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento. Mas a sociedade brasileira, ainda que de maioria católica, estarreceu-se. E todo mundo gritou um tanto.
Para Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a excomunhão da mãe é pior, no sertão nordestino, do que o próprio estupro (a CNBB voltou atrás, dias depois, e isentou a mãe do veredicto). Para o médico Dráuzio Varella é uma questão mais política do que qualquer outra coisa, pois “Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos. Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós”. O presidente Lula fez coro com Varella, mas o bispo o calou, dizendo que “ele é um católico mais ou menos e não entende nada de Teologia; precisa freqüentar as cadeiras teológicas ou pedir consultoria a um especialista”. Sou teólogo; um "especialista" e, por isso, digo: o presidente não precisa se tornar teólogo, pois não se trata de Teologia, mas de dogmatismo católico-romano.
Sim, a Bíblia diz que Deus já nos conhecia substância ainda informe no ventre de nossa mãe. Sim, o meu Livro Sagrado defende o “não matarás”. Sim, a Palavra de Deus entende como gente o zigoto que ainda não tem formação. Mas as Escrituras Sagradas não podem, e não devem, ser lidas sem uma prévia compreensão do seu contexto. Não podem ser acessadas sem uma árdua busca exegética (pelo menos não para a construção de dogmas). Se assim não for, deveremos voltar a contabilizar as mulheres como animais, pois a personalização da mulher foi tema ulterior (para mim, um tema paulino, após gestos jesuânicos, mas isso não vem ao caso nesse momento).
Pelo viés artístico, o poeta paraibano de cordel, radicado em Brasília, Miguezim da Princesa, escreveu o melhor texto que li até agora sobre a temática. Vale a pena dar uma procurada na internet e conferir “A excomunhão da vítima”.
Eu, por meu lado, digo que os avanços do Concílio Vaticano II, quando se foi possível estabelecer mais diálogo acerca das temáticas que nos rodeiam, inserindo o pensamento das mais variadas correntes religiosas em edificantes debates, estão sendo derrubados por um conjunto de bispos ávidos por um “retorno às trevas”. Joseph Ratzinger, o Bento XVI, é o líder dessa “volta dos que não foram”. Infelizmente, um retrógrado.
Mesmo sendo excomungado também, não consigo pensar como a igreja católica, no caso dessa criança de 9 anos de idade. Estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e sem pernas para suportar o peso, sem ventre para segurar a força mortífera dos meses finais da gestação (nesse caso, certamente seriam meses mortíferos), e sem cabeça para conviver com tal evento-fantasmagórico a lhe assombrar os sonhos e a vida. Penso que um bom trabalho psicológico deve ser feito agora e que o aborto, nesse caso, foi um acerto.
De resto, é orar pela menina, pela mãe, pelos médicos, pelo padrasto (uma mente bastante enferma e carente) e, principalmente, pela igreja e pelo bispo. Afinal, eles são os responsáveis pela polvorosa que nos estuprou, engravidou e nos fez abortar, permitindo-nos dar à luz textos como esse que vos incomoda os olhos.
liberdade, beleza e Graça...
“Se há aborto, sou contra”. Poderia ser essa a minha frase-resposta. Mas não é. Depois de muito tempo e muita reflexão acerca da temática, tenho de dizer que não sou mais o mesmo. Sim, no caso da menina pernambucana, estuprada pelo padrasto, e engravidada de gêmeos aos 9 anos de idade, eu sou favorável ao aborto. O pastor é a favor. Pronto, falei.
Depois do episódio pior, o estupro, seguiu-se a posição médica, o aborto necessário para preservar a vida da menina. Depois veio o imbróglio; o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os que estivessem envolvidos na interrupção da gravidez da menina (a mãe, os médicos, os enfermeiros) fossem excomungados. Mas o padrasto-estuprador, não, pois teria cometido um crime “mais leve”. Para o bispo, é essa a “lei de Deus” e pronto.
Mas, lhes digo, Deus e igreja são coisas bastante diferentes. Deus e dogma são coisas até antagônicas, diria esse jovem pastor, à porta da excomunhão. Mas você me perguntaria: “O bispo errou?”. Não; segundo o pensamento católico ele está dentro da normalidade. Dentro do pensamento dogmático católico, deixemos claro. Assim, o arcebispo de Olinda e Recife não cometeu nenhum disparate, apenas obedeceu ao Código Penal do Direito Canônico: o cânon 1398 prescreve a excomunhão automática em caso de abortamento. Mas a sociedade brasileira, ainda que de maioria católica, estarreceu-se. E todo mundo gritou um tanto.
Para Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de S. Paulo, a excomunhão da mãe é pior, no sertão nordestino, do que o próprio estupro (a CNBB voltou atrás, dias depois, e isentou a mãe do veredicto). Para o médico Dráuzio Varella é uma questão mais política do que qualquer outra coisa, pois “Os políticos não ousam afrontar a igreja. O poder dos religiosos não é consequência do conforto espiritual oferecido a seus rebanhos nem de filosofias transcendentais sobre os desígnios do céu e da terra, ele deriva da coação exercida sobre os políticos. Quando a igreja condena a camisinha, o aborto, a pílula, as pesquisas com células-tronco ou o divórcio, não se limita a aconselhar os católicos a segui-la, instituição autoritária que é, mobiliza sua força política desproporcional para impor proibições a todos nós”. O presidente Lula fez coro com Varella, mas o bispo o calou, dizendo que “ele é um católico mais ou menos e não entende nada de Teologia; precisa freqüentar as cadeiras teológicas ou pedir consultoria a um especialista”. Sou teólogo; um "especialista" e, por isso, digo: o presidente não precisa se tornar teólogo, pois não se trata de Teologia, mas de dogmatismo católico-romano.
Sim, a Bíblia diz que Deus já nos conhecia substância ainda informe no ventre de nossa mãe. Sim, o meu Livro Sagrado defende o “não matarás”. Sim, a Palavra de Deus entende como gente o zigoto que ainda não tem formação. Mas as Escrituras Sagradas não podem, e não devem, ser lidas sem uma prévia compreensão do seu contexto. Não podem ser acessadas sem uma árdua busca exegética (pelo menos não para a construção de dogmas). Se assim não for, deveremos voltar a contabilizar as mulheres como animais, pois a personalização da mulher foi tema ulterior (para mim, um tema paulino, após gestos jesuânicos, mas isso não vem ao caso nesse momento).
Pelo viés artístico, o poeta paraibano de cordel, radicado em Brasília, Miguezim da Princesa, escreveu o melhor texto que li até agora sobre a temática. Vale a pena dar uma procurada na internet e conferir “A excomunhão da vítima”.
Eu, por meu lado, digo que os avanços do Concílio Vaticano II, quando se foi possível estabelecer mais diálogo acerca das temáticas que nos rodeiam, inserindo o pensamento das mais variadas correntes religiosas em edificantes debates, estão sendo derrubados por um conjunto de bispos ávidos por um “retorno às trevas”. Joseph Ratzinger, o Bento XVI, é o líder dessa “volta dos que não foram”. Infelizmente, um retrógrado.
Mesmo sendo excomungado também, não consigo pensar como a igreja católica, no caso dessa criança de 9 anos de idade. Estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e sem pernas para suportar o peso, sem ventre para segurar a força mortífera dos meses finais da gestação (nesse caso, certamente seriam meses mortíferos), e sem cabeça para conviver com tal evento-fantasmagórico a lhe assombrar os sonhos e a vida. Penso que um bom trabalho psicológico deve ser feito agora e que o aborto, nesse caso, foi um acerto.
De resto, é orar pela menina, pela mãe, pelos médicos, pelo padrasto (uma mente bastante enferma e carente) e, principalmente, pela igreja e pelo bispo. Afinal, eles são os responsáveis pela polvorosa que nos estuprou, engravidou e nos fez abortar, permitindo-nos dar à luz textos como esse que vos incomoda os olhos.
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quarta-feira, 11 de março de 2009
“Caminhos da espiritualidade”
No evangelho de Lucas, um episódio curioso toma a parte dos versículos de 36 a 50, do capítulo 7. Trata-se de um convite feito por um fariseu chamado Simão para que Jesus fosse à sua casa para uma refeição e um momento agradável entre pessoas amigas.
O texto diz que, estando eles à mesa, apareceu uma mulher “de má fama” e começou a lavar os pés de Jesus com um perfume muito caro e a chorar, enxugando os pés do mestre com os próprios cabelos. O detalhe do texto nos faz perceber que essa mulher se achega por trás e nem se deixa ver ao certo, pois já chega se curvando e ungindo Jesus.
O fariseu, ao ver esse ato, pensa consigo; “se esse homem fosse realmente um profeta, saberia quem é essa mulher e a fama que ela tem pela redondeza”. Jesus percebe o olhar daquele homem e pergunta: “Simão, quando uma pessoa deve 50 dinheiros e outra, 500, sendo as duas perdoadas pelo credor, qual será a mais grata?”. O fariseu responde que seria “aquela que devia mais”, e Jesus o aprova na resposta. Ao olhar para a mulher, o mestre completa: “Está vendo essa mulher? Desde que cheguei ela não cansa de molhar meus pés com as próprias lágrimas e a enxuga-los com seus cabelos, mas você não me ofereceu nem água para lavar os pés (era tradição oferecer água para lavagem dos pés aos convidados, uma vez que se andava de sandálias por ruas de terra). Você não me ungiu a cabeça com óleo perfumado (tradição dos ricos para com seus convidados ilustres) e ela gastou seu perfume nos meus pés (mostrando que ela se propunha a gastar até mesmo nos pés o que era para a cabeça!). Você não me beijou ao entrar (outra tradição para com convidados ao momento de maior intimidade que um judeu pode oferecer – chamar para uma refeição), mas ela não cansa de beijar os meus pés, depois de os enxugar de suas lágrimas sinceras de arrependimento por sua vida. Para quem foi muito perdoado, Simão, é normal mostrar mais amor, por isso essa mulher teve todos os pecados perdoados, uma vez que mostra que sabe amar sinceramente uma pessoa”.
Em dias como os de hoje, onde se tem “muita intimidade” com Jesus, chamando-o das maneiras mais variadas; em que se ouve CDs gospel aos borbotões; em que se tem simpatia pelo movimento evangélico ou se vai vez por outra a um culto, é natural vermos pessoas que têm “grande intimidade” com Jesus, mas que não o conhecem de fato. Essa era a situação de Simão; convidou o mestre para o momento de maior intimidade na vida de um judeu, mas não sabia nem se o convidado era profeta ou não! Nem conhecia de fato quem estava se achegando à sua mesa.
Tinha intimidade – ou a provocava – com alguém que não se deu ao luxo de saber quem realmente era, ao fim e ao cabo. Penso, por tudo isso, que ser “íntimo” das coisas de Deus, não faz de alguém verdadeiramente conhecedor do mesmo.
Os atos esquecidos por Simão foram os mais básicos de uma relação de proximidade: água para os pés, beijo de boas-vindas e perfume para mostrar honra. É muito natural vermos pessoas que têm Jesus como algo muito precioso, mas que se esquecem dos atos mais básicos de uma verdadeira espiritualidade. Vemos crentes praticamente “voando” nos cultos pseudo-evangélicos, mas os vemos fechando os vidros de seus carrões, para não ter de dividir a “bênção que Deus deu” com os mais “pobres e sujos” da igreja. Mas a prova da salvação está justamente nisso; na capacidade de exercitar fé e de amar, lembrando dos atos mais básicos que uma verdadeira espiritualidade oferece.
O texto diz que a fé salvou a mulher de má fama. A independer de sua vida, aquela mulher conhecia Jesus e por isso fez o que fez. Não faria se não tivesse a absoluta certeza de que se derramava diante de um profeta. Ou melhor, do profeta; aquele que pode perdoar a salvar.
E é por isso que digo sempre; não é difícil saber se alguém é salvo. Basta ver a capacidade de exercitar fé e de amar; quem, com fé, ama muito, foi muito perdoado e, por fim, salvo. Quem não exercita fé e ama pouco, foi pouco perdoado e não foi salvo. Simples assim. Você foi salvo?
liberdade, beleza e Graça...
O texto diz que, estando eles à mesa, apareceu uma mulher “de má fama” e começou a lavar os pés de Jesus com um perfume muito caro e a chorar, enxugando os pés do mestre com os próprios cabelos. O detalhe do texto nos faz perceber que essa mulher se achega por trás e nem se deixa ver ao certo, pois já chega se curvando e ungindo Jesus.
O fariseu, ao ver esse ato, pensa consigo; “se esse homem fosse realmente um profeta, saberia quem é essa mulher e a fama que ela tem pela redondeza”. Jesus percebe o olhar daquele homem e pergunta: “Simão, quando uma pessoa deve 50 dinheiros e outra, 500, sendo as duas perdoadas pelo credor, qual será a mais grata?”. O fariseu responde que seria “aquela que devia mais”, e Jesus o aprova na resposta. Ao olhar para a mulher, o mestre completa: “Está vendo essa mulher? Desde que cheguei ela não cansa de molhar meus pés com as próprias lágrimas e a enxuga-los com seus cabelos, mas você não me ofereceu nem água para lavar os pés (era tradição oferecer água para lavagem dos pés aos convidados, uma vez que se andava de sandálias por ruas de terra). Você não me ungiu a cabeça com óleo perfumado (tradição dos ricos para com seus convidados ilustres) e ela gastou seu perfume nos meus pés (mostrando que ela se propunha a gastar até mesmo nos pés o que era para a cabeça!). Você não me beijou ao entrar (outra tradição para com convidados ao momento de maior intimidade que um judeu pode oferecer – chamar para uma refeição), mas ela não cansa de beijar os meus pés, depois de os enxugar de suas lágrimas sinceras de arrependimento por sua vida. Para quem foi muito perdoado, Simão, é normal mostrar mais amor, por isso essa mulher teve todos os pecados perdoados, uma vez que mostra que sabe amar sinceramente uma pessoa”.
Em dias como os de hoje, onde se tem “muita intimidade” com Jesus, chamando-o das maneiras mais variadas; em que se ouve CDs gospel aos borbotões; em que se tem simpatia pelo movimento evangélico ou se vai vez por outra a um culto, é natural vermos pessoas que têm “grande intimidade” com Jesus, mas que não o conhecem de fato. Essa era a situação de Simão; convidou o mestre para o momento de maior intimidade na vida de um judeu, mas não sabia nem se o convidado era profeta ou não! Nem conhecia de fato quem estava se achegando à sua mesa.
Tinha intimidade – ou a provocava – com alguém que não se deu ao luxo de saber quem realmente era, ao fim e ao cabo. Penso, por tudo isso, que ser “íntimo” das coisas de Deus, não faz de alguém verdadeiramente conhecedor do mesmo.
Os atos esquecidos por Simão foram os mais básicos de uma relação de proximidade: água para os pés, beijo de boas-vindas e perfume para mostrar honra. É muito natural vermos pessoas que têm Jesus como algo muito precioso, mas que se esquecem dos atos mais básicos de uma verdadeira espiritualidade. Vemos crentes praticamente “voando” nos cultos pseudo-evangélicos, mas os vemos fechando os vidros de seus carrões, para não ter de dividir a “bênção que Deus deu” com os mais “pobres e sujos” da igreja. Mas a prova da salvação está justamente nisso; na capacidade de exercitar fé e de amar, lembrando dos atos mais básicos que uma verdadeira espiritualidade oferece.
O texto diz que a fé salvou a mulher de má fama. A independer de sua vida, aquela mulher conhecia Jesus e por isso fez o que fez. Não faria se não tivesse a absoluta certeza de que se derramava diante de um profeta. Ou melhor, do profeta; aquele que pode perdoar a salvar.
E é por isso que digo sempre; não é difícil saber se alguém é salvo. Basta ver a capacidade de exercitar fé e de amar; quem, com fé, ama muito, foi muito perdoado e, por fim, salvo. Quem não exercita fé e ama pouco, foi pouco perdoado e não foi salvo. Simples assim. Você foi salvo?
liberdade, beleza e Graça...
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
"Quem vai prender o Gilmar Mendes?"
Uma das melhores leituras dos últimos dias foi a entrevista dada pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz à sempre excelente revista Caros Amigos (edição de dezembro de 2008). Sempre indico essa revista aos meus alunos, dizendo que ela é “uma ótima opção para saber mais e ficar mais triste”. O conhecimento das coisas dessa nossa história traz sempre consigo uma boa dose de tristeza. É uma escolha de Sophia essa de saber e se entristecer, ou se alienar, conseguindo assim ser menos triste. É uma sinuca de bico mesmo.
O delegado Protógenes é um daqueles homens raros hoje em dia. Daqueles que parecem ter lido a Bíblia Sagrada e entendido o que é agradar a Deus, refutando a corrupção.
Acreditando em coisas que podem não ser mais valiosas hoje em dia, Queiroz deixou a função de advogado, com a qual estava já ganhando um bom dinheiro, e fez concurso para a Polícia Federal, visando trabalhar em um campo deveras minado; investigar caixa-dois, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série enorme de outros “crimes de colarinho branco”.
Começando pelo Acre, e dando de frente com o ex-deputado Hildebrando Pascoal (o do massacre da serra elétrica, lembra?), e chegando aos criminosos chamados “peixes grandes” no sul e sudeste do país, Protógenes Queiroz investiu numa busca inédita.
O delegado prendeu nada menos do que o contrabandista Law Kim Chong, o Paulo Maluf, o Celso Pitta, o Naji Nahas e muitos outros “acima da lei”, como, finalmente, e com a Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Mas, apesar dessa maravilhosa empreitada em torno de “peixes grandes”, o delegado é que acabou sendo afastado do cargo, acusado de “usar de artifícios ilegais” pelos que defendem o bando acima citado. Protógenes foi afastado do cargo, mas, como descobriram que estava tudo dentro da legalidade, não o puderam expulsar, recolocando-o, numa transferência para um cargo apenas burocrático dentro da PF.
Dentre os mais escabrosos assuntos desse corajoso delegado, aparecem informações que de fato não teriam como não entristecer a qualquer alma viva. A narração do envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na ratificação da invenção da dívida externa brasileira, para beneficiar amigos corruptos, foi de arrepiar os pelos dos ouvidos daqueles que ainda são crédulos em alguma coisa nesse país.
Mas o pior mesmo foi saber que o Daniel Dantas não ficará preso por ter vários “tubarões” nas mãos. Isso, sim, assusta e tira o último fio de esperança de que esse país possa um dia dar certo. Tudo porque o Gilmar Mendes (presidente do Supremo Tribunal Federal), aquele que sempre manda soltar o senhor Dantas (e não sabíamos por que razões até dia desses), também está envolvido até o pescoço em atos de corrupção.
Gilmar Mendes nada mais é do que um empresário que faturou entre os anos de 2000 e 2008 a bagatela de 2 milhões e meio de reais em serviços prestados a órgãos federais, sendo que as contratações foram feitas sem licitação! Isso deu na também excelente revista Carta Capital. O presidente do STF é irmão de Francisco Mendes, o ex-prefeito de Diamantino, cidade próxima a Cuiabá, no Mato Grosso, que ganhou a ajuda do irmão mais velho (o nosso Gilmar) para usar a máquina pública e suas autoridades para a manutenção no poder de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar. A tal oligarquia Mendes tem, como todas elas, assassinatos e corrupção de toda natureza em seu “currículo”, só que o “mais velho” é simplesmente o presidente do órgão jurídico máximo dessa República de Bruzundangas.
A Caros Amigos e a Carta Capital me abriram mais os olhos e contribuíram ainda mais para o entristecimento da vida minha. Mas prefiro assim; ser triste, mas saber. Embora confesse que para uma pergunta não encontrarei resposta jamais: "Quem vai prender o Gilmar Mendes?".
liberdade, beleza e Graça...
O delegado Protógenes é um daqueles homens raros hoje em dia. Daqueles que parecem ter lido a Bíblia Sagrada e entendido o que é agradar a Deus, refutando a corrupção.
Acreditando em coisas que podem não ser mais valiosas hoje em dia, Queiroz deixou a função de advogado, com a qual estava já ganhando um bom dinheiro, e fez concurso para a Polícia Federal, visando trabalhar em um campo deveras minado; investigar caixa-dois, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série enorme de outros “crimes de colarinho branco”.
Começando pelo Acre, e dando de frente com o ex-deputado Hildebrando Pascoal (o do massacre da serra elétrica, lembra?), e chegando aos criminosos chamados “peixes grandes” no sul e sudeste do país, Protógenes Queiroz investiu numa busca inédita.
O delegado prendeu nada menos do que o contrabandista Law Kim Chong, o Paulo Maluf, o Celso Pitta, o Naji Nahas e muitos outros “acima da lei”, como, finalmente, e com a Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Mas, apesar dessa maravilhosa empreitada em torno de “peixes grandes”, o delegado é que acabou sendo afastado do cargo, acusado de “usar de artifícios ilegais” pelos que defendem o bando acima citado. Protógenes foi afastado do cargo, mas, como descobriram que estava tudo dentro da legalidade, não o puderam expulsar, recolocando-o, numa transferência para um cargo apenas burocrático dentro da PF.
Dentre os mais escabrosos assuntos desse corajoso delegado, aparecem informações que de fato não teriam como não entristecer a qualquer alma viva. A narração do envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na ratificação da invenção da dívida externa brasileira, para beneficiar amigos corruptos, foi de arrepiar os pelos dos ouvidos daqueles que ainda são crédulos em alguma coisa nesse país.
Mas o pior mesmo foi saber que o Daniel Dantas não ficará preso por ter vários “tubarões” nas mãos. Isso, sim, assusta e tira o último fio de esperança de que esse país possa um dia dar certo. Tudo porque o Gilmar Mendes (presidente do Supremo Tribunal Federal), aquele que sempre manda soltar o senhor Dantas (e não sabíamos por que razões até dia desses), também está envolvido até o pescoço em atos de corrupção.
Gilmar Mendes nada mais é do que um empresário que faturou entre os anos de 2000 e 2008 a bagatela de 2 milhões e meio de reais em serviços prestados a órgãos federais, sendo que as contratações foram feitas sem licitação! Isso deu na também excelente revista Carta Capital. O presidente do STF é irmão de Francisco Mendes, o ex-prefeito de Diamantino, cidade próxima a Cuiabá, no Mato Grosso, que ganhou a ajuda do irmão mais velho (o nosso Gilmar) para usar a máquina pública e suas autoridades para a manutenção no poder de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar. A tal oligarquia Mendes tem, como todas elas, assassinatos e corrupção de toda natureza em seu “currículo”, só que o “mais velho” é simplesmente o presidente do órgão jurídico máximo dessa República de Bruzundangas.
A Caros Amigos e a Carta Capital me abriram mais os olhos e contribuíram ainda mais para o entristecimento da vida minha. Mas prefiro assim; ser triste, mas saber. Embora confesse que para uma pergunta não encontrarei resposta jamais: "Quem vai prender o Gilmar Mendes?".
liberdade, beleza e Graça...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
“A crise econômica e um neokeynesianismo possível”
A crise econômica que atualmente abala todo o mundo, após ter surgido nos Estados Unidos, está sendo comparada à grande crise surgida em 1929. Guardadas as devidas proporções, elas realmente se identificam. Porém, é preciso diferenciá-las onde isso é evidente e buscar saídas como as que funcionaram na década de 1930.
A grande diferenciação diz respeito à natureza das duas crises. Em 1929, a crise foi por excesso de oferta. A atual crise, começada em 2008, é uma crise de confiança na capacidade de pagamentos, restringindo posteriormente o crédito.
O economista John Maynard Keynes foi o grande pensador da crise naquele contexto depressivo nos anos 1930. Keynes contrariou a Lei de Say (“a oferta gera a sua própria demanda”), estabelecendo a demanda como geradora de oferta.
Para corroborar sua tese, Keynes apresentou um fator não levado em consideração até então; a expectativa dos atores econômicos. Por tal pensar, foi possível verificar que as “profecias”, em se tratando de expectativas econômicas, sempre se auto-cumprirão. Desse modo, ao se pensar que a situação será pior no futuro, e se externar tal crença e expectativa, a situação realmente piora, tendo em vista o fato de os demandantes não consumirem o suficiente, gerando com isso um ciclo recessivo, com demissões e menor produção.
A tendência à recessão tomou a todos, mas não atingiu a URSS daqueles anos. Observando isso, Keynes propôs uma intervenção estatal – negando a lógica smithiana e clássica de mercado onipotente e livre para tudo –, e defendendo que se o Estado interviesse, controlando o mercado e passando a gastar mais, os empresários produziriam para dar conta de tal demanda, admitiriam mais funcionários, voltando esses trabalhadores a consumir, ratificando o que foi chamado de “multiplicador keynesiano".
É sabido por muitos que o Estado interveio, universalizando (estatizando!) muitos serviços e, de fato, tirando os Estados Unidos daquela terrível crise, instituindo posteriormente os que vieram a ser chamados de "anos de ouro".
Porém, tal postura intervencionista - contrária ao liberalismo vigente na época -, com o tempo, mostrou-se também esgotada, pois o Estado ficou "inchado" e "pesado", oferecendo serviços de qualidade cada vez pior, e admitindo também grande margem para a corrupção. Mesmo assim, conseguiu responder positivamente em um momento de grave crise, além de ter possibilitado ganhos para os trabalhadores, através de um corpo de leis trabalhistas bastante relevante e uma política muito importante na área do bem-estar social, conhecida como welfare state.
No atual sistema econômico, depois de as instituições terem feito e acontecido numa política neoliberal tipo laissez-faire ("o mercado pode tudo"), que acabou por gerar verdadeiros cassinos irresponsáveis na economia mundial, parece ser a hora de uma nova intervenção estatal séria; um possível neokeynesianismo. A palavra estatização, tida como proibida por muito tempo, pois remetia ao "fantasma comunista", parece que voltará à moda com força e apoio. E, é certo, ninguém vai reclamar, pois todo mundo está querendo uma "doaçãozinha" dos governos. Quem diria...
liberdade, beleza e Graça...
A grande diferenciação diz respeito à natureza das duas crises. Em 1929, a crise foi por excesso de oferta. A atual crise, começada em 2008, é uma crise de confiança na capacidade de pagamentos, restringindo posteriormente o crédito.
O economista John Maynard Keynes foi o grande pensador da crise naquele contexto depressivo nos anos 1930. Keynes contrariou a Lei de Say (“a oferta gera a sua própria demanda”), estabelecendo a demanda como geradora de oferta.
Para corroborar sua tese, Keynes apresentou um fator não levado em consideração até então; a expectativa dos atores econômicos. Por tal pensar, foi possível verificar que as “profecias”, em se tratando de expectativas econômicas, sempre se auto-cumprirão. Desse modo, ao se pensar que a situação será pior no futuro, e se externar tal crença e expectativa, a situação realmente piora, tendo em vista o fato de os demandantes não consumirem o suficiente, gerando com isso um ciclo recessivo, com demissões e menor produção.
A tendência à recessão tomou a todos, mas não atingiu a URSS daqueles anos. Observando isso, Keynes propôs uma intervenção estatal – negando a lógica smithiana e clássica de mercado onipotente e livre para tudo –, e defendendo que se o Estado interviesse, controlando o mercado e passando a gastar mais, os empresários produziriam para dar conta de tal demanda, admitiriam mais funcionários, voltando esses trabalhadores a consumir, ratificando o que foi chamado de “multiplicador keynesiano".
É sabido por muitos que o Estado interveio, universalizando (estatizando!) muitos serviços e, de fato, tirando os Estados Unidos daquela terrível crise, instituindo posteriormente os que vieram a ser chamados de "anos de ouro".
Porém, tal postura intervencionista - contrária ao liberalismo vigente na época -, com o tempo, mostrou-se também esgotada, pois o Estado ficou "inchado" e "pesado", oferecendo serviços de qualidade cada vez pior, e admitindo também grande margem para a corrupção. Mesmo assim, conseguiu responder positivamente em um momento de grave crise, além de ter possibilitado ganhos para os trabalhadores, através de um corpo de leis trabalhistas bastante relevante e uma política muito importante na área do bem-estar social, conhecida como welfare state.
No atual sistema econômico, depois de as instituições terem feito e acontecido numa política neoliberal tipo laissez-faire ("o mercado pode tudo"), que acabou por gerar verdadeiros cassinos irresponsáveis na economia mundial, parece ser a hora de uma nova intervenção estatal séria; um possível neokeynesianismo. A palavra estatização, tida como proibida por muito tempo, pois remetia ao "fantasma comunista", parece que voltará à moda com força e apoio. E, é certo, ninguém vai reclamar, pois todo mundo está querendo uma "doaçãozinha" dos governos. Quem diria...
liberdade, beleza e Graça...
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
“Weber e a militarização da sociedade civil”
Uma das maiores contribuições de Max Weber à Sociologia diz respeito à análise da militarização da sociedade civil, feita por ele quando da unificação da Alemanha, no final do século XIX. Percebendo a eficiência do exército prussiano – que fora considerado superior aos exércitos francês e britânico em termos de coesão – Weber percebe uma lógica mais rigorosa nas obrigações de cada patente na cadeia de comando.
Esse modelo eficiente de gestão passa a permear a lógica das empresas e instituições da sociedade civil alemã, gerando – em nome da paz, segundo Bismarck – uma sociedade pronta para viver sem grandes conflitos e prevenindo-se da revolução.
A tal lógica militar tinha tudo para ser considerada “dura demais”, porém, Weber notou que ao perceberem que ocupavam uma posição clara e bem estabelecida na sociedade, dificilmente os trabalhadores se propunham a se revoltar contra o sistema e contra os donos do poder. Como num campo de batalha, esses “soldados” têm de obedecer mesmo sabendo que vão morrer. O pacto social, tal como no exército, tem de ser absoluto. Às vezes, o superior não tem razão, mas tem de ser obedecido. É a lógica.
O sociólogo Joseph Schumpeter defendeu que esse modelo militarizado dava mesmo lucro, pois cedeu lugar para que os investidores passassem a trabalhar com resultados mais previsíveis em longo prazo, já que não contariam com nenhuma grande insurreição da parte dos trabalhadores. O lucro não ficou para segundo plano, mas cedeu lugar a um cálculo prospectivo, muito mais lógico em um momento de investimentos em infraestrutura como a construção de ferrovias e de sistemas de transporte urbano.
É claro que podemos pensar “mas onde entra o trabalhador corroborando essa lógica?”. Não é tão difícil aceitar isso, visto que a busca de sindicatos e associações de trabalhadores era a estabilidade dos empregos, garantindo a posição dos trabalhadores.
Segundo a análise do sociólogo Richard Sennett, acerca da percepção de Weber; “O trabalhador passa a perceber sua vida como uma narrativa. Tornou-se possível definir como deveriam ser as etapas de uma carreira, relacionando um longo percurso de prestação de serviços numa empresa a passos específicos de acumulação de riquezas”. Enfim, muitos trabalhadores braçais eram então capazes de planejar a construção de suas casas, por exemplo. Em uma análise em economia política, então, Weber sustentava que o exército constitui um modelo mais lógico da modernidade que o próprio mercado!
A busca desenfreada de um emprego público – que fez surgir uma bolha de cursinhos preparatórios extremamente lucrativos em todo o país –, intentando estabilidade e manutenção de uma posição é um sintoma dessa lógica militar. A seguir-se esse modelo, continuaremos a ter uma sociedade militarizada e com indivíduos mais preocupados em manter seu posto e as ordens recebidas, sem nenhuma contestação ao estado de coisas imposto. Instituiremos o primado da voz sem vez. Seremos a “sociedade militarizada da paz”. Só que da paz sem voz. Mas paz sem voz não é paz, é medo.
liberdade, beleza e Graça...
Esse modelo eficiente de gestão passa a permear a lógica das empresas e instituições da sociedade civil alemã, gerando – em nome da paz, segundo Bismarck – uma sociedade pronta para viver sem grandes conflitos e prevenindo-se da revolução.
A tal lógica militar tinha tudo para ser considerada “dura demais”, porém, Weber notou que ao perceberem que ocupavam uma posição clara e bem estabelecida na sociedade, dificilmente os trabalhadores se propunham a se revoltar contra o sistema e contra os donos do poder. Como num campo de batalha, esses “soldados” têm de obedecer mesmo sabendo que vão morrer. O pacto social, tal como no exército, tem de ser absoluto. Às vezes, o superior não tem razão, mas tem de ser obedecido. É a lógica.
O sociólogo Joseph Schumpeter defendeu que esse modelo militarizado dava mesmo lucro, pois cedeu lugar para que os investidores passassem a trabalhar com resultados mais previsíveis em longo prazo, já que não contariam com nenhuma grande insurreição da parte dos trabalhadores. O lucro não ficou para segundo plano, mas cedeu lugar a um cálculo prospectivo, muito mais lógico em um momento de investimentos em infraestrutura como a construção de ferrovias e de sistemas de transporte urbano.
É claro que podemos pensar “mas onde entra o trabalhador corroborando essa lógica?”. Não é tão difícil aceitar isso, visto que a busca de sindicatos e associações de trabalhadores era a estabilidade dos empregos, garantindo a posição dos trabalhadores.
Segundo a análise do sociólogo Richard Sennett, acerca da percepção de Weber; “O trabalhador passa a perceber sua vida como uma narrativa. Tornou-se possível definir como deveriam ser as etapas de uma carreira, relacionando um longo percurso de prestação de serviços numa empresa a passos específicos de acumulação de riquezas”. Enfim, muitos trabalhadores braçais eram então capazes de planejar a construção de suas casas, por exemplo. Em uma análise em economia política, então, Weber sustentava que o exército constitui um modelo mais lógico da modernidade que o próprio mercado!
A busca desenfreada de um emprego público – que fez surgir uma bolha de cursinhos preparatórios extremamente lucrativos em todo o país –, intentando estabilidade e manutenção de uma posição é um sintoma dessa lógica militar. A seguir-se esse modelo, continuaremos a ter uma sociedade militarizada e com indivíduos mais preocupados em manter seu posto e as ordens recebidas, sem nenhuma contestação ao estado de coisas imposto. Instituiremos o primado da voz sem vez. Seremos a “sociedade militarizada da paz”. Só que da paz sem voz. Mas paz sem voz não é paz, é medo.
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